Thursday, October 1, 2020

Setembro quente: focos de calor aumentam 180% no Pantanal e 60% na Amazônia

por Greenpeace Brasil  

É o pior índice já registrado no Pantanal em toda a série histórica. Na Amazônia, é o segundo pior número para o mês, desde 2010

Queimada na Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Porto Velho (RO), no bioma Amazônia. (© Christian Braga/ Greenpeace)

Dados divulgados na noite de ontem (30) pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que, em comparação com 2019, que já tinha sido um ano crítico, o fogo que assola nossos ecossistemas está ainda mais intenso este ano

Setembro registrou um aumento de 180,7% nos focos de calor no Pantanal e de 60,6% na Amazônia, em relação ao mesmo mês no ano anterior. Observando a série histórica para o mês desde 1998, as queimadas foram as mais severas para o Pantanal e o segundo pior ano para Amazônia desde 2010. 

Mesmo faltando três meses para fechar o ano, o Pantanal já registra um total de 18.259 focos de incêndio. No acumulado, 2020 foi o pior ano para o bioma desde o início das medições. Na Amazônia, o número de focos até setembro chegou a 76.030, o pior acumulado da última década. No caso dos dois biomas, os números de incêndios já superam os índices recordes registrados em 2019. 

“O Brasil está em chamas. Da Amazônia ao Pantanal, o patrimônio ambiental de todos os brasileiros está se transformando em cinzas. A gravidade da situação é, sobretudo, reflexo da política antiambiental do governo Bolsonaro que, apesar da previsão de um período mais seco no Pantanal, não empregou esforços adequados para prevenir os incêndios”, afirma Cristiane Mazzetti, da campanha de florestas do Greenpeace. 

Na Amazônia, grande parte das queimadas e incêndios florestais estão relacionados ao processo do desmatamento. No Pantanal, diferente da Amazônia, o fogo pode ocorrer naturalmente, mas geralmente em menor intensidade e em períodos de chuva, o que diminui seu impacto. Este ano, entretanto, o bioma encontra-se sob influência da pior seca das últimas décadas, o que facilita a propagação do fogo que, segundo indicam investigações, teve origem criminosa em poucas fazendas. 

Ou seja, mesmo com a proibição de queimadas imposta pela moratória do fogo desde 16 de julho, o instrumento legal se mostrou insuficiente para combater o crime ambiental e deter o avanço da crise atual. 

“Falar hoje de meio ambiente é falar não só da importância disso para nosso futuro, mas também de como já está afetando o nosso presente. De um lado, a crise ambiental que estamos vivendo agrava a emergência climática e pode intensificar a perda de biodiversidade. De outro, o aumento das queimadas, incêndios e desmatamento tem colocado o Brasil em maus lençóis com investidores e importantes relações comerciais, já que a cada dia está mais difícil garantir que os produtos brasileiros não estejam relacionados à destruição ambiental”, ressalta Cristiane. 

Na Cúpula da ONU de Biodiversidade ontem (30), o presidente francês, Emmanuel Macron, reforçou novamente que não assinaria o Acordo entre a União Européia e o Mercosul devido ao desmatamento na Amazônia, ao passo que Reino Unido e a União Europeia discutem legislações para controlar a entrada de commodities com risco de desmatamento nos países. 

Ainda essa semana, uma grande rede de supermercados de Hong Kong (ParknShop) anunciou que não comprará mais carne bovina da empresa JBS, devido seu envolvimento com o desmatamento da Amazônia, através de fornecedores diretos e indiretos que contaminam toda a cadeia de produção. 

Mas ignorando todos os sinais do mercado e de líderes globais, em seu discurso no evento, Bolsonaro apresentou uma ficção elaborada para se esquivar da responsabilidade pela falência da gestão ambiental do Brasil e o desmonte completo das políticas públicas de proteção do meio ambiente. 

“Ao invés de assumir a gravidade da crise ambiental no Brasil e direcionar esforços contundentes para resolver o problema, Bolsonaro se esquiva da sua responsabilidade nesta crise dizendo que as narrativas e os dados que indicam a destruição seriam falsos, além de atacar mais uma vez as ONGs. Os satélites e os dados públicos, porém, não o deixam mentir e estampam nos números de focos de calor e os efeitos dessa política desastrosa e de seu descaso com o meio ambiente”, completa Cristiane.

Esculturas de gelo dos presidentes Donald Trump (EUA) e Jair Bolsonaro (BR) derretem diante da Cúpula da ONU sobre biodiversidade, para denunciar a omissão dos governantes diante a crise ambiental em curso. (© Tracie Williams/Greenpeace)

Desde que assumiu, Bolsonaro, com apoio de seu ministro da “destruição” do meio ambiente, Ricardo Salles, tem estimulado deliberadamente a impunidade e o crime ambiental,

a partir do enfraquecimento da capacidade de fiscalização dos órgãos competentes como Ibama e ICMBio. O estrago, infelizmente, levará anos para ser desfeito. Perde o Brasil, perde o povo brasileiro e o mundo todo.

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