Thursday, June 6, 2013

Protestos não são de hoje

Bombas, balas e gás: polícia enfrenta com brutalidade os manifestantes na praça Taksim. Foto: © Volkan Cagali/Greenpeace Os protestos que tomaram conta da Turquia começaram com algumas pessoas que se colocaram na frente de tratores, contra a destruição de nossos espaços públicos, dos nossos rios e das nossas florestas. A pressão sobre o meio ambiente e sobre a população, que começou há uma década sob o slogan “transformação urbana”, cresceu nos últimos meses com uma penca de novas leis e regulações que detonam ainda mais o meio ambiente. As leis que resguardam o meio ambiente nas obras de desenvolvimento vêm sendo sistematicamente enfraquecidas, para garantir que grandes projetos sigam em frente sem o devido controle, e sem levar em conta os aspectos humano e ambiental. As avaliações de impacto ambiental tiveram suas regras mudadas compulsoriamente, favorecendo os investidores. As legislação florestal também foi transformada. A lei conhecida como “2B” redefiniu algumas florestas como “não-florestas”, permitindo que sejam devastadas para dar lugar a novas construções. Recentemente, o governo ainda adicionou uma nova categoria: “florestas que não trazem benefício por sua proteção”. Essas mudanças, somadas à política de “transformação urbana”, alimentaram um período de obras sem controle por toda a Turquia. Recentemente, o governo também apresentou ao paralemto um novo projeto de lei de “proteção à natureza e à biodiversidade”. O esboço da lei abre caminho para uma exploração desgovernada do meio ambiente. De centenas para milhões de pessoas: todos pelo direito de um ambiente limpo e equilibrado. Foto: © Volkan Cagali/Greenpeace Vinte anos atrás, um popular protesto contra uma nova mina de ouro se transformou em demanda pelos direitos democráticos da população. Por anos, manifestações contra usinas hidrelétricas e a carvão enfrentaram intimidações como as que assistimos atualmente. Há dois anos, a polícia passou 12 horas enfrentando manifestantes com gás de pimenta e canhões de água em uma usina de carvão. Hoje, o mesmo gás está sendo usado no coração da república, em Taksin, Istambul. O que estamos ouvindo hoje é a voz da população cuja força foi ignorada por uma década. Ela nasceu há anos, defendendo a premissa de que direitos humanos e natureza são essenciais para a vida. Um movimento que começou pacificamente para defender o único espaço verde no coração de Istambul foi recebido com gás lacrimogêneo e vindo de uma polícia truculenta. Foi um protesto em defesa do artigo 56 da constituição turca, que determina: temos o direito de viver em um ambiente saudável e equilibrado, e é dever do Estado e de seus cidadãos garantir que nosso meio ambiente permaneça limpo e saudável. É esse o motivo de termos nos reunido no parque Gezi, no dia 27 de maio, para proteger a última área verde que sobrou em nosso distrito. Esta é uma luta por direitos que começou com centenas de pessoas e agora já chega a milhões. Sua legitimidade não veio de um viés político ou do Twitter, mas de um valor compartilhado por todos, relacionado ao meio ambiente. Os tomadores de decisão devem levar em consideração as preocupações e os desejos por mudança expressos legitimamente e com um imenso apoio popular. *Pinar Aksogan trabalha no escritório do Greenpeace em Istambul, Turquia, localizado próximo ao local dos protestos.

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