Bancada ruralista segue em sua ofensiva para enfraquecer a legislação florestal. Agora, no campo da regulamentação.
Desmatamento dentro da terra indígena Tenharim, às margens da rodovia
Transamazônica. Encontrado durante o quarto dia de expedição por terra
pelos estados do Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Pará. (©
Greenpeace/Marizilda Cruppe)
O ataque às florestas segue agora no campo da regulamentação do novo
Código Florestal. Depois de desfigurar a legislação florestal em 2012,
fragilizando o texto e diminuindo a proteção ambiental no Brasil, a
bancada ruralista do Congresso segue determinada em seu propósito de
afrouxar ainda mais as regras que eles mesmos ajudaram a criar.
A bola da vez é o Sistema de Cadastro Ambiental Rural - SICAR,
laureado pelo governo e representantes do agronegócio como mecanismo
importante na conservação das florestas existentes e na obrigação de
reflorestar o que foi desmatado ilegalmente e uma das pré-condições para
eliminar o passivo ambiental.
O novo Código prevê normas mais brandas de recomposição de áreas
desmatadas para pequenos proprietários. Esse é o pulo do gato - dos
gatunos, melhor dizendo - do novo ataque às florestas: com o apoio do
Ministério da Agricultura, a bancada da moto-serra quer trocar o
conceito de "cadastro por imóvel rural" (que compreende toda a área da
propriedade) por "cadastro para cada matrícula do imóvel".
Traduzindo para o bom e velho português das ruas: um número enorme de
fazendas possuem várias "matrículas" - uma para cada lote de terra que
foi incorporada à propriedade ao longo do tempo ou ainda, propriedades
grandes que são espertamente divididas em áreas menores com diferentes
registros, colocados no nome de esposas, filhos ou qualquer que seja o
laranja da vez.
Ou seja, os ruralistas estão querendo se beneficiar das exceções
reservadas aos pequenos proprietários. Se permitir o cadastro por
matrícula, como querem os ruralistas, o governo se alinhará, mais uma
vez, com os grandes proprietários. Na prática, o Governo estaria abrindo
mão de grande quantidade de florestas, demonstrando, em pleno ano
eleitoral, que considera meio ambiente mera moeda de troca. Este alerta foi feito publicamente, lá no final de 2011,
em texto publicado na versão digital do jornal O Globo e assinado por
Paulo Adário e Marcio Astrini, da campanha Amazônia do Greenpeace
Brasil.
Vale lembrar que no Senado e na Câmara Federal também está em curso
uma ofensiva de decretos, projetos de lei e portarias que visa abrir
áreas protegidas - públicas, diga-se de passagem - ao bel prazer (e
interesse) de poucos. A extinção da reserva extrativista Jaci-Paraná, em
Roraima, e a proposta de acabar com a Floresta Estadual do Amapá, são
exemplos vivos da ofensiva ruralista em curso no Brasil, em ambas as
esferas, estadual e federal.
Este ano temos Copa do Mundo. Se a coisa continuar nesse ritmo, não
vai ter copa é de árvore que sobreviva. No final do ano passado, o
governo já havia recebido uma fatura cara da aliança com a bancada. A
primeira medição do desmatamento depois do novo Código Florestal e após
quatro anos consecutivos de queda, registrou 5.843 quilômetros quadrados
de floresta derrubadas - um valor 28% superior ao mesmo período do ano
anterior.
Também é ano de eleições. E se nossa política não se imbuir de bons
valores, o jogo deve continuar com as regras impostas pelos mesmos
grupos de sempre, interessados na manutenção do status quo e dos
diferentes projetos de poder - que não podemos jamais confundir com
projeto de país.
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