Liderança da Terra Indígena Alto Turiaçu, no Maranhão, foi assassinada
no último domingo, dia 26; Indígenas deunciam madeireiros como
responsáveis
A extração predatória e ilegal de madeira causa violência e mortes (© Greenpeace/Lunaé Parracho)
Uma nova morte anunciada ocorreu no último domingo na Amazônia.
Eusébio Ka’apor, da aldeia Xiborendá, na Terra Indígena Alto Turiaçu, no
Maranhão, foi assassinado com um tiro nas costas na entrada do povoado
Areal, entre os municípios de Centro do Guilherme e Santa Luzia do
Paruá, no Maranhão.
Não é de hoje que os Ka’apor alertam as autoridades sobre as ameaças
que vêm sofrendo por parte dos madeireiros. Pelo menos desde 2008 eles
têm pedido que os órgãos competentes tomem providencias para coibir a
extração ilegal de madeira e o desmatamento na região, mas somente ações
pontuais são feitas, permitindo que os crimes voltem a ocorrer após a
saida das equipes de fiscalização.
Cansados de esperar pelo Estado, a partir de 2013, os Ka’apor
começaram a realizar atividades autônomas de monitoramento e proteção
territorial e ambiental de sua área, expulsando os madeireiros das áreas
invadidas. Essas ações ajudaram a colocar um freio no avanço da
exploração ilegal de madeira, mas geraram represálias, ameaças e
perseguições. Muitas aldeias foram invadidas por madeireiros que ameaçam
constantemente os indígenas da região.
O conflito se arrasta há anos sem solução e já foi inclusive registrado em inúmeras matérias na imprensa nacional e internacional. Em junho do ano passado as fotos dos índios expulsando madeireiros para proteger seus territórios correram o mundo.
“Os Ka'apor estão sendo protagonistas na defesa de seu
território, mas estão sozinhos, não têm o apoio devido do Estado, que é
quem deveria fiscalizar”, afirmou Madalena Borges, do Cimi (Conselho
Indigenista Missionário) do Maranhão.
Como o Greenpeace tem denunciado,
a indústria madeireira está fora de controle e papéis oficiais têm sido
utilizados para acobertar a extração de madeira de áreas sem
autorização ou de protegidas, como unidades de conservação e terras
indígenas.
“Além da impunidade, o que incentiva a invasão de terras indígenas
para a retirada ilegal de madeira é a garantia de que a madeira roubada
poderá ser lavada e vendida livremente no mercado, alimentando graves conflitos sociais, gerando violência e mortes inaceitáveis” disse Marina Lacôrte, da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Unidades de Conservação e Terras Indígenas (TIs), são uma das formas mais eficientes para proteger a floresta. A
TI Alto Turiaçu, por exemplo, é um dos últimos resquícios do que um dia
foi a Amazônia Maranhense. Porém, apesar de todos os esforços dos
indígenas para protegê-la, a ameaça é tão constante que até 2012 ela já
havia perdido 44 mil hectares (8,07% do total de sua área), colocando-a
na 5ª posição entre as TIs mais desmatadas na Amazônia.
“O Estado brasileiro tem que ser responsabilizado com relação a
essa situação que os povos indígenas vêm sofrendo, não pode permitir
que essa violência continue acontecendo. Uma vez que o Estado é omisso
na proteção desses territórios, ele está sendo conivente com os crimes”,
disse Madalena, do Cimi. “A luta é pelo território livre e pela vida
dos Ka’apor”, concluiu ela.
A sociedade pode e deve se organizar para exigir a devida
punição dos criminosos ajudando a pressionar os órgãos competentes
(Funai e Polícia Federal) para exigir a devida apuração do caso.
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