Tuesday, December 8, 2015

Carta de Kumi Naidoo para Dilma Rousseff

O diretor executivo do Greenpeace Internacional enviou uma carta à presidente do Brasil pedindo a tomada de medias para combater as mudanças climáticas. "Já estamos demorando demais para fazer o que é necessário", disse 
 

Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace Internacional, fala durante a COP 21, em Paris
Paris, 8 de dezembro de 2015

Cara Presidente Dilma Rousseff,

Nos encontramos pela última vez em 2009, quando visitei o Brasil e conversamos sobre os desafios ambientais prementes que todos enfrentamos, e sobre as muitas soluções que já vemos sendo desenvolvidas e se fortalecendo.

Eu venho da África do Sul, onde enfrentei os horrores do apartheid. Por lutar contra os opressores do nosso povo, eu e milhares de irmãos e irmãs sofremos com abusos e repressão. No Brasil, você enfrentou a crueldade da ditadura. Por lutar contra os opressores do seu povo, você também foi condenada a um destino semelhante.

Agora, temos de enfrentar juntos um desafio que oprime pessoas, não só em nossos países, mas em todo o mundo. Esse desafio são as mudanças climáticas. É o maior desafio que enfrentamos a nível global, trazendo riscos para todos, e impactando mais severamente os mais pobres e marginalizados. As mudanças climáticas já mostram sua cara em um número crescente de eventos naturais extremos, como secas, inundações, furacões e um ameaçador aumento do nível do mar, todos com terríveis consequências para as pessoas e para a economia.

Somente ações concretas e tomadas em conjunto nos farão superar esse desafio. Podemos, e devemos, realizar tais ações. Já está provado que soluções para as mudanças climáticas seriam positivas para toda a sociedade, mesmo sem considerar os impactos de eventos naturais extremos. Quando adicionamos à equação o risco desses impactos, soluções urgentes tornam-se claramente o único caminho a seguir. Já estamos demorando demais para fazer o que é necessário.

O Brasil sempre foi um ator chave nas negociações de mudanças climáticas das Nações Unidas. Eu te vi liderando a delegação brasileira em 2009, quando o país apresentou compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa, baseado principalmente no combate ao desmatamento.

Eu escrevo esta carta de Paris, onde caminhamos para os últimos dias de uma conferência que deve levar a um importante acordo com medidas firmes visando barrar o aquecimento global. Aqui, o Brasil é um dos países formalmente responsáveis por mediar discussões entre governos, e eu parabenizo seu governo por ter sido escolhido para essa importante tarefa.

Como você sabe, há um debate em Paris sobre o limite máximo de aquecimento global aceito pelos países: se deve ser fixado em 1,5°C ou 2°C, e se governos devem definir uma meta de descarbonização da economia rumo a 100% energias renováveis até 2050 ou até o final do século. Você já demonstrou apoio à descarbonização publicamente. Agora, espero que considere a situação das pessoas mais vulneráveis no Brasil e ao redor do mundo, e eleve a ambição das negociações na ONU defendendo fortemente a meta de longo prazo de descarbonização, rumo a 100% energias renováveis para todos até 2050.

Você também já discursou a favor de um acordo em que os países deverão rever e aumentar o nível de ambição dos seus compromissos nacionais a cada cinco anos. Eu, pessoalmente, te parabenizo pela firmeza em relação à questão. E te peço que dê um passo além e demande que a primeira revisão aconteça já em 2018, antes de o acordo entrar em vigor, em 2020. Essa seria a melhor maneira de manter viva a possibilidade do aquecimento global não superar 1,5°C.
O Brasil tem um enorme potencial para liderar o enfrentamento às mudanças climáticas. Pode se tornar a primeira grande economia a ter uma matriz energética 100% renovável. Também está ao alcance do Brasil a possibilidade de zerar todas as formas de desmatamento até 2020 (um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas), dando um exemplo para o mundo. Ação em ambas as frentes podem e devem ser implementadas, uma vez que beneficiariam as pessoas, o meio ambiente e a economia.

Não temos tempo a perder. Mais do que nunca, a missão de trabalhar a favor de nossos países e das pessoas mais pobres e vulneráveis ao redor do mundo exige ações urgentes. Precisamos responder ao desafio de maneira verdadeiramente ambiciosa. Por favor, demonstre firme liderança neste momento. Bilhões de pessoas, incluindo aquelas que ainda nem nasceram, serão profundamente gratas.

Cordialmente,

Kumi Naidoo
Diretor executivo do Greenpeace Internacional

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