A população mundial usa mais recursos naturais do que o planeta consegue regenerar. A cada ano, entramos no “cheque especial” da Terra mais cedo. E a forma como produzimos nossos alimentos contribui enormemente para esse déficit ambiental
Este ano, o dia 1º de agosto ficou marcado como o “Dia da Sobrecarga da Terra”, data em que o volume de recursos naturais usados pela humanidade excede a capacidade de renovação dos ecossistemas da Terra, no período de um ano. Ou seja, em apenas 212 dias a população mundial consumiu alimentos, água, madeira e outros recursos calculados para 365 dias.
A data, que tem ocorrido mais cedo a cada ano, é indicada pela organização Global Footprint Network por meio de um cálculo sobre a capacidade anual de regeneração dos recursos naturais em relação ao que é consumido mundialmente. Leia mais sobre o Dia da Sobrecarga da Terra e como esse cálculo é feito aqui.
Globalmente, a produção de comida corresponde a 26% do esgotamento de recursos deste ano, o que reforça a necessidade de adotarmos urgentemente formas mais sustentáveis de produção e consumo de alimentos. No Brasil, temos um modelo agrícola dominante que tem fechado completamente os olhos para esta realidade e negado a necessidade de formas mais saudáveis de produzir.
Pior e mais agressivo que o próprio modelo de produção agrícola são seus ferrenhos defensores e verdadeiros negacionistas desse processo de sobrecarga: a bancada ruralista. Esses parlamentares, que representam maioria hoje no Congresso, têm feito esforços gigantescos para garantir as leis que os beneficiam direta e imediatamente.
A discussão do Pacote do Veneno foi emblemática. Mesmo com o posicionamento da comunidade científica e da sociedade, contrárias ao projeto, os ruralistas rasgaram, sem qualquer constrangimento, a integridade do meio ambiente, a saúde da população e sua segurança alimentar, em favor de um texto que quer facilitar ainda mais a entrada de veneno no nosso país. A negação de um novo modelo e a insistência em utilizar mais e mais agrotóxicos dá tração cada vez maior para este modelo injusto, tóxico e insustentável. E, dessa forma, o modelo convencional segue “tratorando” a terra e seus recursos, esgotando-os e destruindo nossa capacidade futura de produção.
Alarmismo? Catástrofe? Não, apenas a realidade que está diante de nossos olhos. Parlamentares ruralistas reafirmam diariamente que não há espaço para diálogo e que não dão a mínima para a saúde da população e do planeta. Então, cabe à sociedade provocar a mudança, seja pelos seus hábitos de consumo ou pelo voto. Precisamos continuar nos mobilizando para que o Pacote do Veneno não vire realidade e para que a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA) seja estabelecida e implementada, garantindo uma alimentação mais saudável, mais diversificada, mais justa e mais sustentável.
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