China e Estados Unidos, dois maiores emissores mundiais, firmam acordo
para combater mudanças climáticas. Notícia é positiva, mas poderia ser
mais ambiciosa.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, cumprimenta
o presidente
da China, Xi Jinping, após entrevista coletiva em
Pequim (©Pablo
Martinez Monsivais/AP)
Quando o tema é a política sobre mudanças climáticas e energia, hoje
pode ser o dia mais importante deste século. A China e os Estados Unidos
chegaram a um acordo histórico, negociado de forma privada durante
meses, e que apresenta o primeiro passo concreto da China em relação a
metas internacionais de emissões de gases de efeito estufa.
A China se comprometeu a começar a redução de emissões a partir de
2030 – podendo, inclusive, antecipar esta data – e ter 20% de energia
limpa em sua matriz energética no mesmo ano. Xi Jiping, presidente
chinês, afirmou que o país irá instalar até 1000GW de energias limpas
até 2030, o que significa quase todo o setor de energia dos Estados
Unidos.
Pelo mesmo acordo, os Estados Unidos, segundo maior emissor mundial
se compromete a diminuir suas emissões entre 26% e 27% em relação aos
níveis de 2005. É a primeira vez que Obama amplia a proposta de redução
para além da meta de 17% até 2020.
Trata-se de um avanço em relação a declaração chinesa durante a
Cúpula do Clima em Nova Iorque em setembro, quando o vice-premiê Zhang
Gaoli disse que a China estava se preparando para começar a redução de
emissões “o mais rápido possível”. As notícias são positivas, mas
poderiam ser mais ambiciosas e ainda há uma lacuna entre política e
ciência. Se o mundo quer evitar os impactos mais perigosos e danosos das
mudanças climáticas, o pico de emissões da China pode e deve acontecer
muito antes que 2030.
“Os cientistas trazem cada vez mais evidências da urgência climática e
grandes potências, como Estados Unidos e China, dão sinal de se
importar e começam a agir. Enquanto isso, o Brasil parece ter caminhado
para trás. Vemos o desmatamento subindo e uma forte preferência por
investir em combustíveis fósseis na próxima década”, disse Márcio
Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace Brasil.
Perguntas que permanecem
Ainda restam algumas questões relacionadas às metas das emissões do
acordo da ONU (Organização das Nações Unidas) que devem ser apresentadas
em março do ano que vem e entrar em vigor depois de 2020.
Dentro do cronograma da ONU, os países devem apresentar suas
“contribuições nacionalmente determinadas” em março de 2015, o que
explica a importância da Conferência do Clima que acontecerá em Lima, no
Peru, em menos de um mês.
“Trata-se de uma etapa preparatória importante e será um momento no
qual o Brasil poderá mostrar se quer retomar o protagonismo no tema das
mudanças climáticas e se tomará o rumo certo ou se continuará na
contramão com uma curva de emissões em alta, colocando em xeque os
pontos positivos do passado”, continuou Astrini.
Para a China, uma questão importante é se ela vai apresentar uma meta
e um número absoluto. É provável que sim, já que para calcular um “ano
para o pico das emissões” é necessário fazer cálculos em termos
absolutos. Outra dúvida é sobre o calendário da meta – se será para
2025, 2030 ou talvez uma combinação destas duas datas. Um período mais
curto de compromisso – de 2020 até 2025 – poderia ter o efeito perverso
de bloquear a China em um caminho relativamente alto de carbono, ao
invés de permitir uma flexibilização para aumentar sua ambição.
Um acordo pode ser feito
Do lado da diplomacia, este acordo é extremamente encorajador: os
dois países que são os maiores emissores perceberam que estão juntos
nessa missão e que terão que agir juntos.
As negociações privadas foram longas e ultimamente os dois
presidentes – Obama e Xi – vêm dando sinais de que estão dispostos a
superar interesses econômicos para reconhecer a responsabilidade
compartilhada nesse assunto.
Este é um bom sinal para o acordo climático global que deverá ser
assinado na Conferência do Clima das Nações Unidas em Paris, em dezembro
de 2015. Se as duas potências estão levando a sério a ciência das
mudanças climáticas, então, esse anúncio conjunto pode ser o começo de
uma série de ações climáticas que precisam ser mais ambiciosas.
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