De acordo com relatos locais, madeireiros estão iniciando os incêndios
como forma de ameaça aos povos indígenas que tentam defender seus
territórios
Mapa mostra áreas protegidas do Maranhão e desmatamento (Greenpeace)
Segundo relatos vindos da região, a aldeia Juriti, na TI Caru, onde vivem os Awá, já foi atingida pelo fogo e não há apoio do Estado para tentar conter as chamas, que também já teriam atingido a Reserva Biológica do Gurupi. Os indígenas estão muito preocupados não só com a necessidade urgente de apagar o fogo, mas também com como vão reconstruir suas vidas após o incêndio, já que dependem da floresta para sobreviver. No momento não há uma estimativa da dimensão e do alcance do incêndio.
Toda essa região de áreas protegidas e terras indígenas reúne um dos últimos remanescentes florestais do Maranhão. “É urgente o envio de brigadistas a estes locais antes que o fogo se alastre ainda mais e os impactos aumentem de forma irreversível, como aconteceu na TI Arariboia recentemente. No Maranhão, o pouco que resta da floresta Amazônica encontra-se nessas áreas, e, para protegê-las, é necessário focar na coibição da atividade dos madeireiros ilegais, a maior ameaça a estes territórios e o primeiro passo para a destruição" afirma Marina Lacôrte, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.
Incêndio na Alto Turiaçu pode ser retaliação à ação de fiscalização
No início de novembro deste ano, indígenas do povo Ka’apor estiveram em Brasília para cobrar mais uma vez do governo federal melhorias na situação de proteção de seu território. Na ocasião foi realizada uma audiência com o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais). As conversas demonstraram alguns avanços e, como resultado, o órgão realizou uma ação de fiscalização na região, sobrevoando e percorrendo a área por terra. De acordo com os Ka’apor, a ação culminou na prisão do dono de uma serraria e na apreensão e queima de equipamentos, além da aplicação de multas e fechamento de serrarias. Após a saída do Ibama, no entanto, os indígenas afirmam ter sofrido retaliação por parte dos madeireiros, que voltaram a atear fogo nos arredores das aldeias. Cinco aldeias da Terra Indígena já sofrem com o impacto do fogo.
Ações dos órgãos de fiscalização são extremamente importantes para inibir a atividade ilegal de madeira, porém a presença constante do Estado na região é essencial para coibir completamente atividades ilegais dentro das áreas protegidas.
“A solução definitiva do problema passa necessariamente por uma reforma urgente e robusta no sistema de madeira, a começar pela revisão de todos os planos de manejo, para acabar com esse ciclo vicioso de destruição”, diz Lacôrte. “Enquanto não houver uma mudança sistêmica, áreas protegidas como a TI Alto Turiaçu e a TI Caru continuarão sob ataque por conta de seus valiosos recursos”, complementa ela.
Desmatamento aumenta na Amazônia
A extração ilegal de madeira é o primeiro passo para a destruição da floresta. De acordo com dados oficiais divulgados no dia 26, o desmatamento voltou a subir na Amazônia Legal. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE), os 5.831 km² desmatados este ano (o equivalente a 753 mil campos de futebol) representam um aumento de 16% na taxa anual de desmatamento referente ao período de agosto de 2014 a julho de 2015.
Além de o desmatamento em grandes áreas ter voltado a ocorrer, a degradação segue como uma grande ameaça neste cenário. O sistema falho de controle de madeira, que permite fraudes no licenciamento da atividade alimenta essa degradação e o desmatamento, além de toda a violência que os acompanha.
Os alertas de degradação confirmam este fato. A degradação florestal acumulada no período de agosto de 2014 a julho de 2015 totalizou 2.186 quilômetros quadrados, o que representou um aumento de 207% em relação ao período anterior (agosto de 2013 a julho de 2014), segundo a ONG Imazon. O último boletim, de outubro de 2015, mostra que continuamos seguindo pelo mesmo caminho. O novo período acumulado, de agosto a outubro de 2015, já aponta um aumento dos alertas em relação ao mesmo período anterior. Já o governo brasileiro não publicou os dados oficiais de degradação em 2014 e segue com uma meta extremamente despretensiosa para a redução de suas emissões via desmatamento.
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