Depois da publicação da nova investigação do Greenpeace, que mostrou a
madeira ilegal entrando nas serrarias e no mercado, o assunto entrou em
pauta na Europa e em Israel.
A serraria Odani, localizada em Placas, no Pará, está ligada a extração
e
processamento de madeira ilegal. A empresa fornece para negociadoras
do
mundo todo. (© Lunae Parracho/ Greenpeace).
Após investigação do Greenpeace, que rastreou caminhões carregando
madeira ilegal para dentro de serrarias em Santarém, no Pará, o mercado
internacional começou a reagir. Esta é a segunda vez, apenas este ano,
que o Greenpeace expôs as fraudes que tornam a cadeia produtiva de
madeira do Brasil suja e ilegal.
Depois da publicação do relatório,
empresas da Europa começaram a entender a gravidade do problema e a
questionar o processo. A empresa holandesa Stiho, que trabalha com
produtos de madeira, disse que irá parar imediatamente de comprar da
empresa Rainbow Trading, uma das “lavanderias” de madeira ilegal exposta
na investigação do Greenpeace.
A empresa exportadora Rainbow Trading recebeu madeira ilegal
diretamente de um dos caminhões monitorados durante a investigação. Além
disso, ela comprou madeira de uma serraria com a cadeia contaminada, a
Comercial de Madeiras Odani. A Odani, também foi identificada na
investigação do Greenpeace e foi a primeira a ser vistoriada, multada e a
ter madeira apreendida pela SEMA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente
do Pará), que iniciou uma operação para apurar a denúncia.
Nos últimos sete anos a Rainbow Trading foi multada doze vezes pelo
IBAMA e ainda soma mais de R$ 400 mil em multa não pagas. Ela afirma que
a maior parte da madeira que recebeu este ano veio de 5 propriedades
privadas com planos de manejo florestal aprovados. De acordo com
análises de imagem de satélite, entretanto, em duas das propriedades
indicadas não foi detectada exploração. Mesmo nas áreas onde foi
observado traços de exploração, é fundamental que a SEMA vá a campo para
averiguar a real exploração e cruza-la com a movimentação de créditos,
já que a investigação do Greenpeace sugere que a documentação oficial
desses planos está servindo apenas para esquentar madeira extraída
ilegalmente de outro lugar.
Em um destes Planos de Manejo, por exemplo, houve uma enorme inflação
de créditos no inventário florestal (i.e. relação das árvores a serem
exploradas e seu respectivo volume, que é convertido em créditos), e
isto referente apenas à espécie mais valiosa do mercado atualmente, o
Ipê. A quantidade de créditos encontrada ultrapassa muito os padrões
normais. Nesse mesmo plano, é impossível fazer a distribuição espacial
das áreas de exploração, por conta de informações geográficas
incompletas. Isto dificulta muito a vistoria e fiscalização, já que para
chegar às árvores é necessário ter essa distribuição espacial exata.
Este plano é um exemplo típico de fraude que acaba colocando muita
madeira ilegal esquentada no mercado, e o pior, essas fraudes se passam
facilmente por “erros técnicos”.
Europa deve fechar as portas para empresas como a Rainbow Trading
Desde o lançamento da primeira investigação, em maio deste ano, o
Greenpeace vem alertando o mercado internacional sobre os problemas de
se confiar na documentação oficial e, consequentemente, na origem
madeira Amazônica brasileira, que deixa um rastro de violência e abre as
portas para o desmatamento. Ainda assim, empresas como a Rainbow
Trading continuam livres para fazer negócios com a Europa, por exemplo.
A União Europeia, desde março de 2013, impõe normas para coibir a
importação de madeira e derivados considerados ilegais, por meio da
regulamentação EUTR ou European Union Timber Regulation. O
bloco econômico obriga todos os 28 Estados-Membros da UE a incorporem
essas regras na constituição de cada país, que devem regulamentar a
norma de acordo com a sua realidade.
Só este mês, vários carregamentos de madeira da Rainbow Trading foram
entregues em Roterdã, com destino a Antuérpia. Um desses embarques
chegou no dia 10 de outubro, outro na semana seguinte. E é provável que
existam ainda mais embarques a caminho do continente.
Caminhão monitorado pelo Greenpeace trafega pela noite nas estradas
do
Pará para burlar a fiscalização. (© Otávio Almeida/Greenpeace).
De acordo com a EUTR, no caso da impossibilidade de assegurar a total
legalidade do produto, as empresas devem reduzir o risco de
contaminação da sua cadeia deixando de adquirir a madeira. Se o produto
vier de regiões não confiáveis, a madeira deve automaticamente ser
considerada de alto risco ou ilegal.
Mas slgumas empresas continuam a rejeitar os resultados das
investigações do Greenpeace e insistem em confiar na documentação
oficial. Talvez, elas prefiram acreditar na declaração dada pela SEMA ao
jornal britânico The Guardian, na semana passada, em relação à nossa
investigação: "Um novo sistema de licenciamento de registro e
monitoramento para exploração madeireira será implementado durante o
segundo semestre de 2015 ... de forma a coibir que empresas do setor
florestal adquiram madeira proveniente de áreas que foram exploradas
ilegalmente."
Ou talvez prefiram ainda a declaração do gerente da Serraria Odani,
Adonias Leite, para a TV Globo, durante a operação que vem sendo
realizada desde o lançamento do relatório: “A madeira a gente
recebe, mas não sabe dizer se eles tiraram do projeto ou de outro lugar,
a gente não sabe. A gente não vai lá ver”, disse o gerente.
“As empresas que compram madeira da Amazônia brasileira devem parar
de se esconder atrás de documentos oficiais. Se não estão dispostas a
assumir e levar a serio este desafio, devem então parar de comprar
madeira proveniente desta região, já que ao consumir essa madeira
assumem um risco alto demais.”, afirmou Marina Lacôrte, da Campanha
Amazônia do Greenpeace.
O fato de a Rainbow Trading continuar inserindo madeira ilegal no
mercado coloca em cheque a eficiência e o comprometimento quanto à norma
europeia. Até quando as autoridades vão fechar os olhos para o
problema, enquanto as mesmas empresas de sempre continuam a importar o
produto ilegal das mesmas serrarias de sempre? As autoridades
competentes dos países importadores precisam assumir urgentemente seu
papel e fazer cumprir suas leis, penalizando efetivamente aqueles que
não querem ou não conseguem aderir a elas.
Ação realizada nesta segunda-feira (27) pelo Greenpeace Israel em
frente a uma loja Home Center. (© Greenpeace).
As reações à campanha do Greenpeace vão além da Europa. Nesta
segunda-feira um grupo de ativistas do Greenpeace estendeu faixas na
entrada de uma das lojas da maior rede varejista de produtos para
construção de Israel, a Home Center, com os dizeres “Chega de Madeira Ilegal”.
De acordo com o Greenpeace de Israel, a empresa vinha comercializando
Ipê amazônico, extraído no Pará, estado onde até 80% de todo o produto
madeireiro é extraído de áreas consideradas ilegais, segundo o Imazon.
Depois da ação, a empresa se comprometeu a se posicionar sobre o
assunto.
Veja o site da campanha do Greenpeace Israel
E o Brasil? Vai fazer o que?
O governo brasileiro tem a obrigação de corrigir esse problema o
quanto antes, e para isso deve realizar uma reforma profunda, não apenas
no sistema eletrônico, mas em todo o sistema de controle, o que inclui a
estrutura necessária para análise, vistoria, monitoramento e
fiscalização destes planos. Um bom começo para as mudanças no sistema
eletrônico seria a inserção imediata de filtros inteligentes que impeçam
a inserção de dados suspeitos no sistema.
“O governo federal deve conduzir imediatamente a revisão de todos os
planos de Manejo aprovados e ativos desde 2006. Nesse meio tempo, é
claro, os governos estaduais responsáveis pela gestão florestal devem
auditar essas futuras negociações uma a uma, ou parar imediatamente de
emitir documentos oficiais que permitem “legalizar” a madeira ilegal,
até que tenham a capacidade necessária pra regular a atividade por
completo”, afirma Marina Lacôrte, da campanha Amazônia do Greenpeace.
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