Grupos de Fortaleza e São Luís coletaram imagens dos locais e relatos de moradores que se mostram preocupados com a atual situação das praias repletas de manchas de petróleo.
mancha de petróleo na areia
Praia de Sabiaguaba, em Fortaleza, uma das mais impactadas pelas manchas de petróleo na região. © Pedro Tavares/ Greenpeace
“Elas falavam de forma triste, como se um ente querido estivesse muito doente”. Foi assim que Katley Ellen explicou como foram suas conversas com as pessoas nas praias impactadas de óleo em Fortaleza.
Nos dias 12 e 13 de outubro, Katley e outros voluntários dos grupos de Fortaleza (CE) e de São Luís (MA) estiveram nas praias onde há mais de um mês estão chegando manchas de petróleo cru, coletaram relatos e imagens da situação. Entre os voluntários estiveram: Ana Carolina Aranha, Cynthia Carvalho, Daniel de Paula, Denison Ferreira, Pedro Tavares e Rodolfo Rodrigo.
“Foi uma experiência angustiante e revoltante ver de perto as manchas, falar com as pessoas, algumas que dependem do mar. Estamos despreparados pra esse tipo de desastre ambiental. Não podemos mais investir nesse tipo de extração de petróleo”, disse Katley. 
Em Fortaleza, as praias estavam mais vazias do que o esperado para um fim de semana de feriado. Em Sabiaguaba, a área mais impactada da cidade até então, quem estava lá contava que havia saído do mar com óleo em partes do corpo, ou nos pés por pisar na areia.
Eles também estiveram na Praia do Cumbuco que, apesar de não constar na lista oficial do Ibama como impactada, apresentava de pedaços de óleo cru entre de 2 e 3 centímetros de tamanho, em estado mais sólido, misturados à areia. 
Na Praia da Taíba, o instrutor de surf Danton de Almeida contou que se sujou e viu muitas pessoas, inclusive crianças, preocupadas por terem saído do mar com manchas de óleo pelo corpo. Ali perto foi avistado, dias atrás, um golfinho morto também com manchas. “Ver óleo assim aqui, de um dia pro outro, foi estranho. A gente ficou nervoso e tenso porque a gente trabalha com o mar. Precisa dele pra ganhar dinheiro”.

Outro relato impactante foi o da pequena Joana, de 10 anos. Ela estava surfando com sua mãe e saiu com o pé cheio de óleo. “Eu estava nadando, saí do mar e [meu pé] tava todo preto. Foi esquisito. Eu não tirei assim que saí, fiquei por um tempo. Aí eu vomitei um dia depois”. É difícil afirmar que há relação entre o mal estar e o contato com o óleo, mas o clima de medo e preocupação das pessoas deixa claro a falta de informação para a população sobre os cuidados com o contato com o óleo.


Em São Luís, os voluntários avistaram, além das manchas, petróleo em forma bem sólida, muito parecidas com pedaços de rochas.
Em Alcântara, cidade turística, a guia Ana Carolina Aranha contou que muitos conhecidos ligaram para ela “desesperados” com a notícia de que a praia tinha sido invadida com o óleo. “É muita tristeza principalmente porque um dos nossos orgulhos em Alcântara era mostrar nossas belezas naturais, a praia”.

Já para dona Brasilísia de Jesus, o pedido foi que os governantes tenham “um pouco de piedade deles mesmos e da humanidade”. “Essas coisas matam os peixes e que os pobres vivem disso. E eles também comem”, disse sobre os impactos na pesca.
“Quero que isto seja um exemplo pro mundo não fazer essas coisas. Quanta maldade. quanto peixe morto, tartaruga… Me deixa triste, uma mulher com 72 anos de idade… Um dia desses até sonhei com essas coisas. Eu pedia, tenha piedade de nós.. Mas como? O homem não tem nem piedade de ele mesmo, que dirá da natureza, do lugar onde ele tá vivendo”, contou antes de se nomear uma ativista da natureza, assim como os voluntários do Greenpeace.