Em evento paralelo realizado durante a COP-19, em Varsóvia, Ministério
do Meio Ambiente anuncia nova plataforma de monitoramento de emissões de
gases-estufa.
A segunda semana das negociações climáticas inicia em falta. Falta de
esperança, falta de ambição, falta de dinheiro e de autoridades – em
todos os sentidos. A presença dos ministros de estado tem sido parca. A
ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, chegou na noite
de ontem e já vai embora nesta quarta-feira (20). Mas sua presença não
passou em branco. Em evento paralelo à COP-19, ela exaltou o novo Código
Florestal brasileiro, que trouxe instrumentos de controle como o
Cadastro Ambiental Rural (CAR), mas que nem sequer saiu do papel.
“É impossível negar que o Brasil tem uma postura estratégica no
cenário geopolítico internacional, que une produção e proteção
florestal. Queremos proteger, mas precisamos entender quais as demandas
sociais e econômicas da nossa sociedade, que se encontra em pleno
crescimento. É importante ter os números, os diferentes panoramas e ter
os diferentes atores mobilizados.”
Ignorando o motivo que a fez voltar mais cedo para casa – o aumento de quase 30% nos dados recentes de desmatamento na Amazônia Legal, apresentados na última semana
–, a ministra disse ainda que o novo Código “está agora sendo
plenamente adotado por produtores em todo o Brasil”. “É preciso ter
licença para desmatar e os projetos precisam estar de acordo com a
legislação.”
“A ‘licença para desmatar’ foi dada quando o novo Código foi
aprovado. Vemos aqui o governo promover um mundo de fantasia, que não
coincide com a realidade. Eles elogiam uma legislação que anistiou
desmatadores e abriu precedentes para mais desmatamento, que ainda é uma
das principais causa de emissões de gases-estufa em todo o mundo. Além
disso, eles mencionam o CAR, que deveria mostrar quem está desmatando e
onde, mas até agora não foi implementado, portanto não funciona na
prática”, frisou Renata Camargo, coordenadora de Políticas Públicas do
Greenpeace.
Deliberadamente optando por um modelo de desenvolvimento que quer o
crescimento econômico a todo custo, baseado na expansão da fronteira
agrícola, em grandes projetos de infraestrutura na Amazônia, que passam
por cima da floresta e de suas comunidades tradicionais, o Brasil não
segue o papel de líder ambiental que se espera de um país com sua
magnitude e relevância internacional.
“Para aparecer bem internacionalmente, o governo finge ignorar as
mais de 400 propostas de lei que tentam retirar ainda mais a proteção
florestal de áreas protegidas, como Terras Indígenas e Unidades de
Conservação. Seguindo a aprovação do novo Código, a bancada ruralista
ganhou força e vem tentando moldar a legislação brasileira segundo seus
próprios interesses econômicos. Nesse contexto, o desmatamento está
longe de ser o único problema. Agregado a ele vêm os conflitos
fundiários, a violência no campo e o trabalho escravo”, lembrou Renata
Camargo.
A conversão de áreas para agropecuária, que tem se mostrado o setor
que mais tem emitido gases-estufa no Brasil, tampouco são feitas
apropriadamente. Áreas abertas para pasto não são recuperadas, mas
apenas abandonadas. Estudos científicos já mostraram que, com a
quantidade de áreas abertas que temos na Amazônia, podemos dobrar nossa
produção sem derrubar mais um hectare de floresta.
Monitorando as emissões nacionais
No evento, o governo também apresentou um novo sistema de
monitoramento de emissões que deve abarcar todos os setores da economia.
Carlos Klink, secretário de mudanças climáticas do MMA, presente na
mesa, ressantou que o novo Código abarca todas as mais de 5 milhões de
propriedades rurais no país, e que esse novo sistema deveria fazer o
mesmo.
“Temos o desafio de trazer essa nova ferramenta como algo que capte
toda essa dimensão rural do Brasil, e ela deverá estar ligada ao CAR.
Estamos investindo um grande montante de dinheiro em sistemas de
monitoramento para todo o país, em conformidade com o Código Florestal, a
fim de combinar produção e proteção floestal”, defendeu.
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