Artigo de opinião do Greenpeace publicado no jornal a Folha de S.Paulo, dia 9 de outubro; Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de Clima e Energia, assina análise sobre o novo Plano de Expansão Decenal de Energia do governo
"A energia eólica já é hoje a segunda fonte mais barata e a energia
solar poderia sozinha abastecer toda a matriz brasileira se fossem
concedidos os devidos incentivos" - Parque Eólico de Osório, RS. (©
Rogério Reis / Tyba)
O recém publicado Plano de Expansão Decenal de Energia, que prevê os
rumos energéticos do país para a próxima década, indica que 70% dos
investimentos do setor de energia serão destinados aos combustíveis
fósseis. Ora, nem parece que o Brasil está passando por uma grave crise
energética e que precisa rever seu planejamento ao invés de insistir em
um modelo falido.
Atualizado anualmente, o plano traz o dado de que, dos 71 gigawatts
(GW ) previstos para o aumento da matriz energética até 2023, quase
metade virá de hidrelétricas, grande parte delas alocada na Amazônia.
Leia o artigo na FSP
Essa falta de visão política não pode prosseguir, pois quem paga o
preço da insistência no erro é a população brasileira. Continuar
investindo no binômio hídrico-térmico é sinônimo de fracasso e de contas
de luz ainda mais altas.
Entre a previsão de 2013 e a atual, a projeção da demanda por
termelétricas dobrou. Se gastamos mais de R$30 bilhões com as térmicas
apenas neste ano, não é difícil imaginar por quanto esse valor se
multiplicaria até 2023.
Além disso, com os combustíveis fósseis imensamente contemplados,
quem fica por último no páreo são as fontes renováveis. Para os
biocombustíveis previu-se 6,5% dos investimentos e para as energias
renováveis como pequenas centrais hidrelétricas, energia eólica, solar e
biomassa, 9,2%.
Essa disparidade reflete as escolhas do governo brasileiro: o
petróleo do pré-sal como prioritário e falta de atenção às fontes
renováveis. No entanto, são justamente estas últimas as que poderiam
atender a necessidade futura de energia brasileira sem comprometer o
meio ambiente nem o bolso dos consumidores.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, as fontes
renováveis devem movimentar R$ 3,6 trilhões no mundo até o final desta
década. No Brasil, as eólicas tem puxado o crescimento de contratação de
energia e, apenas em 2013, foram responsáveis por abocanhar 70% dos
leilões. Nenhuma outra fonte poderia ter feito o mesmo.
A boa notícia é a inclusão pela primeira vez da energia solar no
plano. Com a projeção de 3,5 GW até 2023, esse valor poderia dobrar
segundo a previsão do cenário [R]evolução Energética, publicado pelo
Greenpeace no ano passado.
A China pretende crescer quatro vezes esse valor apenas em energia
solar neste ano, priorizando sistemas residenciais de microgeração. Esse
formato não consta no plano brasileiro.
A redução de consumo de energia em decorrência de programas de
eficiência energética também diminuiu do plano atual para o anterior e
chegou ao nível de 5,2%, um patamar baixo se considerarmos o potencial
superior a 10% nos setores comercial, industrial e residencial.
Por essas e por outras, o Brasil permanece entre os últimos colocados
nos ranking internacionais de eficiência energética em edifícios,
transportes e indústria.
Diante das ameaças de racionamento e do aumento do preço da energia, o
Brasil parece ignorar o que nos foi dado pela natureza e que poderia
solucionar boa parte dos problema do setor e evitar custos onerosos.
A energia eólica já é hoje a segunda fonte mais barata e a energia
solar poderia sozinha abastecer toda a matriz brasileira se fossem
concedidos os devidos incentivos.
Não falta Sol, nem falta vento, o que falta mesmo é vontade política.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.