Em mais uma tentativa de alertar os responsáveis por impedir a entrada
de madeira ilegal na Bélgica, o Greenpeace expõe a cegueira “surreal”
das autoridades
Ativista segura faixa em protesto na Bélgica contra a entrada de madeira ilegal da Amazônia na Europa (© Greenpeace)
Ativistas do Greenpeace realizaram hoje em Bruxelas, capital da
Bélgica, uma ação para denunciar a fragilidade do país na luta contra o
comércio ilegal de madeira na Europa e exigir a implementação efetiva da
legislação EUTR (Europe Union Timber Regulation), que proíbe a
importação de madeira ilegal para o mercado europeu. Foi instalada uma
“zona de madeira ilegal” em frente ao gabinete do Ministério de Energia,
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável belga, no centro político
da cidade.
De forma bem-humorada, os ativistas fizeram uma alusão ao quadro “A
Traição das Imagens”, do pintor surrealista belga do século XX, René
Magritte, que retrata um cachimbo onde se lê “isso não é um cachimbo”.
Eles reproduziram o quadro (com a imagem de uma tábua no lugar do
cachimbo) sobre um terraço de madeira de origem suja da Amazônia onde se
lia: “isto não é madeira ilegal”, fazendo uma referência ao fato de que
as autoridades europeias estão negando aquilo que estão vendo.
Tablado de madeira com origem suja da Amazônia abaixo de
imagem onde se lê "isto não é madeira ilegal", em referência a quadro do
pintor surrealista belga René Magritte (© Greenpeace)
A prova dessa negligência “surreal” das autoridades é que a madeira
utilizada no terraço que é palco do protesto em frente ao Ministério
veio da serraria brasileira Rainbow Trading, que recebeu madeira ilegal no ano passado, rastreada e denunciada pelo Greenpeace.
A ação tem como objetivo expor a cegueira dessas autoridades em
relação à má aplicação das regras da EUTR na Bélgica. A EUTR entrou em
vigor no início de março de 2013, porém, tanto na Bélgica como em outros
países europeus, pouco tem sido feito para colocá-la em prática de
forma eficiente, o que acaba facilitando a entrada de madeira ilegal no
mercado Europeu e agravando o problema na Amazônia. O ponto crucial da
Lei é o fato de que as empresas importadoras são obrigadas a avaliar e
mitigar o risco da madeira ser ilegal antes de compra-la e no Brasil,
está muito claro: o risco é muito alto.
“O mercado europeu é um dos principais destinos da madeira ilegal e a
falta de combate nessa porta de entrada acaba servindo como um estímulo
aos criminosos da outra ponta, tanto os que extraem a madeira de forma
predatória, quanto os que receptam e comercializam essa madeira. Por sua
vez, as autoridades brasileiras, responsáveis pelo problema no Brasil,
também devem combater a extração de madeira ilegal na sua raiz. Embora algumas medidas futuras tenham sido anunciadas,
muita madeira ilegal ainda está circulando dentro e fora do país e quem
perde com isso é a floresta”, afirma Marina Lacôrte, da campanha da
Amazônia do Greenpeace.
Mesmo com o Greenpeace alertando essas autoridades desde maio de 2014
e fazendo ações de protesto para que os responsáveis enxerguem o
problema, nenhuma destas autoridades tem tomado providências efetivas
para impedir que madeira ilegal entre no mercado europeu. Até mesmo algumas empresas já responderam por meio da quebra de contratos, mas as autoridades continuam fechando os olhos.
Apesar
dos inúmeros apelos feitos às autoridades europeias, carregamentos
dessa madeireira continuaram chegando no porto de Antuérpia, entre
outubro e dezembro, mesmo após a denúncia. Apenas um desses
carregamentos foi bloqueado pelo órgão ambiental, mas liberado
posteriormente, mesmo tendo sua origem contaminada por madeira ilegal e
mesmo sem ter havido investigação que comprovasse de fato a legalidade
do produto. Já outros containers nem inspecionados foram.
"Não é desta forma que o nosso país vai contribuir eficazmente para a
luta contra o comércio ilegal de madeira", afirmou Jonas Hulsens,
campaigner de florestas do Greenpeace Bélgica.
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