Pantanal: bombeiros trabalham para impedir o avanço do fogo na região de Poconé (MT). (© Leandro Cagiano/ Greenpeace)

No dia 24, pela manhã, deixamos Cuiabá rumo ao complexo quilombola do Mata Cavalo. Lá fizemos a doação de cestas básicas que serão destinadas à famílias em situação vulnerável, que tiveram suas roças queimadas ou que não conseguem plantar devido à seca e ao clima – no geral – mais seco que o normal. Mesmo que chova, ainda leva tempo até conseguirem tirar novamente o sustento da terra. 

à comunidades afetadas
Entrega de cestas básicas à comunidades do quilombo Mata Cavalo (MT). (© Leandro Cagiano/ Greenpeace)

Após nos despedirmos do seu Germano, dona Arlete e outras pessoas que nos receberam tão bem no Mata Cavalo, seguimos para Poconé, para finalmente alcançar a Transpantaneira. No caminho entrevistamos o pessoal do SOS Pantanal, que nos contou sobre a dinâmica do fogo, dinâmicas ecológicas do bioma e sobre o papel da sociedade civil para conter e mitigar essa crise ambiental.  

Seguimos pela Transpantaneira e paramos em uma pousada que costumava receber muitos turistas e que, agora, se transformou em um alojamento para uma brigada voluntária. Acompanhamos uma atividade conjunta entre voluntários e alguns bombeiros, e foi muito interessante. Eles nos mostraram como o fogo se dá no Pantanal. Apesar de em alguns momentos parecer com o fogo na Amazônia – como naquelas imagens vistas no início de setembro – a dinâmica aqui é bem diferente da dinâmica da floresta. 

Isso porque o Pantanal tem o que chamam de “fogo de turfa”, que é um tipo de fogo subterrâneo. Ele vem queimando por baixo. 

A turfa é um misturado de matéria orgânica, que se estabelece em áreas geralmente alagadas. Em um ano de seca severa como este, ela está completamente seca e se torna muito inflamável, servindo de material combustível para o fogo.  

A espessura pode ter de 30 cm ou mais de profundidade. Ao passar pela área, não parece grave, mas um lugar que está apenas com um pouco de fumaça em minutos desenvolve uma labareda que pode passar para a copa das árvores. E o chão, muito, muito quente. Por isso que os animais ficam com as patas todas queimadas. A primeira vista, parece inofensivo, mas pode machucar bastante. 

A  noite, retornamos s à Transpantaneira atrás de um foco de calor próximo à estrada, demoramos um pouco para vê-lo, embora houvesse muita fumaça por todo o caminho. Muita mesmo. 

Cansados, mas foi muito inspirador ouvir os relatos de resistência das comunidades – que são praticamente esquecidas pelo governo – e ter encontrado brigadistas voluntários que fizeram do combate aos incêndios sua prioridade. Haviam também bombeiros por lá, mas pelo que vi, e  conversando com os locais, a atuação do governo (seja estadual ou federal) é bem limitada, e a contenção da crise tem se concentrado muito mais nas mãos de moradores locais, voluntários e organizações não governamentais (ONGs). 

Bem inspirador, e me faz ter esperança de que passaremos por esse período sombrio e que, apesar das dificuldades, podemos cessar tamanha destruição e construir uma sociedade que  respeita os limites do planeta. Ainda está em tempo. 

* A Expedição Pantanal ocorreu entre os dias 23 e 28 de setembro de 2020, no Mato Grosso. Acompanhe a cobertura pelo site e redes sociais do Greenpeace Brasil, postaremos conteúdos exclusivos.