Documento foi entregue na véspera do Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado em 9 de agosto. No Brasil, indígenas nada têm para celebrar, pelo contrário, julho foi marcado por novas medidas de Temer e da bancada ruralista que violam seus direitos
A última investida de Michel Temer e da bancada
ruralista para diminuir os direitos os povos indígenas foi a assinatura
do parecer da Advocacia Geral da União (AGU) que muda a forma como a
administração pública lida com a questão das demarcações de terras
indígenas em todo o país. O parecer da AGU proíbe a revisão de
territórios indígenas já demarcados e estabelece o marco temporal,
permitindo a revisão da demarcação de terras já feitas ou dificultando a
demarcação de novas terras.
Na prática, o marco temporal
anistia as violências cometidas contra os povos até o dia 4 de outubro
de 1988, incluindo políticas de confinamento em reservas diminutas,
remoções forçadas em massa, tortura, assassinatos e até a criação de
prisões especiais. Sua consolidação significaria aos invasores um sinal
de que o Estado brasileiro não pune o espólio de terras indígenas.
Para denunciar à Organização das Nações Unidas (ONU) e
à Organização dos Estados Americanos (OEA) os acontecimentos recentes
que agravam as violações aos direitos dos povos indígenas no Brasil, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e cerca de 50 organizações encaminharam uma atualização da carta enviada em março,
quando foi apresentado o panorama de violações aos direitos indígenas
no Brasil. O objetivo é que a ONU e a OEA cobrem o governo brasileiro,
na próxima sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, pelo
cumprimento dos direitos indígenas nos níveis internacional e nacional e
pela revogação dos vários atos e medidas adotadas que comprometem o
futuro, a dignidade e a integridade física e cultural dos povos
indígenas.
O documento atual propõe que sejam feitas as seguintes recomendações ao governo brasileiro:
1) Suspensão de ações que
criminalizam lideranças indígenas, comunidades e entidades parceiras e,
simultaneamente, o reforço de programas e estratégias de proteção a
defensores de direitos humanos;
2) Restabelecer canais
democráticos de diálogo com povos indígenas e suspender abordagens
militares ou integracionistas em relação a populações e cultura
indígenas;
3) Revogar atos administrativos que violam o direito de povos indígenas à terra, à consulta livre, prévia e informada e à cultura;
4) Assegurar o acesso à justiça para os povos indígenas sem nenhum tipo de discriminação.
>>> Leia a carta completa aqui.
Em maio, o Brasil recebeu mais de 240 recomendações de direitos humanos da ONU. Em junho, três relatores especiais das Nações Unidas e um relator da Comissão Interamericana de Direitos Humanos se uniram para denunciar ataques contra direitos dos povos indígenas e contra a proteção ambiental no Brasil.
“Exemplos clássicos dessas violações estavam e
continuam presentes no licenciamento e instalação de obras de
infraestrutura energética na Amazônia, especialmente na construção de
hidrelétricas, a exemplo de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, que
ignoraram o direito à Consulta Livre, Prévia e Informada dos povos
indígenas da região”, afirma Danicley de Aguiar, da Campanha Amazônia do
Greenpeace Brasil.
A atual administração federal anunciou o desejo de
construir mais duas grandes hidrelétricas na Amazônia e confirmou a
manutenção dos planos para erguer a polêmica hidrelétrica de São Luiz do
Tapajós, que alagaria aldeias e ecossistemas relevantes da terra
indígena Sawré Muybu, bem como lugares considerados sagrados pelo povo
Munduruku. Em 2016, a luta dos Munduruku pelo arquivamento dos planos de
construção dessa hidrelétrica e pela demarcação de seu território
recebeu o apoio de mais de um milhão e duzentas mil pessoas do Brasil e do mundo.
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