Rotulagem deixa de ser obrigatória mesmo para produtos alimentares à
base de matéria-prima 100% transgênica; Congresso Nacional priva o
consumidor de seu direito básico
A Câmara dos Deputados aprovou ontem o Projeto de Lei (PL) 4148/08, de autoria do Dep. Luis Carlos Heinze (PP-RS),
que altera a legislação de rotulagem para transgênicos, existente desde
2003. Com a nova lei, apenas produtos que apresentem mais de 1% de
transgênicos em sua composição final precisam ser rotulados e o símbolo
do “T” preto em triângulo amarelo deixa de ser obrigatório.
Rótulo indicando produto transgênico
Na prática, isso significa que a maior parte dos produtos que hoje
são rotulados, garantindo aos consumidores brasileiros o direito à
informação e escolha, não precisam mais exibir essa informação no
rótulo, mesmo que tenham sido fabricados com matéria-prima 100%
transgênica.
“O óleo de soja, por exemplo, amplamente usado pela população
brasileira, não tem como ser testado para presença de transgênicos
porque seu processo de fabricação destrói o DNA. Ou seja, você pode usar
só grãos transgênicos na fabricação e ainda assim o teste não irá
detectar”, explica Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de
Alimentação e Agricultura do Greenpeace. O mesmo vale para margarinas,
produtos contendo lecitina de soja (como chocolates e outros produtos
industrializados), fubá, amido de milho e cervejas que contenham milho
em sua composição - todos esses produtos têm o DNA destruído durante seu
processamento sendo impossível, portanto, detectar a transgenia na
composição final do produto.
A proposta aprovada ontem também extingue a exigência de rotulagem
para produtos de origem animal e rações, e abre uma brecha para que
produtos que não apresentem DNA transgênico em sua composição final
sejam rotulados como “livres de transgênicos” - mesmo que tenham sido
fabricados com matéria-prima 100% transgênica. Basta, para isso, que o
teste realizado no produto final não apresente o DNA transgênico.
Retrocesso... e mais retrocesso
“Nesta semana tivemos a aprovação do Projeto de Lei da Biodiversidade,
o PL 7735/14, que privilegia interesses privados em detrimento de
comunidades tradicionais e pequenos produtores rurais. E agora este
Projeto de Lei que aniquila o direito dos brasileiros de saber o que
estão comendo”, atesta Vuolo. Ela lembra que também existem propostas
para flexibilizar a legislação sobre terras indígenas, trabalho escravo e agrotóxicos
A relação íntima entre a bancada ruralista e grandes empresas do agronegócio não é de hoje. Em 2010, um parecer do Dep. Candido Vacarezza foi denunciado por ter sido redidigo por uma advogada ligada à Monsanto. O parecer em questão era justamente a respeito do PL 4148, do Dep. Luis Carlos Heinze, aprovado ontem. Atualmente, tanto o Dep. Heinze quanto o Dep. Vacarezza estão sendo investigados pela Operação Lava-Jato.
“Afinal, a quem serve o Congresso? Por que os interesses de grandes
empresas são sempre colocados acima dos interesses da população?”,
questiona Gabriela Vuolo. O PL 4148 segue agora para o Senado.
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