Diante de representantes de cerca de 100 países, a liderança indígena denunciou a destruição e o esbulho de seu território, em Rondônia

André
Karipuna e sua mãe, Katiká Karipuna, têm suas vidas ameaçadas pela
ostensiva destruição da floresta causada por madeireiros e invasores. ©
Rogério Assis / Greenpeace
Saiba mais sobre a dramática realidade do povo Karipuna:
Liderança do povo Karipuna, que vive às margens do Rio Jaci Paraná, em Rondônia, André também reiterou a obrigação estatal de proteger as terras ocupadas por povos indígenas e outras comunidades tradicionais contra a invasão e a exploração dos recursos naturais por parte das empresas.
Apesar da Terra Indígena (TI) Karipuna ter sido homologada em 1998, análises realizadas pelo Greenpeace a partir de imagens de satélite e de um sobrevoo confirmam que mais de 11 mil hectares de floresta já foram destruídos, sendo que 80% deste total ocorreu nos últimos três anos. Além do ostensivo roubo de madeira, invasores têm feito loteamentos da terra com o propósito de vendê-la. O povo Karipuna, composto por uma população de 58 pessoas, quase foi dizimado na época do contato com a sociedade não indígena e atualmente sofre constantes ameaças e intimidações pelos invasores.
Segundo o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber Buzatto, também presente na reunião da ONU, a manifestação do cacique Karipuna em um espaço multilateral é fundamental para criar uma pressão política internacional sobre o governo brasileiro. “O Brasil deve assumir a sua responsabilidade constitucional de executar as medidas necessárias e urgentes para que os invasores da Terra Indígena Karipuna sejam retirados e que todos que se beneficiam desta invasão sejam devidamente identificados e punidos”, disse ele.
A fala de André Karipuna na ONU ocorreu durante a 4a sessão do Grupo de Trabalho Intergovernamental sobre Empresas Transnacionais e outras Empresas de Negócios com respeito aos Direitos Humanos (OEIGWG), que acontece nesta semana na cidade suíça. Desde 2014, quando foi criado, este Grupo de Trabalho tem como propósito a elaboração de um Tratado Vinculante que obrigue as empresas nacionais e internacionais a respeitarem os direitos humanos em todas as suas cadeias de produção.

Fotos georeferenciadas evidenciam áreas invadidas por madeireiros dentro da Terra Indígena Karipuna
Para Raphaela Lopes, advogada da Justiça Global, o Tratado Vinculante pode contribuir na atual correlação de forças assimétricas que existe entre as empresas transnacionais e os povos indígenas e as comunidades tradicionais, por exemplo. “Com um bom Tratado, seria possível restringir o poderio das empresas em relação às políticas de demarcação dos territórios, promovendo uma vitória dos direitos destes povos e comunidades diante dos privilégios empresariais”. Segundo ela, são, justamente, os indígenas, os camponeses, os extrativistas e os povos tradicionais as maiores vítimas deste avanço: “São eles os que mais morrem devido à cobiça das empresas pelas suas terras”, declara.
Diversas organizações brasileiras têm participado da elaboração do Tratado Vinculante desde 2014, como a Justiça Global, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (Abia), o Homa – Centro de Direitos Humanos e Empresas (da Universidade Federal de Juiz de Fora) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dentre outras.
Todos os Olhos na Amazônia
A Associação Indígena do Povo Karipuna Abytucu Apoika, o Greenpeace e o Cimi estão trabalhando juntos no monitoramento da invasão da TI Karipuna, e para que os criminosos sejam responsabilizados. Estas organizações fazem parte da coalisão “Todos os Olhos na Amazônia”, que tem como objetivo principal estimular a ação em rede como estratégia para apoiar a luta de povos indígenas e comunidades tradicionais pela conservação de suas florestas. Outros parceiros nesta iniciativa são a Fase-Amazônia, a Coiab e a Artigo 19, no Brasil, e a Witness e a Hivos, dentre outras que atuam no cenário internacional.
Assista à fala de André Karipuna na ONU aqui.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.