Ambientalistas se reúnem em ato no Congresso para denunciar pacote de
medidas ruralistas que colocam o meio ambiente e os direitos sociais em
xeque
Participantes do ato denunciaram como o meio ambiente está
sendo usado pelo governo para barganhar apoio no Congresso (© Alan
Azevedo / Greenpeace)
Face às inúmeras ameaças ambientais e sociais que o
governo Temer tem promovido como moeda de troca com o Congresso e grupos
de interesse, como a bancada ruralista, a Frente Parlamentar Ambientalista promoveu o ato #TodosPelaAmazônia na manhã desta quarta-feira (30), no Salão Verde da Câmara dos Deputados.
Os últimos meses foram marcados por uma grande quantidade de ofensivas à preservação ambiental e aos direitos sociais. Além do anúncio da extinção da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), que enfrenta muitas críticas da sociedade e da própria Justiça, o governo também apresentou medidas para enfraquecer outras áreas de proteção ambiental da Amazônia, legalizar e beneficiar a grilagem, flexibilizar o licenciamento ambiental, impedir novas demarcações de Terras Indígenas, promover o uso e registro de novos agrotóxicos e acabar com a rotulagem de alimentos transgênicos.
Vale lembrar que diversas dessas medidas abrem caminho para a
especulação fundiária da floresta e a venda de terra para estrangeiros.
O evento contou com a presença de parlamentares,
políticos, artistas e representantes de movimentos e organizações
socioambientais como SOS Mata Atlântica, WWF, Greenpeace Brasil,
Instituto Socioambiental, Uma Gota no Oceano, Avaaz, Observatório do
Clima, WRI Brasil, entre outras.
“O meio ambiente vive seu maior pesadelo. Não é
apenas uma Medida Provisória ou um decreto. É um pacote completo de
maldades”, disse Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do
Greenpeace. “Um ataque orquestrado entre governo e Congresso usa
nossas riquezas naturais como moeda barata de troca. Precisamos resistir
a isto tudo e nos unir para salvar a floresta”.
Marcio Astrini durante sua fala no ato (© Alan Azevedo / Greenpeace)
Diego Casaes, coordenador de campanhas da rede de
mobilização Avaaz, apresentou mais de 700 mil assinaturas populares
contra a decisão presidencial de acabar com a reserva nacional. “A
extinção da Renca é apenas parte de um ataque maior. Essas pessoas estão
dizendo que não vão desistir de nenhum hectare da Amazônia”, defendeu.
Para Ane Alencar, diretora de pesquisa do Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a Amazônia não é só
biodiversidade: a sociocultura da região é muito rica também. “Além
disso, a Amazônia presta um importante serviço hidrológico,
influenciando no regime de chuvas do país. Em escala global, colabora
com o clima ao compensar emissões de carbono”.
Falando nome dos povos indígenas, Daiara Tukano foi direta:
“a Amazônia somos todos nós! Precisamos de todos para defender a
floresta. Quando faltar água, quando faltar vida, nenhum dinheiro vai
salvar vocês”.
Representando os deputados da Frente Parlamentar
Ambientalista, Alessandro Molon (REDE/RJ) recebeu uma muda de ipê
simbolizando a preservação da Amazônia. “Acima de nossas diferenças,
precisamos defender o meio ambiente e agir contra esse pacote de
iniciativas gravemente ofensivas ao meio ambiente, por pressão da
bancada ruralista”.
Suspensão
Em paralelo à pressão popular, o juiz federal Rolando Valcir Spanholo suspendeu todo e qualquer ato administrativo que extinga a Renca, onde há nove áreas de preservação ambiental, sendo sete Unidades de Conservação e duas Terras Indígenas.
Segundo a decisão, áreas de proteção ambiental só
podem ser alteradas ou suprimidas por meio de "lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem
sua proteção". Qualquer medida futura que tenha como finalidade
extinguir a reserva natural ficaria também automaticamente suspensa pelo
veredito.
Para Astrini, esta é mais uma constatação de que os
retrocessos ambientais do governo Temer, além de causar inúmeros
impactos ambientais, vão levar o Brasil para uma era de insegurança
jurídica. “Espero que este seja o primeiro de muitos atos para frear os
ataques ao meio ambiente que virou uma constante no governo Temer”.
O Ministério das Minas e Energia afirmou desconhecer a
decisão. Em nota, a Advocacia-Geral da União (AGU) informa que vai
recorrer.
Precisamos #Resistir! Estamos de olho!
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