A Semana Mundial da Alimentação nos faz refletir que uma dieta saudável é melhor para nossa saúde e a do planeta. Mas precisamos cobrar dos nossos governantes
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Por uma alimentação saudável para todas as pessoas © Mitja Kobal / Greenpeace
Nessa época, eu virei a “louca da alimentação saudável”: pesquisava em sites como o da Sociedade Vegetariana Brasileira, trocava ideia com donos de restaurantes, marcava presença em congressos de alimentação… queria garantir uma boa ingestão de cálcio, proteína e outros nutrientes e tentava acalmar minha mãe, mostrando que eu não precisaria de carne para viver bem.
Nesse processo de começar a olhar com mais atenção para o que eu estava colocando no meu prato, descobri que comer é um ato político, mesmo. Só o fato de eu poder escolher o que consumir já me coloca em um lugar privilegiado. Uma reportagem recente da Agência Pública, por exemplo, traz histórias dramáticas de quem busca comida nas latas de lixo de São Paulo. Em seguida, conclui que, ao deixar de comer carne, estava contribuindo para diminuir minha pegada ecológica no planeta. A forma como produzimos alimentos no mundo hoje é altamente impactante. Enquanto a gente se delicia com pratos cheios de picanha, a Amazônia e o Cerrado estão sendo desmatados, principalmente por conta da produção pecuária.
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Ativismo nas ruas © Mariana Campos
Tudo fez sentido quando comecei a perceber que todos essas questões estão conectadas. No fundo, o motivo inicial de eu ter adotado o vegetarianismo – não concordar com a forma cruel como geralmente os animais são confinados e abatidos – está intimamente relacionado com as razões de quem para de comer carne por questões ambientais e com a dificuldade de acessar produtos orgânicos. O culpado disso tudo: o modelo agrícola convencional. Dentro dessa lógica de produção industrial, grandes áreas de floresta são convertidas em pasto ou plantação de soja para ração animal; nossos alimentos são pulverizados por veneno com subsídios do governo; recursos naturais essenciais como água e solo são contaminados; trabalhadores rurais são frequentemente explorados; e animais são maltratados. Além disso, no Brasil, a agropecuária corresponde a 32% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera. Só de pensar que podemos levar vários itens desse pacotão do mal para o nosso prato de comida todos os dias, meu estômago fica embrulhado.
A gente muda o mundo
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Mais vegetais, menos carne © Caio Paganotti
Para conseguirmos essa mudança tão necessária, é fundamental que cobremos dos nossos governantes um rearranjo na forma de produzir, distribuir e comercializar os alimentos, para que mesmo as pessoas mais pobres tenham condições de adquirir alimentos realmente saudáveis, com mais vegetais, menos carne e menos agrotóxicos e, de preferência, produzidos localmente. Isso também é ser ativista!
Ao mesmo tempo em que políticas públicas são fundamentais para trazer as mudanças estruturais de que precisamos, vale também a conscientização do quanto nossas decisões individuais contribuem para o bem-estar do planeta. Se você pode escolher colocar no seu prato alimentos que não carreguem todos os problemas socioambientais que listei nesse texto, por que não começar agora? Aproveite a Semana Mundial da Alimentação e se inspire! Informe-se, experimente receitas baratas e saborosas. Uma dieta mais rica em vegetais é ótima não só para a nossa saúde e o clima – é melhor também para as florestas, rios e oceanos, e para a segurança alimentar global.
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