Lei aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo proíbe uso de
máscaras em manifestações e limita nossa liberdade de expressão
Ativistas do Greenpeace usaram uma máscara com o rosto da Senadora Katia
Abreu para denunciar os ataques da bancada ruralista contra o Código
Florestal
No último dia 04, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou uma lei
que proíbe cidadãos de usarem máscaras ou qualquer outro instrumento que
oculte a face, ou dificulte ou impeça sua identificação. Com a desculpa
de que isso serviria pra coibir excessos em manifestações, a lei acaba
por criar uma situação absurda, que anula uma forma tradicional das
pessoas se manifestarem nos mais diferentes contextos – desde marchas e
protestos até festividades culturais. Se a moda pega e o texto for
realmente sancionado pelo governador Geraldo Alckmin, corremos o risco
de ter a extinção da parada das drag queens, das micaretas e carnavais
fora de época, dos foliões mascarados de Neymar e até dos transplantados
que precisam usar máscaras hospitalares ou dos trabalhadores que usam
máscaras como equipamento de segurança.
Brincadeiras à parte, as
máscaras são parte importante dos recursos lúdicos usados pelo
Greenpeace e por diversos outros grupos em seus protestos. Foram, por
exemplo, o recurso escolhido para uma atividade realizada em 2009,
quando ativistas do Greenpeace usaram uma máscara com o rosto da
Senadora Katia Abreu para denunciar os ataques da bancada ruralista
contra o Código Florestal. A Senadora processou o Greenpeace pedindo
indenização por danos morais, mas a Justiça entendeu que a atividade
representava apenas o exercício do direito à livre manifestação,
assegurado pela Constituição Brasileira.
A lei aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo é mais um
componente da escalada de cerceamento das liberdades que temos
presenciado desde junho de 2013, quando a população foi às ruas exigir a
garantia de seus direitos básicos. Na prática, uma lei assim parte do
pressuposto de que todos são suspeitos e criminosos em potencial. E o
problema não se limita a São Paulo, já que outras leis similares já
foram aprovadas em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, e outras propostas
que pretendem limitar o direito à manifestação também tramitam no
Congresso Nacional.
Esta lei é um reflexo claro da surdez dos
governantes brasileiros que, ao invés de ouvir a voz das ruas e buscar
soluções concretas, criam leis e outros instrumentos que aumentam ainda
mais a revolta da população porque são feitas simplesmente para
dificultar a vida de quem ousa protestar.
Para um país que
conquistou sua democracia recentemente, e a duras penas, a sanção a esta
lei dá um sinalização bastante ruim. Esperamos que o governador Geraldo
Alckmin observe os direitos constitucionais de livre manifestação e
expressão e vete integralmente a proposta de lei aprovada pela
Assembleia Legislativa.
Leia mais:
http://www.conectas.org/pt/acoes/justica/noticia/24188-liberdades-em-risco
No comments:
Post a Comment
Note: Only a member of this blog may post a comment.