As ameaças ao povo Ka’apor se intensificam no Maranhão e denúncia
formal com pedido de proteção aos indígenas e à seu território é
protocolada em órgãos oficiais do governo
Indígenas Ka'apor queimam madeira ilegal encontrada perto da
Terra Indígena Alto Turiaçu, no norte do Maranhão. (©Lunaé
Parracho/Greenpeace)
Após visita a campo e contato com pessoas e organizações
que apoiam o povo Ka’apor, no Maranhão, o Greenpeace protocolou
recentemente uma denúncia para os Ministérios do Meio Ambiente e
Justiça, Ibama, Ministério Público Federal e Polícia Federal, expondo as
graves ameaças que os indígenas vêm sofrendo durante as últimas
semanas.
Fazendeiros e madeireiros da região ameaçam invadir aldeias
a qualquer momento, além de impedir o trânsito dos indígenas entre os
municípios e povoados vizinhos. Incomodados com as atividades de monitoramento e proteção do território que os Ka’apor
têm realizado de forma autônoma, desde 2010, para proteger sua casa e
impedir a destruição da floresta, esses invasores intensificam a cada
dia as ameaças contra lideranças indígenas.
Na
semana passada, segundo informações de organizações que apoiam a luta
dos Ka’apor, duas lideranças indígenas foram ameaçadas de morte e
forçadas a entregar os planos e os nomes dos envolvidos com as
atividades de proteção territorial. “Os madeireiros e fazendeiros
estão aumentando a pressão e as ameaças aos indígenas porque tem certeza
de que seguirão impunes. Até hoje, depois de mais de um ano do
assassinato de Ezequiel Ka’apor, liderança da TI Alto Turiaçu, ninguém
foi acusado formalmente pelo crime”, diz Rômulo Batista, da campanha da
Amazônia do Greenpeace Brasil.
Alguns relatos indicam que as lideranças já não podem mais
circular em certas regiões e estão sem acesso aos municípios próximos
para atendimento à saúde e abastecimento de mantimentos. “O governo
precisa tomar providências urgentes para garantir a integridade física
do Povo Ka’apor, de seu território e sua cultura”, afirma Batista.
O
Brasil é o país com mais assassinatos de militantes ambientais e
direitos territoriais no mundo. Em 2015, das 185 mortes decorrentes de
conflitos no campo, 50 aconteceram no Brasil e a vasta maioria se passou
na Amazônia. Além do Maranhão, outros dois Estados tiveram casos
recentes de violência. O sargento João Luiz de Maria Pereira foi
assassinado no Pará durante operação de combate ao desmatamento
ilegal na Floresta Nacional do Jamanxim, em Novo Progresso. Já no Mato
Grosso do Sul, um indígena Guarani-Kaiowá foi morto a tiros devido a um ataque de 70 fazendeiros na Fazenda Yvu, vizinha à reserva Tey'i Kue, no município de Caarapó.
O problema da violência no campo no Brasil não é recente. O
abandono por parte do poder público de áreas que deveriam ser
protegidas tem estimulado a ação de todo o tipo de atividade ilegal na
Amazônia. Isto vem com altas doses de violência, mortes e destruição,
que acabam sendo encorajadas por constantes ataques aos direitos
indígenas que acontecem dentro do próprio Congresso.
“Se seguirmos a atual tendência de enfraquecer a legislação ambiental
e os direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais,
teremos sempre novas vítimas. Precisamos mudar esta realidade sombria e
implementar medidas como a criação de Unidades de Conservação e Terras
Indígenas” diz Batista. Ele ainda concluiu que “também é necessário ter
uma real politica de proteção terrítorial dessas áreas, que são segundo a
ciência, a maneira mais eficiente de combater o desmatamento na
Amazônia, além de serem essenciais para a sobrevivência da cultura
indígena e de outras populações tradicionais”, conclui Batista.
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