Povo Munduruku sai em passeata em Jacareacanga, em abril (©Greenpeace/Eliza Capai).
Mais de dois meses de luta e resistência depois, o povo Munduruku
teve um alento. Em troca da liberação dos três biólogos de uma empresa
terceirizada pela Eletrobrás, que foram encontrados pelos indígenas
dentro de seu território e estavam sob custódia desde a última
sexta-feira em Jacareacanga (PA), a Funai (Fundação Nacional do Índio)
anunciou a suspensão dos estudos de impacto ambiental na região,
realizados para a construção de um complexo hidrelétrico no rio Tapajós,
morada dos indígenas.
De acordo com o órgão indigenista, a suspensão foi uma exigência dos
Munduruku para liberar o grupo de pesquisadores. O governo aceitou o
acordo e prometeu agendar uma reunião com a lideranças indígenas para
julho, a fim de pactuar um processo de consulta prévia, como prevê a
Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), com
relação a qualquer empreendimento que impacte diretamente os povos
indígenas do Brasil.
As lideranças disseram se sentir felizes com a suspensão, mas
afirmaram que a sua principal demanda é a anulação total das pesquisas.
“Libertamos os biólogos, mas vamos continuar na nossa luta. A gente não
quer que os estudos sejam suspensos. Nós queremos que os estudos e as
obras sejam cancelados, a suspensão é uma vitória apenas parcial”,
afirmou Paygomuyatpu Munduruku, chefe dos guerreiros.
Contra energias que custem a vida
Durante os últimos meses, os indígenas realizaram inúmeras manifestações exigindo a suspensão das obras. Em fim de abril, depois de uma assembleia que reuniu mais de 200 lideranças, os Munduruku marcharam pelas ruas de Jacareacanga.
Em maio, juntaram-se a outros indígenas da bacia do Tapajós e médio Xingu e ocuparam o principal canteiro de obras da usina de Belo Monte. Na capital federal, ocuparam a sede da Funai e protestaram em frente ao Ministério de Minas e Energia e ao Palácio do Planalto.
Os Mundurukus são contrários à construção de hidrelétricas e exigem a
suspensão dos estudos de barragens no rio Tapajós e Teles Pires, que
afetarão diretamente o modo de vida de cerca de 13 mil pessoas de seu
povo. Em abril os estudos já haviam sido suspensos, mas voltaram à tona.
Segundo eles, mesmo com as manifestações e negociações em Brasília, as
pesquisas na região não pararam e os índios se sentiram traídos pelo
governo.
O Greenpeace acredita que o governo precisa perceber que os custos
socioambientais da construção de hidrelétricas não compensam a energia
que será gerada. Além disso, o Brasil é rico em fontes energéticas
alternativas, como a eólica, a solar e a biomassa. Basta que o Estado
conceda incentivos ao seu desenvolvimento, e elas serão suficientes para
suprir a demanda do país.
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