Em sinal de paz, manifestante ocupa av. Paulista com rosas
brancas nas mãos, pedindo redução no preço da tafira de metrô e ônibus.
(foto: Brunno Marchetti)
A discussão da tarifa foi apenas o estopim de uma demanda há tempos reprimida: a melhoria e expansão do transporte público nas grandes cidades brasileiras passa por uma revisão de prioridades do governo e vultuosos investimentos em mobilidade, que tornem o ir e vir de todos um direito mais realista.
Com décadas e décadas de incentivo ao transporte individual, as megacidades brasileiras foram cedendo espaços de convivência e de troca social aos automóveis. O que os jovens estão fazendo, agora, é se levantar contra esse modelo insustentável e retomar a rua, espaço que lhes é de direito.
Considerando a questão da mobilidade essencial para a construção de cidades mais sustentáveis, acessíveis e democráticas, pedimos às autoridades que aceitem a pressão das ruas como forma de repensar suas políticas de mobilidade urbana. O financiamento do transporte público precisa ser tratado como uma política nacional. Se a discussão do transporte se concentrar simplesmente no orçamento municipal, não haverá solução.
Precisamos de mais transporte público, de melhor qualidade e mais barato. Também precisamos de políticas pensadas especialmente para facilitar o acesso da população mais carente e de públicos que mais necessitam do transporte e que não têm como arcar com a despesa, como os estudantes.
Também são necessárias medidas que desestimulem o transporte individual e um redirecionamento dos subsídios dos combustíveis fósseis para o transporte público.
Os protestos vão continuar e o poder público precisa estar aberto ao diálogo. É muito perigoso para a democracia quando os governos viram as costas aos anseios da juventude e respondem com métodos típicos dos anos de chumbo. Balas de borracha, bombas de efeito moral e cassetetes são incapazes de calar inconformismos e desejos de mudanças.
O Greenpeace é uma organização que tem em seu DNA o protesto pacífico como forma de cobrar mudanças de atitudes de governos e de corporações. Lamentamos as cenas divulgadas nos últimos protestos e pedimos prudência de ambos os lados. De qualquer maneira, defenderemos sempre o direito à manifestação não violenta, afinal ela é um instrumento da democracia.
O papel da força policial, que representa o Estado, é implementar a lei e garantir a segurança. Jamais usar a violência para coibir a livre manifestação do pensamento e para promover um ambiente de pânico e caos. O governador Alckmin deve se posicionar de forma favorável ao direito de manifestação pacífica e coibir as cenas de violência policial, inaceitáveis num estado democrático.
Marcelo Furtado
Diretor-executivo do Greenpeace Brasil
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