Thursday, June 6, 2013

País do futuro. Ou do passado?

A pecuária é a atividade econômica que mais usa trabalho escravo no Brasil. Foto: © Ricardo Funari / Lineair / Greenpeace Quando o assunto é pecuária ou minério de ferro, o Brasil faz carnaval: os setores – com cadeira cativa na Amazônia – geram rios de dinheiro no país, como poucos. Mas debaixo das patas do gado e por trás da fumaça das carvoarias, o cheiro não é de riqueza. Mas de escravidão. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as duas atividades foram onde mais se resgatou trabalhadores em condições análogas à escrava no último ano. A notícia foi publicada pela ONG Repórter Brasil. Só em 2012, a Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo do MTE resgatou um total de 2750 trabalhadores. Deste total, 1250 estavam na Amazônia Legal. Só em fazendas de gado, foram 497 trabalhadores libertados. E nas carvoarias que alimentam a produção de minério de ferro, foram 452 pessoas. Em geral, os indivíduos eram encontrados trabalhando em condições degradantes, seja derrubando floresta para alimentar os fornos de carvão, abrindo pastos para criação de gado ou construindo cercas para a boiada. Trabalhador resgatado em carvoaria do Pará. Foto: © Marizilda Cruppe / Greenpeace Um levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) reforça as evidências, e mostra que a realidade pode ser ainda pior. Segundo os dados da organização, só em 2012 foram denunciados 2086 casos de trabalhadores em regime de escravidão nos estados da Amazônia Legal. Um cenário de absoluto contraste com a imagem de país moderno e saudável que os setores costumam vender lá fora. E injustificável quando se bate o olho nas contas: no ano passado, somente a pecuária gerou nada menos que US$ 15,62 bilhões em exportações. “Em um país que veste a camisa de rico e moderno, essa realidade é intolerável. Os consumidores e o próprio mercado não aceitam mais produtos que custem a destruição das nossas florestas e o sangue da nossa gente”, diz Rômulo Batista, da campanha Amazônia do Greenpeace. E algumas empresas já começaram a sentir isso. Em 2009, os três maiores frigoríficos que atuam na Amazônia assumiram o compromisso público de eliminar o desmatamento e o trabalho escravo de sua cadeia de produção. Há dez meses, a indústria de ferro gusa no Maranhão – parte fundamental na cadeia produtiva do minério de ferro – assinou o mesmo compromisso. O Greenpeace, junto com outros setores da sociedade civil e a população brasileira, vai continuar de olho.

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