O Governo anuncia que cumpriu sua meta de clima para 2020 com metodologia duvidosa e sem considerar os impactos dos retrocessos ambientais que vem promovendo

A
Floresta Nacional de Aripuanã, no Amazonas, é uma unidade de
conservação ameaçada de redução, que já sofre com o desmatamento ao
redor de sua fronteira © Daniel Beltrá
“Os cálculos que o governo utiliza para anunciar a redução das emissões de CO2 por desmatamento deveriam ser transparentes”, diz Cristiane Mazzetti, nossa especialista em Desmatamento aqui no Greenpeace Brasil. Ela explica que, ao incluir nessa conta o que as Terras Indígenas (TIs) e as Unidades de Conservação (UCs) retiram de carbono da atmosfera, o governo levanta uma série de dúvidas, porque parece não considerar a realidade. Embora essas terras sejam fundamentais para a proteção das florestas, elas vêm sofrendo com invasões, retirada ilegal de madeira, desmatamento e queimadas, ou seja, estão perdendo as árvores e o solo natural que funcionam como grandes sorvedouros e armazéns de carbono. “Isso afeta a capacidade dessas áreas de reduzir nossas emissões”, explica Cris.
Já em relação ao uso pelo governo do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para calcular a redução de emissões também não é um instrumento adequado. O CAR é um sistema no qual os proprietários precisam mapear e informar o quanto possuem de floresta em suas propriedades rurais. “A inclusão de APPs (áreas de preservação permanente) e de Reserva Legal no CAR não faz sentido porque essas áreas já existiam antes. Com a aprovação do novo Código Florestal em 2012, na verdade, as áreas protegidas pela lei diminuíram ao invés de aumentar, portanto, deveriam contabilizar como perda de captura de carbono e não aumento”, afirma Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima.
Além disso, não podemos esquecer, Temer anuncia uma redução de emissões por desmatamento ao mesmo tempo em que propõe e concretiza políticas na direção contrária à proteção da floresta. Exemplos dessa contradição são a medida de redução de áreas protegidas e a Lei 13.465/2017, que incentiva a grilagem de terras, dentre outras propostas que levarão a um aumento do desmatamento e de emissões futuras. Tudo isso coloca em risco, inclusive, o cumprimento brasileiro do Acordo de Paris e pode gerar um custo de 2 trilhões de dólares até 2050 para outros setores da economia compensarem as emissões da floresta, segundo recente estudo publicado na revista Nature.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.