O acordo voluntário compartilha responsabilidades entre setor produtivo, governo e sociedade civil para evitar a comercialização de grãos plantados em áreas desmatadas da Amazônia após 2008
Assinatura renovação da moratória da Soja - 24/11/2014
(Crédito: Wenderson Araujo/Greenpeace)
Depois de meses de intensas negociações, a Moratória da Soja,
acordo que visa eliminar o desmatamento da Amazônia da cadeia produtiva
de Soja, foi renovado na manhã desta terça-feira (25), em Brasília, e
passa a valer até maio de 2016. O acordo, em vigor desde 2006, vem
sendo prorrogado anualmente.
A cerimônia de
assinatura aconteceu as 10h30 de hoje, na sede do Ministério do Meio
Ambiente (MMA). O novo documento foi ratificado pelos coordenadores do
Grupo de Trabalho da Soja (GTS): Carlo Lovatelli, presidente da Abiove
(Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais); Sergio Mendes,
diretor geral da ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais);
Paulo Adario, coordenador da sociedade civil no GTS; e pela ministra do
Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Também estiveram presentes na
cerimônia representantes de empresas do setor de soja, do governo
federal e de outras ONGs.
“A renovação dos
princípios básicos da moratória é um alívio para todos aqueles que, no
Brasil e no exterior, temiam que o fim do acordo colocasse mais lenha na
fogueira do desmatamento da maior floresta tropical do planeta, que
voltou a aumentar no ano passado depois de 7 anos de queda”, disse Paulo
Adario, estrategista sênior de florestas do Greenpeace.
O
novo acordo mantém o critério fundamental da moratória, que é o veto à
soja plantada em novas áreas de desmatamento. Antes, no entanto, o pacto
previa o boicote ao produto semeado em áreas desmatadas a partir de
2006. Já o novo documento passa a utilizar como referência a data
definida pelo novo Código Florestal, que anistiou desmatamentos até
junho de 2008.
Assim, a partir desta safra, as
traders da soja – responsáveis por mais de 80% das exportações
brasileiras do produto (grãos, óleo e farelo) - se comprometem a não
comprar soja de áreas desmatadas na Amazônia depois de junho de 2008.
Pelo
novo critério, cerca de 400 mil hectares desmatados entre uma data e
outra poderiam se somar às áreas de produção de soja. Mas nem toda a
área é adequada ao grão.
E agora?
Desde
o início da moratória, em 2006, dos 5,2 milhões de hectares
desmatados no bioma Amazônia no período, cerca de 1 milhão de hectares
(ou 19,7% do total) estão nos 73 municípios produtores de soja
monitorados pelo GTS - responsáveis por 98% da soja produzida no bioma.
Mas apenas 47 mil hectares em desacordo com a moratória foram plantados
com soja na safra 2012-2013. A área total ocupada com soja no bioma era
de 3 milhões de hectares na safra passada.
Esses
dados constam do relatório consolidado sobre o monitoramento da produção
de soja na Amazônia desde o primeiro ano de vigor da moratória, 2007,
até 2013, e foram divulgados durante a cerimônia de hoje. Os dados
demonstram que a moratória foi bem sucedida em conter o desmatamento
para plantio do grão, mesmo em um período de alta de preços da soja no
mercado global.
A eficácia do acordo também foi citada este ano pela Union of Concerned Scientists (UCS),
que classificou a Moratória como um dos principais motivos para a
redução do desmatamento na Amazônia brasileira nos últimos anos.
Mas
o termo moratória, por definição, é usado para nomear medidas
provisórias, e não permanentes. E é isso que ela deveria ser: uma
solução emergencial para conter o avanço do desmatamento, até que
mecanismos públicos e eficientes fossem criados para substituí-la.
O
Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Programa de Regularização Ambiental
(PRA), dois instrumentos fundamentais do Código Florestal, ainda têm
baixa adesão. Quando estiverem implementados (segundo a lei, até 2016),
serão muito úteis para auxiliar no rastreamento e monitoramento da
produção. Mas sem um compromisso das empresas pelo Desmatamento Zero, a
floresta poderá continuar sendo destruída para dar lugar a soja e
outras commodities e isso compromete o nosso futuro.
O
Greenpeace espera que nos próximos 18 meses o GTS consiga construir um
novo mecanismo que, mantendo as conquistas feitas até aqui, assente as
bases para um novo modelo produtivo, que contribua para o fim do
desmatamento não apenas na Amazônia, mas em todos os biomas até 2020, e
que envolva as demais commodities agrícolas. Um
modelo que servirá de exemplo para o mundo no combate às mudanças
climáticas e à perda acelerada da cobertura florestal.
Com
esta nova página que acaba de ser escrita, a floresta amazônica ganha
um pouco mais de tempo. Mas as consequências de um fim precoce da
Moratória, sem a prática de uma solução permanente, podem ser
desastrosas para todo o planeta.
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