por
Thais Herrero
Na busca por ouvir e mostrar a realidade dos atingidos, temos
encontrado pessoas que já veem suas vidas transformadas pelo óleo, mas
não esmorecem com as manchas que insistem em chegar
Estar no Nordeste, em algumas das
praias mais bonitas do Brasil, tem sido uma experiência amarga e
inquieta pela continuidade das manchas de petróleo cru que ainda avançam
pelo mar, praticamente escondidas, até se revelarem na costa. E em
Pernambuco todo dia chega um pouco mais de óleo em algum ponto. E todo
dia dezenas de grupos de Whatsapp amanhecem com mensagens avisando onde
ele apareceu.
Ao longo do dia, as praias são tomadas
não por banhistas, mas por voluntários que recolhem o óleo da areia ou
do mar. As grandes quantidades saem em pás, já as pequenas precisam ser
coletadas em peneiras e material de jardinagem. É um trabalho árduo,
delicado e com riscos para a saúde, mas do qual as pessoas não estão
abrindo mão, pois para muitas delas a praia limpa é sua sobrevivência.
Resolver o problema por conta própria se tornou mais urgente do que
esperar medidas do governo.
Os nordestinos, de fato, não têm tempo
a perder. “Nossas vidas mudaram para sempre nos últimos dias”, me conta
Giselda Sales, do Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral em
Gaibu, litoral sul de Pernambuco. Conversamos com ela e outros nove
representantes de organizações sociais na noite do dia 24 de outubro. A
reunião formalizou a criação do Comitê Popular de Monitoramento
Ambiental, um grupo que está atuando voluntariamente e ativamente para
combater o petróleo e – principalmente – cobrar do governo medidas para
atenuar os prejuízos sociais e econômicos para a população.
“Por enquanto, ainda não temos como
mensurar o impacto na vida de quem vive do mar, do peixe. E aqui são
muitas pessoas”, disse o Padre Ivaldo, da Igreja Anglicana de Gaibu.
As pessoas têm sido os principais
atores neste cenário de crise. Gerson Dantas, por exemplo, vive há 30
anos na praia do Janga (PE) e tem um bar simples na beira da praia. No
dia 23 de outubro, pela manhã, da frente de seu estabelecimento, avistou
uma mancha grande chegando na praia. “Eu comecei a ligar para todas as
emissoras, mas só dava ocupado ou caixa postal. Aí passei pros grupos de
Whatsapp até alguém do CPRH [Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos]
ficar sabendo e me ligar pra confirmar. Duas horas e meia depois,
chegou aqui a prefeitura, e depois os voluntários. A gente usou até
tábua de madeira para tentar evitar que o óleo atingisse as pedras
daqui, mas era pesado demais, não deu”, contou.
Um dia depois, a praia ainda estava
cheia de óleo e um grupo de 50 voluntários trabalhavam com a equipe da
prefeitura. “Foi bonito ver como o pessoal chegou aqui. No começo veio
gente sem luva, sem preparo, mas a vontade de impedir o desastre era
grande demais. Porque você sabe, fica ruim pro peixe, pro pescador, pra
quem vem pra praia. Depois chegaram os equipamentos. Vamos torcer pra
gente ficar livre disso de uma vez por todas, né?”, diz Gerson,
esperançoso.
No final do dia, fomos até a praia do
Pau Amarelo, onde cerca de 200 pessoas trocaram o escritório da firma
pela praia. A empresa dispensou os funcionários ao meio-dia e os levou
para fazer limpeza, onde o óleo ainda estava mais concentrado na água.
Com equipamentos, eles estavam em bem maior número do que os militares.
“Se a gente quer vir aqui no fim de semana curtir, a gente tem que
cuidar também, né”, diz uma das voluntárias.
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