Cuidar do nosso futuro é urgente, mas pode ser tarde demais se não agirmos agora.
© Diego Baravelli / Greenpeace

Se eu te contasse que a gente não tem mais tempo e que o momento de agir é já, o que você faria? Talvez não me levasse muito a sério. E se fossem cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, da sigla em inglês) dizendo isso? 

Após mais uma rodada de debates, que se encerrou neste fim de semana e resultou na publicação da última parte do 6º Relatório de Avaliação (AR6), os cientistas do IPCC reforçaram, agora com ainda mais evidência científica, os alertas que vêm divulgando há algum tempo. Em resumo:

Os impactos negativos da crise climática estão cada vez mais frequentes e irão se agravar rapidamente.

Por isso, não temos mais tempo a perder! Essa é uma década crucial para colocarmos em prática ações que não apenas reduzam a emissão de gases do efeito estufa (zerar o desmatamento, por exemplo), como também adaptem territórios e cidades a essa nova realidade. 

Também neste fim de semana, completou-se um mês da tragédia ocorrida no litoral norte de São Paulo. Após longas horas de chuvas fortes durante o Carnaval, mais de 60 pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas e desalojadas.

A solidariedade entre os moradores e de voluntários e doadores tem sido fundamental para a sobrevivência das famílias de Vila Sahy, em São Sebastião, e outras comunidades periféricas dali. Mas sabemos que isso não basta: nossos governantes precisam agir!

É por isso que, nesta segunda-feira, 20 de março, o Greenpeace Brasil lança um abaixo-assinado que tem como objetivo cobrar do governo federal a revisão e a implementação do Plano Nacional de Adaptação (PNA)

Entenda o Plano Nacional de Adaptação

O Plano Nacional de Adaptação (PNA) é um conjunto de normas que visam à criação de estratégias governamentais para a gestão e redução de riscos que crescem por causa da crise climática. O PNA foi instituído pelo Ministério do Meio Ambiente em 2016, mas precisa ser revisado. 

A revisão do PNA será importante para assegurar que as estratégias sejam centralizadas nas populações mais afetadas pelos eventos extremos, especialmente quando consideramos a prevenção de desastres. É fundamental que critérios como raça, gênero, renda e habitação sejam considerados. 

OK, então o PNA é a solução de todos os problemas ligados à crise climática no Brasil? Não, mas é um passo super importante. Junto com a revisão e implementação do Plano, precisamos que as três esferas de poder — prefeituras, governos estaduais e governo federal — atuem de forma bastante integrada, cada uma com seus papéis e responsabilidades. 

Impactos, Destruição, Doações e Trabalho Voluntário Após Chuva Extrema em São Sebastião, São Paulo. © Diego Baravelli / Greenpeace
As chuvas que caíram em São Sebastião, durante o Carnaval, revelam mais um episódio de eventos extremos, que ficarão cada vez mais frequentes. Precisamos de políticas públicas de prevenção e adaptação para garantir cidades seguras para todas as pessoas, não somente para as elites.
© Diego Baravelli / Greenpeace

Eu te convido a entrar nessa mobilização com a gente. Ao longo das próximas semanas, falaremos sobre como esse tema está mais próximo de você do que imagina, e de como é ligado a problemas históricos do país, como a desigualdade social e o racismo ambiental

Pensa comigo: chuvas intensas e outros eventos climáticos extremos impactam a vida de todo mundo, mas quem são as pessoas que morrem? Quem é que fica sem uma casa pra morar? São as pessoas de baixa renda, negras, indígenas, periféricas. Isso precisa mudar! As cidades e territórios precisam ser seguros para TODAS as pessoas, não somente para quem tem dinheiro e poder. É por isso que as soluções devem ser construídas com essas populações, que são as mais impactadas pela emergência climática!

Um pouco mais sobre o IPCC

A parte final do 6º Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC traz muitas mensagens importantes. Destaco algumas delas:

– Nós enfrentaremos riscos cada vez mais altos e mais cedo do que imaginávamos com a crise climática, e não estamos preparados para suas consequências, algo que está nos custando vidas;

– O aumento de incêndios, enchentes, vendavais, secas e outros eventos extremos já são percebidos em todas as regiões habitadas do planeta;

– A crise climática e a maior intensidade e frequência de eventos extremos já provocaram impactos irreversíveis aos sistemas naturais e humanos, que perderam assim sua capacidade de adaptação;

– Limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC reduziria perdas e danos (que são consequências das mudanças no clima, em que já não cabem medidas de adaptação), mas precisamos nos preparar para o aquecimento que não podemos mais evitar. Portanto, a adaptação também é urgente e necessária;

– As soluções já existem e esta é a década crucial para a ação climática, pois os impactos climáticos continuam a se intensificar;

– As transformações necessárias para garantirmos uma vida segura diante da emergência climática só serão possíveis com justiça social e colocando as pessoas impactadas no centro da tomada de decisão;

– Integrar ação climática com políticas macroeconômicas pode estimular o desenvolvimento sustentável com baixa emissão, redes de segurança e proteção social, além de melhorar o acesso a financiamento para infraestrutura de baixa emissão e programas de adaptação, especialmente em regiões em desenvolvimento;

– Podemos e devemos reduzir pela metade as emissões globais até 2030. Esta é uma realidade preocupante, mas há esperança, se os governos agirem agora. O IPCC apresentou os fatos como orientação científica detalhada, dando aos governos outra chance de fazerem o que é certo para as pessoas e para o planeta.