Protocolada na segunda feira, dia 27, a carta enviado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) cobra a ministra Izabella Teixeira sobre a ausência de representantes titulares e suplentes, sendo duas na Coordenação-Geral da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e outras duas na comissão de movimentos sociais.
Com isso, as vozes contra transgênicos vêm perdendo cada vez mais força. Nos últimos anos, vários organismos transgênicos foram aprovados pelo MME, mesmo com as ausências constatadas – essas essenciais para que o processo de avaliação dos transgênicos fosse bem desenvolvido.
Leia a carta na íntegra:
Brasília, 24 de outubro de 2014
À Exma. Sra. Izabella Teixeira
Ministra do Meio Ambiente
Sra. Ministra,
Desde o final de 2013, o MMA está sem representante titular e, desde 2011, sem suplente na CTNBio, importante comissão que decide sobre a liberação no meio ambiente de transgênicos em nosso país. Soma-se a isso a vacância de outros dois assentos, de titular e suplente, que deveriam representar os movimentos sociais ambientalistas, também a ser indicados por intermédio do Ministério que a Senhora dirige. Assim, são quatro assentos vagos responsáveis pela área ambiental em uma comissão que tem ao todo 54 membros, considerando titulares e suplentes.
Nesses últimos anos, vários organismos transgênicos foram liberados para plantio ou uso comercial, em culturas como soja, milho e algodão, além de vacinas e um mosquito Aedes aegipty,também geneticamente modificado, sem que o MMA tenha participado das análises de risco e se manifestado sobre seus impactos ambientais. De igual maneira, o Ministério e os representantes da sociedade civil especialistas em meio ambiente têm estado ausentes dos debates e decisões acerca das árvores geneticamente modificadas. Nesse meio tempo, plantas espontâneas e insetos desenvolveram resistências aos agrotóxicos e inseticidas associados às variedades modificadas, levando a um aumento expressivo do uso de agrotóxicos e contribuindo para que o Brasil continue a ser o campeão mundial no seu uso. Também devido ao desenvolvimento de resistência, há agora o perigo muito concreto de que a CTNBio aprove uma nova geração de variedades de soja e milho transgênicos que recorrerá a um agrotóxico muito mais perigoso, o 2,4-D, cuja liberação no meio ambiente pode dar origem a dioxinas. Outras consequências ambientais nefastas da liberação de transgênicos no meio ambiente não estão sendo adequadamente investigadas dado o viés francamente favorável a essa tecnologia por parte dos biotecnólogos que constituem a maioria dos membros da CTNBio.
Muito preocupante foi a forma como a CTNBio aprovou recentemente a tecnologia altamente duvidosa de introduzir mosquitos transgênicos com o objetivo de combater a dengue no país, sem que fossem discutidos aspectos ambientais sobre os quais o MMA teria muito a dizer, como a questão do saneamento ambiental e do controle biológico de pragas. Também nos preocupa imensamente a possibilidade de que o Brasil seja o primeiro país do mundo a liberar comercialmente eucaliptos transgênicos com todos os impactos incomensuráveis e irreversíveis sobre as abelhas e o mel e própolis por elas produzidos. A Audiência Pública organizada pela CTNBio a pedido da empresa Futuragene&Susano sobre o eucalipto transgênico H421, no dia 4 de setembro de 2014, evidenciou o poderoso lobby da empresa e a franca disposição da maioria dos membros da CTNBio em aprová-lo.
Nesse contexto, a duradoura ausência do MMA e dos especialistas em meio ambiente na CTNBio é mais do que uma simples omissão. Como disse Hannah Arendt, em outras circunstâncias, “a omissão em política é cumplicidade”. Por isso, as entidades e ambientalistas abaixo assinados pedem que a Senhora nomeie o mais rápido possível os representantes do MMA para a CTNBio, bem como publique Edital solicitando a indicação de nomes para representar os movimentos sociais na comissão, na categoria de “especialistas em meio ambiente”.
Esperando que nossa carta receba a atenção que ela merece,
Entidades |
Agricultura Familiar e Agroecologia - AS-PTA |
Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária - AMAR |
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida - Apremavi |
Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte - APROMAC |
Associação de Saúde Ambiental - TOXISPHERA |
Associação Mineira de Defesa do Ambiente – Amda |
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida |
Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul-CEPEDES |
Conselho de Assentamentos Sustentáveis das Américas - CASA |
Conservation Strategy Fund - CSF |
Cooperativa de Produtores Orgânicos do Paraná - COOPERORGÂNICOS |
Federação Paranaense de Entidades Ambientalistas - FEPAM |
Fórum Ambientalista |
Fórum do Movimento Ambientalista de Minas Gerais |
Fórum do Movimento Ambientalista de Santa Catarina |
Fórum do Movimento Ambientalista do Mato Grosso do Sul |
Fórum do Movimento Ambientalista do Paraná |
Fórum do Movimento Ambientalista do Rio de Janeiro |
Fórum do Movimento Ambientalista do Rio Grande do Sul |
Fundação Aninpa Brasil |
Greenpeace |
Grupo Ambientalista da Bahia – Gambá |
Instituto Biorregional do Cerrado – IBC |
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - Idec |
Instituto Centro de Vida – ICV |
Instituto Palmares |
Instituto Sociedade, População e Natureza - ISPN |
Instituto Socioambiental - ISA |
Intersindical BA |
Rede de OnGs da Mata Atlântica |
Rede Global de Ecovilas – GEN |
Rede Sul Brasileira de Produção Agrícola Familiar |
|
Pesquisadores Paulo Kageyama |
Cristina Mendes Curto |
Débora Fernandes Calheiros |
José Maria Guzman Ferraz |
Leonardo Melgarejo |
Liszt Vieira |
Marijane Vieira Lisboa |
Norma Valencio |
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