A Itália está em fase final de implementação das regras previstas pela União Europeia sobre a comercialização do produto. A mudança deve dificultar a entrada de madeira ilegal no mercado italiano
Ativistas do Greenpeace Brasil estenderam a faixa com os dizeres
"Lavando madeira para Fora", durante protesto realizado em uma serraria
próxima de Belém, capital do Pará. Por dois anos o Greenpeace investigou
a atuação do setor madeireiro na Amazônia, onde identificou vários
tipos de fraude usadas para "esquentar" a madeira extraída ilegalmente.
Muita desta madeira acaba indo para o mercado externo. (© Marizilda
Cruppe / Greenpeace)
A Itália entrou em fase final de implementação da European Union Timber Regulation (EUTR – Regulamentação da Madeira da União Europeia
), que traz um conjunto de normas e penalidades para coibir a venda de
produtos e subprodutos de madeira extraída ilegalmente. O País estava
entre os poucos membros da União Europeia (UE) que ainda não haviam
incorporado as regras.
Os critérios para regular o comércio de madeira na UE foram
estabelecidos em 2010, pelo Parlamento Europeu. O regulamento é
juridicamente vinculativo para todos os 28 Estados-Membros da UE, o que
quer dizer que as regras devem ser incorporadas a constituição de cada
país. Cada membro, por sua vez, fica responsável por estabelecer as
sanções efetivas, proporcionais e dissuasivas e pelo cumprimento do
regulamento.
Com a vinculação das novas regras a constituição italiana passa a
prever: o confisco da madeira comercializada ilegalmente, a aplicação de
multas e até prisão para operadores envolvidos com a venda de produtos
ilegais, do ponto de vista ambiental.
De acordo com Esperanza Mora, da campanha de Florestas do Greenpeace
Itália, as regras já entraram em vigor, mas ainda será preciso
regulamentar alguns pontos, o que levará aproximadamente 60 dias .
“Esperamos que esses decretos adicionais sejam publicados o mais cedo
possível para evitar mais atrasos”, disse.
Toda madeira considerada ilegal será confiscada, com aplicação de
multa de € 2 mil a € 50 mil, por apreensão, e possível detenção, de 1
mês a 1 ano. Operadoras flagradas atuando sem o registro exigido pela
lei serão multadas, entre € 500 e € 1,2 mil, a regra, entretanto, não
condiciona ao registro obrigatório depois da penalidade.
Enquanto isso o Brasil continua boiando
A Europa é o maior mercado mundial de madeira e, como tal, tem
mostrado sua preocupação quanto a extração ilegal do produto e seus
impactos. Para combater isso, em 2003 a UE criou um pacto para promover a
governança adequada das florestas e minimizar os impactos ambientais,
econômicos e sociais da atividade madeireira ilegal.
Os Países que aderem ao EU Forest Law Enforcement, Governance and
Trade (FLEGT – Legislação de florestas, governança e comércio) devem se
adequar, implementando sistemas eficazes de rastreio, com fornecimento
de informações para um banco de dados comum. O Brasil, entretanto, não
participa do pacto.
Atitude esperada, já que tem deixado de se posicionar com rigor
diante dos problemas ocasionados pela madeira ilegal, especialmente na
Amazônia.
Atualmente 20% da produção nacional de madeira é destinada ao mercado
exterior. Segundo dados do Imazon, de 2011 a 2012, 78% da área
explorada no Pará era ilegal. O Estado é o maior produtor de madeira do
País. Ou seja, boa parte do produto extraído no Brasil pode vir a ser
descoberto ilegal na Europa.
Infelizmente, o sistema atual de monitoramento e gestão de manejo
florestal do Brasil tem se mostrado ineficiente em conter a exploração
ilegal. Em maio deste ano o Greenpeace lançou a campanha Chega de Madeira Ilegal,
sendo que a investigação foi baseada em casos que expõem as maneiras
mais comuns de “lavar” madeira extraída ilegalmente na região, com a
ajuda do próprio sistema que é repleto de falhas e permite fraudes
gravíssimas, ao invés de fazer justamente o contrário: coibir a
comercialização do produto ilegal.
Para Marina Lacôrte, da campanha Amazônia do Greenpeace, se o Brasil
não passar a levar a sério o problema e começar a agir, o País não terá
apenas uma grande perda ambiental, mas também econômica. “Os países lá
fora estão começando a tomar atitudes para não serem contaminados com
madeira ilegal. Com a implementação de normas, como as da EUTR, quem
importou madeira do Brasil, e for considerado suspeito, pode sofrer
consequências graves o que possivelmente influenciará o mercado”,
afirma. “Se o governo brasileiro também não se mexer, no longo prazo irá
perder a floresta e sua biodiversidade e, no curto prazo, possivelmente
perderá espaço no mercado”, completa.
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