E dois para não perder a esperança na humanidade
É inegável que a questão ambiental vem ganhando cada
vez mais espaço nos debates globais sobre economia, direitos humanos e
desenvolvimento. Mas ainda não é suficiente. E nada melhor que o Dia do
Meio Ambiente para fazer o que sabemos melhor: reforçar a necessidade de
medidas ambiciosas e concretas em favor da questão ambiental. Somos
chatos mesmo. Mas pense bem: se não pegarmos no pé, é só politicagem,
fica no discurso.
Por isso listamos nove motivos para NÃO comemorar o Dia do Meio
Ambiente. Afinal, se dependermos de promessas e falsas soluções, estamos
perdidos.
1) Sustentabilidade brasileira para inglês ver
O Brasil é visto internacionalmente como um modelo a ser seguido no quesito desenvolvimento sustentável. FUEEIN, ERRADO!
Embora perante a Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas
tentarmos vender a imagem de referência na proteção das florestas,
energias renováveis e controle de emissão de gases, a realidade é bem
diferente. Cuidamos muito mal de nossas florestas. Continuamos
desmatando a prazo, com prestações de 5 mil km2 ao ano só de Amazônia.
No Cerrado são mais 6 mil km2. A madeira que sai da floresta é quase
toda ilegal. Além disso o governo dá uma mãozinha na situação ao dizer
que vai tolerar desmatamento ilegal na Amazônia por mais 15 anos – não,
você não entendeu errado, é isso que tá no papel de promessas que o
governo entregou prá ONU. Portanto, ao que parece, o governo está bem
confortável com os números atuais de desmatamento. Já em energia, o
status de investirmos em uma matriz renovável também é totalmente
controverso: as hidrelétricas causam impactos enormes e irreversíveis
nos rios, na floresta, na fauna, na flora e na vida das populações
dessas regiões. Enquanto isso, as verdadeiras renováveis, como solar,
passam longe dos planos do governo.
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O desmatamento na Amazônia é de chocar. Grandes porções de
terra, a perder de vista, são totalmente desmatadas para virar pasto de
gado ou plantação.
Quando o professor passa lição de casa ou trabalho, se o aluno perde o prazo não tem segunda chance. É assim que aprendemos na escola, não? Bom, este ano o prazo para produtores rurais registrarem suas propriedades no Cadastro Ambiental Rural (CAR – rá, pegou?) foi prorrogado pelo SEGUNDO ano seguido. O registro é um RG da propriedade: traz informações e detalhes para entender o que acontece no terreno, sendo este um instrumento que auxilia no controle, por exemplo, do desmatamento. É exatamente por isso que grandes proprietários de terra protelam o cadastro: assim ficam invisíveis aos olhos do Estado, esperando pela próxima anistia de suas irregulares. No fim, dar mais tempo não vai resolver problema nenhum – ou, depois de dois anos, ainda dá pra acreditar que eles só não se cadastraram por falta de tempo?
3) Desmatamento desenfreado do Cerrado
Menos de 48% da vegetação original do Cerrado se encontra total ou
parcialmente conservada, e, para piorar, o desmatamento vem aumentando
em grande medida nos últimos anos, sendo maior até mesmo que o da
Amazônia. A cada ano cerca de 6 mil km2 de Cerrado são destruídos por conta do avanço da agropecuária.4) Esqueceram das Áreas Protegidas
Áreas Protegidas (AP) são a maneira mais eficiente de manter a floresta em pé. Ainda mais se forem Terras Índígenas, a modalidade de proteção comprovadamente mais eficiente contra o desmatamento. No entanto, nos últimos seis anos, quase nenhuma área foi criada e algumas, inclusive, foram reduzidas. Além disso, o quadro de governança das Unidades Conservação – outra modalidade de AP – é lastimável. Segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), apenas 4% das Unidades de Conservação da Amazônia estão implementadas como deveriam.
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Com ajuda do Greenpeace, índios Ka'apor instalam
monitoramento eletrônico em sua Terra Indígena para controle de invasões
e desmatamento.
Os direitos indígenas, assegurados na Constituição Federal, nunca foram tão ameaçados pelos Três Poderes como atualmente. No Congresso tramita projetos que preveem desde a transferência aos parlamentares da demarcação de terras indígenas até mineração em suas terras e construção de hidrelétricas onde vivem povos indígenas inteiros. O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que para a terra ser do índio, lá ele deveria estar em 1988 (data da promulgação da Constituição Federal), sendo que muitos povos foram deslocados de suas terras na época da Ditadura Militar. E a cereja do bolo: o governo interino sinalizou que poderia revisar os decretos presidenciais emitidos a partir de 1º de abril deste ano, colocando 34 atos de Terras Indígenas sob risco de revogação.
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Líder do povo Munduruku. A etnia resiste contra a construção
da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, que se for feita afetará cerca
de 12 mil índios Munduruku.
O Plano de Expansão Decenal de Energia, que prevê os rumos energéticos do país para a próxima década – até 2023 – é um enorme desastre: 70% dos investimentos serão destinados para energias fósseis! Para as renováveis como eólica, solar e biomassa, serão apenas 9,2% e, para os biocombustíveis, 6,5%. Entre 2009 e 2012, somente o setor elétrico aumentou suas emissões de gás de efeito estufa em cerca 500%.
7) Acordo de Paris
“Nossa, mas o que tem de errado aqui?” Ok, esse é um ponto não totalmente ruim. De fato é preciso reconhecer a importância do maior acordo global pela mitigação das mudanças climáticas. Mas também é preciso segurar a euforia e dizer que esse acordo tem velocidade de ação e conteúdos insuficientes. Para ser mais claro, enquanto o acordo prevê meta limite de aumento da temperatura entre 1,5ºC e 2ºC, as promessas entregues pelos países, caso realizadas em sua integridade, nos levariam à um mundo até 3,5ºC mais quente. Além disso, o nível global de CO2 já ultrapassou a marca de 400 ppm (parte por milhão) na atmosfera. O que isso significa? Que já temos muito mais gás que aquece o planeta sobre nossas cabeças do que deveria. Prova disso é que mês após mês batemos recordes de clima quente, e 2016 deve ser o ano mais quente da história. Temos que fazer mais, melhor e mais rápido.
8) Mariana (MG) e Licenciamento Ambiental
A maior tragédia ambiental da nossa história, causada
pelo rompimento da barragem de rejeitos minerais da Samarco no dia 5 de
novembro de 2105, avassalou municípios e famílias inteiras, além de
tirar a vida do Rio Doce – deixando um rastro de 600km de destruição até
o Oceano Atlântico. Quase seis meses depois, governo e as empresas
fizeram um acordo onde todos se dão bem, menos as populações afetadas e a
natureza. Uma vergonha, parabéns aos envolvidos!!! Além disso, parece
que alguns políticos que convenientemente já se esqueceram dessa
tragédia estão propondo o fim do Licenciamento Ambiental no Congresso Nacional.
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Vista do distrito de Bento Rodrigues, que foi completamente destruído pela força do mar de lama.
9) Passeio à Diesel
Tramita na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei
para permitir que carros de passeio também sejam movidos à diesel, uma
das fontes de energia fóssil mais poluentes do planeta. E porque isso
agora? Um dos motivos é que as montadoras instaladas no país querem
desovar aqui os motores de carros a diesel que já não conseguem vender
em países que estão adotando medidas mais ambientalmente responsáveis,
ou que precisam abaixar seu nível de poluição, que tem reflexos severos à
saúde pública. Precisa falar mais?
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Nada melhor do que mostrar o rosto do deputado que quer
aprovar um projeto de lei desse nível, não é? Pois é este cidadão aqui.
Anote aí o nome dele: Deputado Aureo Lidio Moreira Ribeiro (SD/RJ) - (©
Antonio Silva / Câmara dos Deputados)
Agora, para dar uma relaxada, DOIS motivos para não perder a fé na humanidade
1) Moratória da SojaAmbição antiga do Greenpeace, hoje a Moratória da Soja é um dos instrumentos mais importantes no combate ao desmatamento pelo avanço da produção de soja. O acordo, que garante apenas a comercialização de soja plantada em áreas livre de desmatamento, foi renovado por tempo indeterminado em maio desse ano pelo Ministério do Meio Ambiente.
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À esquerda a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella
Teixeira, assina a renovação por tempo indeterminado da Moratória da
Soja.
A sociedade civil organizada apresentou no final do ano passado ao Congresso Nacional uma proposta de lei pelo fim do desmatamento nas florestas do País. O projeto conta com o apoio de ONGs, entidades religiosas, artistas e mais de 1,4 milhão de brasileiros – número exigido de assinaturas para poder ser aceito no parlamento. E a proposta não chegou apenas ao Congresso, mas também a grandes redes de supermercado: o Grupo Pão de Açúcar e o Walmart já assinaram o compromisso pelo Desmatamento Zero que garante o fornecimento de carne bovina livre de destruição ambiental e de violações de direitos humanos.
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