A queda do viaduto em Belo Horizonte é mais um triste episódio em um país onde a mobilidade faz vítimas diariamente
Na frente do viaduto que desabou em Belo Horizonte, ativistas do
Greenpeace criticam o legado da mobilidade. Foto: Greenpeace/Rafael
Mota/NITRO
O viaduto que desabou em Belo Horizonte, na última semana, é uma
metáfora perfeita de como a mobilidade urbana é tratada no Brasil. Do
planejamento à execução, todas as pontas do processo estão frágeis. E
afetam vidas: se a queda da estrutura matou duas pessoas e vitimou
outras 23 em Minas Gerais, a cada dia uma mobilidade cambaleante também
está matando – literalmente ou não – milhões de brasileiros pelas
cidades.
Nesta segunda-feira, quatro ativistas mineiros do Greenpeace foram ao
local do desmoronamento. Diante dos mais de R$ 700 milhões que viraram
uma montanha de entulho, abriram uma faixa: “Este é o legado de
mobilidade”. Triste legado. E desnecessário. Quando a primeira marretada
anunciou o início das obras, o projeto já estava sob investigação do
Ministério Público Estadual, que não demorou para identificar
superfaturamento e má execução da obra.
Mesmo sob suspeita, a construção do viaduto seguiu em frente e causou
uma tragédia. E essa não foi a única. Exatamente um mês atrás, uma viga
caía da obra do monotrilho, em São Paulo, matando uma e vitimando
outras duas pessoas. Ambos os projetos estavam no planejamento de obras
de mobilidade para a Copa do Mundo. Um pacote que não vingou: para além
das falhas de execução, a falta de planejamento e a inversão de
prioridades impediram que os Estados entregassem vários projetos
prometidos, como mostra um levantamento do Greenpeace.
Apesar de decepcionante, as promessas não cumpridas para a Copa já
eram esperadas. Porque não se resolve em poucos anos um problema que é
de décadas. Para saírmos do engarrafamento em que a mobilidade se meteu,
é necessário um compromisso conjunto de todas as esferas de governo. E
permanente. Políticas públicas de longo prazo só são possíveis com
orçamento e planejamento. Atualmente, a mobilidade urbana não tem uma
coisa nem outra no país.
O período eleitoral é uma ótima oportunidade para se colocar o
assunto na mesa. Como líder do executivo, o governo federal precisa
assegurar transporte como um direito social e dedicar investimentos para
tanto, assim como o faz com saúde e educação. E mais que prover
recursos, tem de garantir que estados e municípios tenham condições
técnicas para planejar e executar seus projetos. Como problema
estrutural que se tornou, a mobilidade urbana não tem solução mágica com
pacotes bilionários que surjam eventualmente.
A base da mudança precisa ser contruída. E para já. Porque mais que
desculpas públicas, queremos compromissos concretos. Mais que viadutos,
queremos calçadas, ciclovias, ônibus e metrôs que funcionem. Queremos
vida, afinal. E ela está sendo tirada de nós todos os dias. Seja com
viadutos que desabam ou com os que são erguidos. Quando vamos além?
* O
Greenpeace agradece a moradores da área circunvizinha à obra, que
permitiram acesso ao local e a realização das fotos. Eles dizem que seus
prédios já sofreram abalos com a obra do viaduto e temem mais impactos.
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