Relatório do IPCC dá o alerta sobre impactos das mudanças climáticas. Nem precisava: os eventos extremos já estão aí. No Brasil, o setor de transportes virou grande emissor.
Representantes de ONG's pedem que políticos ajam imediatamente contra as
mudanças climáticas durante publicação da segunda parte do relatório do
IPCC (©Jeremie Souteyrat/Greenpeace)
Reunidos no Japão, centenas de cientistas do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) divulgaram, hoje, o
relatório “Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade”. O documento mostra o
que muita gente ao redor do mundo já está sentindo na pele: as
alterações no clima podem devastar territórios, acabar com vidas e
deixar prejuízos que chegam a bilhões de dólares.
Se as consequências climáticas não têm fronteiras, as emissões de
gases que provocam o aquecimento global também não. E o Brasil também
tem sua cota de responsabilidade. Enquanto as emissões originadas do
desmatamento reduziram substancialmente nos últimos anos, o setor de
energia seguiu a rota oposta: de 1990 a 2012, houve um aumento de 126%
nessas emissões. Uma das principais explicações para isso está no
sistema de transportes do país. Pouco eficiente e alimentado largamente
por combustíveis fósseis, as emissões do setor de transportes subiram
143% no mesmo período. É dali, aliás, que vêm 47% das emissões de
energia.
“Os protestos que tomaram as ruas do país deixaram claro que os
brasileiros não toleram mais um sistema de transporte público decadente.
Essa demanda é necessária por uma questão social mas também ambiental.
Investir em transportes de massa é a saída mais inteligente para
resolver essas duas questões latentes”, diz Cristina Amorim,
coordenadora da campanha de Clima e Energia do Greenpeace.
No entanto, há uma outra face da moeda nessa questão. Nas próximas
décadas, a estimativa é que a frota de veículos no Brasil continue
crescendo. Portanto, a indústria de automóveis também não pode se
isentar da responsabilidade que tem no agravamento das mudanças
climáticas. Se vários países têm adotado metas avançadas de eficiência
energética, o Brasil continua produzindo carros com tecnologia antiga.
“Estamos colocando nas ruas veículos que consomem mais combustível e
emitem mais gases do efeito estufa. A indústria automobilística precisa
investir mais em eficiência e, principalmente, na pesquisa e no
desenvolvimento de carros elétricos”, defende Amorim.
Sobre desmatamento, apesar de sua significativa redução, a história
está longe do fim. Todo ano, mais de quatro mil km2 de floresta são
derrubados e toneladas de carbono vão parar na atmosfera. Além disso,
pouco foi feito para que o país se adapte às mudanças climáticas, como é
visto quando enchentes e secas acontecem e ameaçam a segurança
energética nacional.
É o que temos visto recentemente. No Norte do Brasil, o rio Madeira
transborda, e as enchentes impactam milhares de pessoas. No Sudeste, os
reservatórios secam e o governo da maior cidade do Brasil liga o alerta.
O cenário de desequilíbrio se repete, simultaneamente, em outros pontos
do globo: cheias e estiagens recordes assolam Reino Unido, Califórnia e
Austrália. Um inverno rigoroso chega aos Estados Unidos e um tufão
varre as Filipinas. Tudo nos últimos meses.
“Atravessamos uma séria crise global e, assim como nossas escolhas
nos levaram a esse cenário, são elas também que podem evitar estragos
maiores”, afirma Cristina Amorim, coordenadora da Campanha de Clima do
Greenpeace. “Insistir em fontes sujas de energia, como petróleo e
carvão, é receita para mais eventos climáticos extremos e perigosos.
Precisamos investir agora em fontes limpas e renováveis, para controlar
as mudanças climáticas e dar segurança para esta e as futuras gerações."
Os desafios, portanto, não são poucos. Mas são necessários e viáveis.
“O Brasil tem um imenso potencial para ser pioneiro em uma revolução
nas políticas energética e florestal. A crise climática já não é algo
distante. Ela está aí, batendo à porta. Precisamos fazer as escolhas
certas para definir o futuro que a gente quer deixar para os nossos
filhos e netos”, diz Cristina.
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