Greenpeace relembra acordo de 2012 não cumprido pelas guseiras do
Maranhão e cobra envolvimento das empresas norte-americanas que importam
o minério.
Em seminário internacional 'Carajás 30 anos', Paulo Adário, da campanha
da Amazônia do Greenpeace, fala sobre a ausência de compromisso das
guseiras maranhenses (©Greenpeace)
Em seminário internacional que relembra os 30 anos do Projeto Grande Carajás
– projeto de mineração, siderurgia e desenvolvimento regional – o
Greenpeace esteve presente para falar sobre o mercado mundial de minério
de ferro e fazer uma avaliação crítica dos processos desencadeados por
esses grandes investimentos.
Paulo Adário, da campanha da Amazônia do Greenpeace, lembrou que há
dois anos, a organização esteve em São Luís, mais precisamente na baía
de São Marcos, protestando para evitar que o navio Clipper Hope chegasse
ao Porto de Itaqui. “Faz dois anos que estivemos aqui e faz exatos dois
anos que sentamos para conversar com as empresas pela primeira vez. Em
agosto de 2012, a indústria de ferro gusa do Estado do Maranhão assinou
um compromisso público com critérios mínimos de controle de desmatamento
e de respeito às leis trabalhistas. Até agora nada foi feito”, disse
Adário.
O cargueiro Clipper Hope deveria fazer um carregamento de mais de 30
toneladas de ferro gusa para os Estados Unidos, matéria prima do aço que
deixa um rastro de destruição e ilegalidades nos Estados do Pará e do
Maranhão.
Leia aqui o relatório 'Carvoaria Amazônia' que denuncia a cadeia produtiva de ferro gusa
A produção de ferro gusa depende de carvão que, no caso brasileiro, é
vegetal e que em parte vem de madeira proveniente de desmatamento
ilegal de unidades de conservação e de territórios indígenas. Além
disso, as carvoarias que abastecem as siderúrgicas utilizam mão de obra
em condições análogas à escravidão.
Paulo Adário continuou: “as empresas de gusa do Maranhão ganharam o
prazo de um ano para montar um programa de melhoria e de monitoramento
da produção de carvão e mais um ano para testar esse modelo. Faltam
apenas três meses para que entreguem o que prometeram, mas se não
fizeram até agora, não é nesta reta final que vão fazer. O tempo dessas
empresas acabou.”
O Greenpeace não considera as empresas de ferro gusa do Maranhão
confiáveis e reconhece que elas não são social e ambientalmente
responsáveis. A organização enviou uma carta para as maiores compradoras
do minério nos Estados Unidos – GM, Ford, BMW, Mercedes Benz, Nissan,
Cargill, Steel Mill e John Deere – recomendando que elas não comprem
ferro gusa do Maranhão até que o compromisso estabelecido em 2012 seja
honrado.
“Enviamos uma carta explicando o porquê não podemos confiar nas
guseiras maranhenses e ressaltamos que o envolvimento das empresas
compradoras e dos usuários finais do ferro-gusa é fundamental para o
sucesso da implementação do compromisso”, disse Adário. “Agora, as
empresas compradoras sabem que devem conversar diretamente com os
movimentos sociais do Maranhão, são eles quem podem garantir se os
compromissos de proteção ambiental estão sendo cumpridos ou não.”
'Carajás 30 anos'
Organizado por Justiça nos Trilhos, Cáritas, Fórum Carajás, MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), GEDMMA (Grupo de
Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente) e apoiado por uma
ampla rede de movimentos sociais e comunitários, sindicatos e pastorais
nos estados do Pará e Maranhão, o seminário internacional 'Carajás 30 anos' avalia os inúmeros impactos sociais, econômicos, culturais e ambientais do Programa Grande Carajás.
A programação segue até sexta-feira (9 de maio), com mesas redondas,
grupos de trabalho e atividades culturais que acontecem na UFMA
(Universidade Federal do Maranhão). Haverá também um ato público do qual
o Greenpeace participará na quinta-feira, a partir de 14h.
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