Greenpeace alerta para um prisma pouco discutido: altos e baixos no
padrão de chuva cada vez mais frequentes, graças às mudanças climáticas.
Com torneira gigante na Praça da Sé, Greenpeace alerta para a crise da água e para a crise do clima (Otávio Almeida/Greenpeace)
A praça da Sé foi tomada hoje por uma fila de pessoas que queriam
encher baldes e canecas d'água na torneira gigante ali montada pelo
Greenpeace. Todos queriam garantir o seu, já que altos e baixos no
padrão de chuva serão cada vez mais frequentes graças às mudanças
climáticas, e a crise de água que atinge o Estado de São Paulo desde o
começo do ano pode se repetir nos próximos anos. Afinal, a crise da água
é também crise do clima.
A crise da água é resultado de uma série de questões que os paulistas
conhecem bem: falta de cuidado das nascentes, desmatamento do mata
ciliar, poluição, desperdício e má gestão. Agora há um novo fator, que
intensifica todos os problemas anteriores e que coloca uma nova camada
de desafio no planejamento e na gestão dos recursos naturais.
Eventos climáticos extremos como a seca que atinge São Paulo serão
cada vez mais intensos e comuns com a elevação da temperatura média do
planeta. Rezar para São Pedro aumentar o nível das represas, como os
governantes têm feito, para garantir o abastecimento de água e de
energia para a população pode não ser suficiente.
“As mudanças climáticas e os eventos extremos decorrentes delas não
são levados em consideração quando obras de infraestrutura e políticas
públicas são pensadas”, diz Cristina Amorim, coordenadora da Campanha de
Clima e Energia do Greenpeace Brasil. “O planejamento baseia-se no
registro do que aconteceu em anos anteriores. Só que o passado não
representa mais o que se espera do futuro.” Na prática, a chuva tão
esperada, quando chegar, pode vir diferente de antes - e ninguém está
preparado para isso.
É preciso fazer mais e melhor. Começando pelo poder público, que
precisa inserir cenários de mudanças climáticas ao decidir como e quando
serão feitos os investimentos e a gestão dos recursos naturais.
"Devemos diminuir a quantidade de gases do efeito estufa que jogamos no
ar, e precisamos desenvolver e implementar políticas de adaptação, para
que os efeitos no clima impactem menos a população", afirma Amorim.
Infelizmente, nada disso tem sido feito até agora, como mostram
exemplos recentes como a cheia do rio Madeira, a estiagem que atingiu a
produção de café e a própria crise energética, outra consequência da
seca. "A ciência pode não falar que o que acontece hoje é consequência
inequívoca do aquecimento global, porque o processo de formulação do
conhecimento exige tempo. Mas ninguém tem mais dúvidas de que as coisas
mudaram", diz a coordenadora da campanha. "E todos, em maior ou menos
grau, sofrem com seus efeitos. Quanto antes começarmos a agir, melhor."
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