Ativistas alertam para a chegada de um carregamento de madeira na
Europa, vindo da empresa Rainbow Trading, receptadora de madeira ilegal.
As autoridades competentes europeias devem apreender essa madeira
suspeita de violar a legislação da UE
Serraria Rainbow Trading, que comercializa madeira ilegal (© Greenpeace/Otavio Almeida)
Um navio de carga com madeira da Amazônia foi surpreendido hoje por
ativistas do Greenpeace quando se aproximava do Porto de Roterdã, na
Holanda. A madeira a bordo foi exportada pela serraria Rainbow Trading –
uma das serrarias denunciadas pela organização ambientalista por
receber e comercializar madeira ilegal. Os ativistas estenderam uma
faixa com a mensagem: "Chega de madeira ilegal". A carga, comprada pela
comercializadora belga Leary Produtos Florestais, é destinada para as
empresas Lemahieu e Omniplex, também da Bélgica.
O Greenpeace pede às autoridades europeias o cumprimento da EUTR
(European Union Timber Regulation) – a legislação que proíbe a
importação de madeira ilegal para o mercado europeu. De acordo com a
EUTR, empresas da União Europeia estão proibidas de importar madeira
ilegal e são obrigadas a adotar medidas adicionais para garantir a
origem da mercadoria que estão comprando.
"Essa madeira deve ser apreendida antes que entre no mercado europeu
sem ser investigada. As falhas no sistema brasileiro de controle da
madeira têm permitido que a documentação oficial seja usada para
'esquentar' madeira ilegal e, por isso, os papéis utilizados não
garantem sua legalidade", disse Marina Lacôrte, da campanha da Amazônia
do Greenpeace. "Como nossa investigação mostrou, comprar madeira de
empresas como a Rainbow Trading se tornou um negócio extremamente
arriscado. Já passou da hora do mercado dar uma sinalização clara de que
não compactuará com a destruição da floresta. Por sua vez, o governo
brasileiro também precisa agir imediatamente para dar um basta no
descontrole do setor madeireiro operando na Amazônia".
Usando dispositivos com GPS para rastrear caminhões, o Greenpeace
expôs uma rede de serrarias no coração da Amazônia que recebem a madeira
ilegal transportada por esses veículos. A investigação "A Crise Silenciosa da Amazônia: Crime na madrugada"
mostrou também que Planos de Manejo Florestal que supostamente
abasteceram estas serrarias estavam, na verdade, sendo utilizados para
fornecer a documentação necessária para acobertar madeira retirada de
áreas sem autorização.
A denúncia resultou em uma operação da Secretaria de Meio Ambiente do
Estado do Pará (Sema) no oeste do estado. Durante a fiscalização, a
madeireira Odani Comercial de Madeiras, que fornece madeira para a
Rainbow Trading, foi autuada, teve seu cadastro suspenso e a madeira,
apreendida pelo uso comprovado de guias e licença da Sema para 'lavar'
madeira ilegal. No Brasil, o uso da documentação oficial para
“esquentar” madeira extraída de áreas sem autorização tem sido uma
prática comum e generalizada no setor madeireiro, e está destruindo a
floresta.
Desde que a Rainbow Trading foi denunciada, vários navios atracaram
na Europa carregando madeira da empresa. Alguns destes carregamentos
foram destinados aos compradores de sempre, que já foram avisados sobre o
alto risco que assumem ao comprar madeira de empresas com histórico de
práticas criminosas, como a Rainbow Trading.
Enquanto empresas na Bélgica continuam a comprar madeira de Rainbow
Trading, empresas da Suécia e Países Baixos anunciaram recentemente que
deixariam de comprar, mostrando que não são parceiras deste crime.
“A cadeia da Rainbow Trading é comprovadamente suja. É
importantíssimo que as autoridades europeias impeçam essa madeira de
entrar no mercado, penalizando as empresas que não estão cumprindo as
exigências previstas em lei. Mas o governo brasileiro também precisa
agir e realizar uma reforma no sistema de controle de madeira da
Amazônia. Esse crime tem que acabar antes que a floresta seja
completamente destruída”, completa Marina.
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