Comissão do Senado aprova projeto que acelera licenciamento ambiental
apesar da destruição causada pelo rompimento de barragem de rejeitos
minerais em Mariana (MG)
zoom
Arraial de Paracatu de Baixo, umas das comunidades ao redor
da cidade mineira de Mariana que foi devastada pela lama. Sob a camada
de barro há casas inteiras soterradas.
A decisão acontece enquanto a tragédia de Mariana (MG), causada pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco, ainda está acontecendo: a lama tóxica composta por rejeitos minerais tomou todo o Rio Doce e agora chega ao Oceano Atlântico pelo Espírito Santo. Os parlamentares da Comissão Especial votaram a favor da criação de um procedimento especial e veloz (fast-track) para licenciar obras “estratégicas e de interesse nacional”.
Conforme o texto de autoria do senador Romero Jucá
(PMDB/RR), o Poder Executivo indicará, por decreto, obras sujeitas ao
licenciamento ambiental especial. O órgão licenciador terá 60 dias para
analisar o projeto e os estudos ambientais apresentados e solicitar
esclarecimentos. Depois disso, terá mais 60 dias para decidir. Até mesmo
as audiências públicas e consultas livres deixarão de ser obrigatórias.
Com isso, o objetivo é reduzir o tempo de processo para oito meses.
“Encomendado pelo Ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, o fast-track
proposto pelo projeto de lei busca facilitar especialmente o que o
ministro chama de ‘obras estratégicas para o País’, defende Danicley de
Aguiar, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace. Segundo ele,
se o projeto for aprovado, os direitos das populações afetadas por esse
empreendimentos seriam ainda mais fragilizandos. Isso sem contar os
impactos sobre biomas frágeis como a Amazônia.
Foram sete votos favoráveis e dois contrários. O senador
Cristovam Buarque (PDT/DF) disse temer que o PL 654 fragilize ainda mais
o cuidado com o meio ambiente. “Aqui abre uma porta para que, com
qualquer ineficiência de um dos órgãos, o projeto seja aprovado mesmo
que seja nocivo ao meio ambiente”. O senador apresentou seu voto em
separado.
Para Randolfe Rodrigues (REDE/AP), o projeto torna o País
ainda mais vulnerável a desastres ambientais, como o que ocorreu no
início do mês em Mariana. O senador disse que o PL 654 vai na contramão
da história ao criar um “rito sumário para o licenciamento ambiental”.
O Greenpeace acredita que o processo de licenciamento
ambiental, se bem feito, deveria informar a população sobre a
viabilidade socioambiental desses grandes projetos. Mas acontece
justamente o contrário: o fast-track consolida o processo como
uma mera formalidade. Assim, legitima-se decisões políticas já tomadas
que interessam mais aos mesmos grupos econômicos do que ao País defende.
“A aprovação desse projeto na Comissão evidencia a força do lobby
corporativo sobre o Estado brasileiro em detrimento dos interesses
coletivos da sociedade. Isso abre um precedente perigoso para que outros
direitos consagrados pela Constituição Federal sejam atropelados e para
que tragédias como as de Mariana venham a se repetir, dada a
inviabilidade técnica de se proferir um parecer conclusivo em tão curto
espaço de tempo”, conclui Aguiar.Mesmo em caráter terminativo, que não obriga o texto passar pelo Plenário do Senado, um acordo foi feito para o projeto entrasse em pauta no Plenário com regime de urgência. Em seguida vai para as comissões e para o Plenário da Câmara dos Deputados. Caso não haja mudanças no texto, resta ao Executivo sancionar ou vetar a lei.
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