Friday, June 23, 2023

Os Corais da Amazônia existem – a ciência garante

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Confira pesquisas publicadas e algumas imagens do recife de corais na foz do Amazonas

Foto de sistema recifal no fundo do mar, com corais coloridos e predominância da cor azul
Uma das primeiras imagens do recife de corais da foz do Amazonas, no Amapá, capturadas em 2017 por um submarino durante expedição científica de pesquisadores de renomadas universidades brasileiras. A expedição foi realizada com apoio do Greenpeace (Foto: Greenpeace)

A existência do Grande Sistema de Recifes do Amazonas é reconhecida e registrada por vasta literatura científica. E é lá que estão os Corais da Amazônia, que, quando descobertos, deixaram pesquisadores do mundo inteiro impressionados. 

Um primeiro e importante aspecto é que eles são capazes de se desenvolver em uma região onde as águas turvas do rio Amazonas encontram o Oceano Atlântico, o que, a princípio, não era considerado provável. Mas, apesar disso, os Corais da Amazônia se adaptaram de uma forma única à mistura da água doce e salgada!

Mas o que mais a ciência diz sobre os Corais da Amazônia? Como a informação é uma grande aliada da defesa da biodiversidade, nós preparamos uma lista de indicações com algumas das principais pesquisas e artigos publicados sobre o assunto. 

Afinal, os Corais da Amazônia existem e precisam da nossa proteção!

1. A descoberta 

O estudo que descreve a descoberta dos Corais da Amazônia é assinado por uma equipe de 38 pesquisadores, técnicos e alunos de pós-graduação de 12 instituições, incluindo a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A descoberta foi confirmada em 2014 e divulgada na revista Science Advances em abril de 2016. Desde então, diversas pesquisas sobre o tema têm sido publicadas por instituições acadêmicas sérias e respeitadas. 

Segundo descrito no estudo, esse sistema de recifes é composto por esponjas, fundos de algas calcáreas e rodolitos, além, claro, dos corais. Entre eles, espécies de corais escleractíneos, ou corais verdadeiros, Montastraea cavernosa; Agaricia humilis; Favia gravida; Millepora sp.; Madracis decactis e outros hidrocorais.

Amostras de recife de corais recolhidos da foz do Amazonas. (A) Montastraea cavernosa; (B) Agaricia humilis; (C) Favia gravida; (D) Millepora sp.; (E) Madracis decactis (Fonte: Anexos Science Advances)

Antes mesmo desta primeira pesquisa consolidada, já havia um artigo publicado por pesquisadores brasileiros citando a existência de 38 espécies de corais na região, incluindo 27 espécies de octocorais, 9 corais verdadeiros, um hidrocoral e outro coral-negro. Você pode conferir com mais detalhes aqui.

2. Expedições científicas

Os primeiros estudos apontavam que o sistema de recifes ocupava uma área de 9.500 km², abrangendo a faixa que vai da fronteira do Brasil com a Guiana Francesa até o Maranhão.

Impulsionado por essa primeira descoberta, o Greenpeace Brasil apoiou pesquisadores de diversas universidades brasileiras de ponta que queriam dar continuidade aos estudos disponibilizando um de seus navios.

Nesta expedição à Bacia da Foz do Amazonas, que ocorreu em 2017, além de terem sido reveladas ao mundo as primeiras imagens submarinas dos recifes, foi estimado que o tamanho da área do sistema recifal poderia ser maior que o indicado anteriormente, chegando a 56 mil km². 

O dado está registrado em artigo publicado em abril de 2018 na Frontiers in Marine Science, onde os pesquisadores reforçaram a existência do sistema de recifes e descreveram, inclusive, corais negros a 130 metros de profundidade.

Todo esse estudo foi destaque no portal do Ministério da Educação (MEC). Na mesma época, o Greenpeace Brasil realizou uma grande mobilização contra a petrolífera francesa Total, que desejava explorar petróleo da região. À época, a empresa teve o licenciamento indeferido pelo Ibama diante da não comprovação de segurança socioambiental para exploração petrolífera da área. 

3. A continuidade dos estudos

Em 2019, uma nova publicação sobre o sistema de recifes na foz do Amazonas foi publicada na renomada revista Nature. Assinado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade do Pará e da Universidade da Paraíba, o estudo se somou à literatura científica sobre a vida que existe embaixo d’água na Bacia da Foz do Amazonas.

No artigo, os pesquisadores endossaram que o estudo realizado explorou os aspectos evolutivos do sistema de recifes, mostrando que esse ecossistema está vivo e crescendo, abrigando dezenas de organismos vivos e habitats.

Eles reforçaram, ainda, que são necessários mais estudos para que seja possível conhecer com mais detalhes o crescimento dos recifes, a diversidade de espécies que neles existem e a biodiversidade associada a este território.

4. Debate científico

Em dezembro de 2022, um novo artigo publicado na revista Frontiers in Marine Science demonstrou, a partir da literatura científica já publicada sobre o tema, a invalidade de argumentos apresentados no resumo “Mitos e verdades sobre os corais da foz do rio Amazonas”, publicado no 49º Congresso Brasileiro de Geologia.

Enquanto o autor em questão argumentou que no recife existiam corais mortos, as amostras coletadas por outros pesquisadores (Cordeiro, 2015 e Moura, 2016) apresentaram tecidos vivos e rodolitos com alta vitalidade. 

O artigo também esclarece que o uso da espessura dos organismos vivos como critério para definir a vitalidade do recife é inadequado, pois a camada viva de um recife saudável pode variar em espessura de apenas alguns milímetros, como é o caso da superfície das colônias de corais.

Segundo alerta a publicação, o negacionismo científico é uma ameaça aos biomas brasileiros e à biodiversidade da foz do Amazonas.

“A ciência replicável e confiável é essencial para orientar efetivamente as ações políticas em direção à conservação e ao uso racional dos recursos marinhos na região. Assim, pedimos um consenso científico sobre a extensão e a vitalidade do Grande Sistema de Recifes do Amazonas com base em dados replicáveis de acesso aberto obtidos por meio de pesquisas independentes”, concluem os pesquisadores.

 

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