Mundurukus da Terra Indígena Sawré Muybu dão início ao mapeamento
participativo do seu território no Rio Tapajós e fazem levantamento dos
locais importantes para sua sobrevivência física e cultural.
Munduruku durante mapeamento participativo na aldeia Sawré Muybu, no Rio Tapajós (©Marizilda Cruppe/Greenpeace)
Debruçados ao redor de uma grande folha de papel em branco,
os Munduruku da Terra Indígena Sawré Muybu iniciaram, esta semana, o
mapeamento participativo do seu território no Rio Tapajós. O objetivo
dessa iniciativa é fazer um levantamento dos lugares importantes para a
sobrevivência física e cultural do povo, especialmente aqueles que estão
ameaçados pela construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós.
O mapeamento é baseado nos conhecimentos ecológicos dos
Munduruku e de suas tradições e faz parte da série de atividades que
estão sendo desenvolvidas pelos Mundurukus, na aldeia, com a
participação de ativistas do Greenpeace.
“Além de documentar o uso e sua relação com o território, a
iniciativa também busca se constituir como um instrumento político de
diálogo com a sociedade, garantindo as informações necessárias para que
esta exija do governo federal o respeito ao direito originário do povo
Munduruku sobre seu território”, explica Renata Nitta, coordenadora de
pesquisa do Greenpeace Brasil e coordenadora desse projeto.
Após um amplo processo de pactuação, as lideranças
Munduruku decidiram que os homens farão o mapeamento dos locais onde
eles desenvolvem atividades como pesca, caça e extrativismo na floresta,
enquanto as mulheres farão o levantamento das casas com seus quintais e
roças ricas em agrobiodiversidade, evidenciando os impactos que as
hidrelétricas trariam a região e ao modo de vida do povo.
Munduruku durante mapeamento participativo na aldeia Sawré Muybu, no Rio Tapajós (©Marizilda Cruppe/Greenpeace)
Hoje (23/06), por exemplo, elas vão mostrar onde coletam as
formigas saúva, registrando suas práticas e conhecimentos tradicionais
sobre esta espécie.
O antropólogo Thiago Cardoso, que faz parte do grupo de
profissionais que acompanha o trabalho, diz que com o mapeamento será
possível entender melhor as ligações entre todos os elementos da
floresta. “O Tapajós não é um vazio, existem pessoas, animais e plantas
que vivem nesse local e tudo está interligado. Não existe destruir só 7%
da floresta no território indigena, como querem fazer acreditar os
relatórios do EIA-Rima para a construção da usina hidrelétrica de São
Luiz do Tapajós, a destruição de uma parte da floresta afeta todos os
seus habitantes.”
As 43 hidrelétricas planejadas para serem construídas na
bacia do Rio Tapajós são hoje a maior ameaça para os povos que vivem ao
longo dos mais de 490 mil quilômetros quadrados da bacia. Se construída,
a maior delas, São Luiz do Tapajós alagará perto de 400 quilômetros
quadrados de floresta e uma série de outros ecossistemas importantes
para a sobrevivência dos Munduruku e de outras populações tradicionais
que habitam o vale do rio Tapajós – como lagos, pedrais, ilhas e
corredeiras.
O mapeamento se estende pelas próximas três semanas.
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.