Pior acidente nuclear da história completa quase três décadas. Usina
nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, expôs ao mundo os problemas
relacionados à energia nuclear.
Ativistas brasileiros protestam contra a usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro. (©Ivo Gonzalez/Greenpeace)
Há 29 anos um dos reatores da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia,
explodiu e matou dois trabalhadores. Material radioativo foi liberado
no ambiente e grandes áreas da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia foram
contaminadas. Nos quatro meses seguintes, 28 trabalhadores da usina, de
um total de 600, morreram em decorrência da radiação recebida, e outros
106 foram contaminados. Mesmo quase três décadas depois deste
emblemático acidente - e de outros desastres nucleares como o de
Fukushima - o Brasil dá sinais de que quer voltar a investir em energia
nuclear.
A explosão que ocorreu por uma combinação de falha no projeto - mais
especificamente no desenho técnico - erros operacionais e segurança
inadequada, causou um desastre de dimensões enormes. Para se ter uma
ideia, uma área de 30 quilômetros ao redor da usina teve acesso proibido
e mais de 330 mil pessoas tiveram que ser evacuadas de suas casas, sem
nunca poder voltar. Até hoje, já foram detectados cerca de 6 mil casos
de câncer de tireoide relacionados ao acidente, e o número segue
aumentando.
Os trabalhos de contenção também foram hercúleos. Cerca de 600 mil
trabalhadores e bilhões de dólares foram colocados nos trabalhos de
limpeza. Na época, um edifício de contenção, conhecido como “sarcófago”,
foi construído ao redor da usina para limitar o escape de radiação. Mas
esse “sarcófago” já passou do seu prazo de validade e um novo está
sendo construído, a um custo de US$ 3 bilhões, e só deve ficar pronto em
2017 após sucessivos atrasos.
O pior desastre nuclear da história colocam em xeque os argumentos de
que energia nuclear é segura e limpa. Seus defensores dizem que é
bastante segura e que um acidente como o de Fukushima acontece somente
uma vez a cada 250 anos. No entanto, nos últimos 70 anos, Fukushima,
Chernobyl e os acidentes de Three Mile Island e Fermi 1, ambos nos
Estados Unidos, provam o contrário.
Para piorar, um recente estudo publicado pela revista de tecnologia
MIT Tech Review afirma que existe 50% de probabilidade que outro evento
como Chernobyl aconteça nos próximos 27 anos, um evento como o de
Fukushima aconteça nos próximos 50 e um como o de Three Mile Island, nos
próximos 10 anos. Ainda há o agravante de que não existe solução
permanente para todo o lixo atômico produzido.
Apesar de todos os problemas, custos e riscos da energia nuclear, o
ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, declarou na última semana
que o Brasil terá mais quatro usinas nucleares até 2030 e outras oito
até 2050. “Braga afirmou que precisamos da energia nuclear para garantir
a segurança energética do país, no entanto, isso não é verdade. A
segurança brasileira pode ser alcançada com mais investimentos em
energias renováveis, como solar e eólica”, diz Thiago Almeida, da
campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.
A energia eólica já é hoje a segunda mais barata no país e a
perspectiva é de que a energia solar se torne a mais barata em um
horizonte de cinco anos. Já o custo de uma usina nuclear é sempre
crescente e nele não está incluído o custo de descomissionamento, em
torno de US$ 1 bilhão por usina.
Em relação ao tempo de construção, o de usinas eólicas e
fotovoltaicas é igual ou inferior a dois anos, enquanto um reator
nuclear tem levado mais de dez anos para ser construído de acordo com
médias globais. Vale lembrar que Angra 2 demorou quase 20 anos para
entrar em operação e Angra 3, cujas obras começaram em 1984 e foram
retomadas em 2010, foi prometida para 2012 a um custo de R$ 7 bilhões.
No ano passado, o custo foi revisto para R$ 14,9 bilhões e sua entrega
ficou para 2018 – por enquanto.
Sobre a confiabilidade de eólica e solar, a experiência internacional
recente mostra que as redes de transmissão se adequam facilmente a
fontes dinâmicas enquanto a energia nuclear segue como opção de resposta
lenta para o despacho do sistema. Angra 1 segue com seu apelido de
“vagalume“ devido à intermitência do fornecimento de energia.
“Energia nuclear não é 100% segura, além de ser muito mais cara do
que se divulga. Também não é a fonte do futuro, basta olhar dados de
2014 mostrando que foram instalados em todo o mundo 95 GW de energia
solar, contra 5 GW de nuclear”, continua Almeida. “Já passou da hora dos
governantes abandonarem essa energia perigosa e investirem nas energias
do século XXI. Solar e eólica são a melhor solução para uma matriz
energética mais limpa e segura.”
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