Na busca por ouvir e mostrar a realidade dos atingidos, temos encontrado pessoas que já veem suas vidas transformadas pelo óleo, mas não esmorecem com as manchas que insistem em chegar
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Funcionários
de uma empresa foram liberados a tarde para atuarem como voluntários na
praia do Pau Amarelo, em Recife (PE) © Davi Martins / Greenpeace
Ao longo do dia, as praias são tomadas não por banhistas, mas por voluntários que recolhem o óleo da areia ou do mar. As grandes quantidades saem em pás, já as pequenas precisam ser coletadas em peneiras e material de jardinagem. É um trabalho árduo, delicado e com riscos para a saúde, mas do qual as pessoas não estão abrindo mão, pois para muitas delas a praia limpa é sua sobrevivência. Resolver o problema por conta própria se tornou mais urgente do que esperar medidas do governo.
Os nordestinos, de fato, não têm tempo a perder. “Nossas vidas mudaram para sempre nos últimos dias”, me conta Giselda Sales, do Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral em Gaibu, litoral sul de Pernambuco. Conversamos com ela e outros nove representantes de organizações sociais na noite do dia 24 de outubro. A reunião formalizou a criação do Comitê Popular de Monitoramento Ambiental, um grupo que está atuando voluntariamente e ativamente para combater o petróleo e – principalmente – cobrar do governo medidas para atenuar os prejuízos sociais e econômicos para a população.
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A população tem sido a protagonista nesta luta contra o óleo © Davi Martins / Greenpeace
As pessoas têm sido os principais atores neste cenário de crise. Gerson Dantas, por exemplo, vive há 30 anos na praia do Janga (PE) e tem um bar simples na beira da praia. No dia 23 de outubro, pela manhã, da frente de seu estabelecimento, avistou uma mancha grande chegando na praia. “Eu comecei a ligar para todas as emissoras, mas só dava ocupado ou caixa postal. Aí passei pros grupos de Whatsapp até alguém do CPRH [Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos] ficar sabendo e me ligar pra confirmar. Duas horas e meia depois, chegou aqui a prefeitura, e depois os voluntários. A gente usou até tábua de madeira para tentar evitar que o óleo atingisse as pedras daqui, mas era pesado demais, não deu”, contou.
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Seu Gerson Dantas conta a aflição de ver as manchas de óleo chegarem © Davi Martins / Greenpeace
No final do dia, fomos até a praia do Pau Amarelo, onde cerca de 200 pessoas trocaram o escritório da firma pela praia. A empresa dispensou os funcionários ao meio-dia e os levou para fazer limpeza, onde o óleo ainda estava mais concentrado na água. Com equipamentos, eles estavam em bem maior número do que os militares. “Se a gente quer vir aqui no fim de semana curtir, a gente tem que cuidar também, né”, diz uma das voluntárias.
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