Thursday, May 15, 2014

Chevrolet responde mas não fala

Após ser questionada por consumidores em suas redes sociais, Chevrolet envia carta resposta ao Greenpeace. No entanto, a empresa não demonstra sinais de que pretende liderar o aprimoramento da eficiência energética dos veículos brasileiros.


Chevrolet responde à campanha de Eficiência Energética (©Greenpeace) 

Desde abril, o Greenpeace lançou uma campanha desafiando Fiat, Volkswagen e Chevrolet – líderes em vendas de automóveis no Brasil – a produzir veículos que consumam menos combustíveis e emitam menos gases estufa e a investir em tecnologias de motores elétricos. A primeira empresa a se posicionar publicamente foi a Fiat, com uma resposta que apenas enfatiza  o que a empresa faz hoje e sem estabelecer um dialogo ao pedido feito pelo Greenpeace.
Na ultima sexta-feira, a Chevrolet (GM-General Motors do Brasil) se juntou ao cordão de respostas pouco conclusivas. Depois de ser questionada por internautas em suas redes sociais na última sexta-feira, a empresa publicou uma carta direcionada ao Greenpeace na qual fala que acredita que já faz a sua parte. No entanto, a comunicação da empresa não traduz como esses investimentos se traduzem em carros mais eficientes, com menor consumo energético, e nem como planeja liderar melhorias nesse aspecto.
Como na resposta dada pela FIAT, a GM se restringe a dizer que em curto prazo o uso de biocombustíveis é a solução mais viável. Como mencionamos em nossa resposta à FIAT,  motores flex, abastecidos com etanol,  não significam ganho de eficiência energética (menos litros consumidos por km) – desde que foi criada, a tecnologia flex avançou pouco nesse sentido. É preciso ir além, com a produção de carros que tenham menor consumo energético, independente do combustível utilizado.
A GM ainda menciona diversos processos que adota em sua cadeia produtiva para mitigar impactos ambientais. Com certeza,  melhorar o processo de produção para diminuir riscos e danos ambientais é uma adaptação importante e responsabilidade indispensável para todas as grandes empresas. No entanto, a argumentação  sobre redução de impactos ambientais da GM foi feita principalmente em cima do seu processo produtivo mas  pouco foi falado sobre o produto que é oferecido. A empresa não deixou claro como está aprimorando ou pretende aprimorar a eficiência energética e reduzir o consumo de combustível dos carros que irão ocupar as cidades e estacionar na garagem de seus consumidores.
Nos Estados Unidos, país de origem da montadora, já existe uma meta obrigatória de eficiência energética que a empresa precisará cumprir até 2025. Para o mercado americano, que conta com uma frota expressiva de carros maiores e SUVs, o desafio que a GM vai ter que obedecer é ambicioso e já está em curso. Como uma empresa internacional, a melhoria dos veículos oferecidos não pode ficar restrita apenas ao seu país de origem. O desafio de enfrentamento às mudanças climáticas é global e avanços feitos pela empresa precisam acontecer também no Brasil.
Outro ponto importante que a GM menciona é que a longo prazo a transição para eletricidade e hidrogênio tendem a ser a resposta pelo potencial de produção através de fontes renováveis de energia limpa . No entanto, apesar de reconhecer essas tecnologias como solução, a empresa não explica como planeja implementar, se envolver ou investir nessa transição.
O setor de transporte é hoje uma das principais fontes de gases de efeito estufa no país. Os impactos das mudanças climáticas já podem ser sentidos no dia a dia, como as enchentes que ocorreram no norte do país e as estiagem que agora atingem o sudeste. . De acordo com dados do ultimo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climátticas), o setor é o que apresenta o maior potencial de crescimento de emissões até 2050, principalmente em países emergentes como o Brasil. Por outro lado, a Agência Internacional de Energia (IEA, 2012) detalhou que é possível aumentar a eficiência dos veículos numa escala mundial. Essa melhoria pode ser alcançada através da utilização das tecnologias já existentes e comercialmente disponíveis.
 A solução do problema precisa de esforços diversificados e igualmente importantes. Mobilidade urbana ocupa uma posição central nessa discussão e precisa ser pensada para as pessoas e não só os veículos. Junto a isso, inovações tecnológicas nos veículos que facilitam nosso deslocamento diário também precisam acontecer. Os governantes precisam assegurar transporte público de qualidade, diversificação dos modos de transporte, infraestrutura para diversas formas de deslocamento e estímulo ao uso do transporte publica. De outro, as montadoras podem oferecer soluções em mais curto prazo para produzir veículos com menor consumo energético e  emissão de gases de efeito estufa. Aos cidadãos, cabe não só o papel de cobrar da indústria carros melhores e do governo melhor mobilidade urbana, mas também de se entender como um elemento de mobilidade urbana.

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