por Thaís Herrero
Até hoje responsáveis pelo derramamento não foram apontados. Grupo de pescadores exigem justiça do governo, reparação e monitoramento ambiental
“Estamos vivendo momentos difíceis desde o derramamento de óleo nas nossas praias e comunidades. Nós, mulheres, estamos perdendo a autonomia pois não temos condições de ganhar o nosso dinheiro e de vender o marisco ou pescado. A rejeição é muito grande. E antes de termos nos recuperado do petróleo, chegou a pandemia. Estamos angustiadas sem saber como cuidar da nossa família, até porque o sistema de saúde mal chega até as comunidades tradicionais”.
Esse é o relato de Maria Vale, pescadora de Fortim (CE) e participante da Articulação Nacional das Pescadoras (ANP). Dia 30 de agosto completa-se um ano desde que as primeiras manchas de um petróleo cru e misterioso apareceram numa praia da Paraíba. Poucos meses depois, o óleo havia atingido todos os estados do Nordeste e dois do Sudeste. O maior desastre ambiental em extensão da história do Brasil contaminou praias, mangues, recifes de corais e causou danos à saúde e prejuízo econômico para a população, principalmente para quem vive da pesca e do turismo.
Como Maria Vale deixa claro, neste ano a pandemia só agravou a situação. Muitos pescadores sequer conseguiram se enquadrar para receber o auxílio emergencial. Maria e a população ainda esperam respostas do governo. Nem mesmo os responsáveis pelo derramamento foram apontados.
Diante da inação do governo e da falta de apoio, está sendo lançada a campanha “Mar de Luta – Justiça Social aos Povos das Águas Atingidos pelo Petróleo”. A iniciativa vem de movimentos sociais de pescadores artesanais e de organizações de defesa aos direitos humanos e socioambientais, e tem o apoio do Greenpeace Brasil. Seu objetivo é continuar trazendo à imprensa e à sociedade as informações sobre os impactos que as comunidades pesqueiras estão sofrendo até hoje e reivindicar reparações do governo.
Para marcar a data, será feita uma live no dia 30 de agosto no Youtube do Intervozes
. No dia seguinte, 31 de agosto, uma série de mobilizações online com postagem de imagens e um tuitaço também vão chamar atenção para a data. Você pode apoiar e participar dessas atividades. Mais informações estão nas contas da campanha do Instagram e Facebook .Entre as demandas da população está a responsabilização do Estado pela falta de respostas e de pesquisas sobre o impacto na saúde da população e sobre efeitos socioeconômicos e ambientais que o petróleo causou. A campanha também pede um processo rigoroso de avaliação e monitoramento das áreas atingidas e se opõe à abertura de novos poços de petróleo nos mares e oceanos.
“Lá em 2019, não foram tomadas medidas eficazes e nem a tempo de evitar um desastre maior, nem foi acionado um Plano de Contingência. As próprias comunidades tiveram que se organizar para retirar o petróleo das praias e mangues. Então, elas estiveram expostas a muitos riscos de saúde. E até hoje não temos pesquisas que indiquem o nível de comprometimento do pescado e das águas”, diz Ormezita Barbosa, Secretária-executiva do Conselho Pastoral dos Pescadores.
Fazem parte da Campanha Mar de Luta: Conselho Pastoral dos Pescadores, o Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP), Articulação Nacional das Pescadoras (ANP), Comissão Nacional para o Fortalecimento das Reservas Extrativistas e dos Povos Extrativistas Costeiros Marinhos (Confrem), Rede Manguemar e Núcleo de Estudos Humanidades, Mares e Rios da Universidade Federal de Pernambuco, Coletivo de Comunicação Intervozes.
Em 2019, o Greenpeace fez uma série de ações de pesquisa, monitoramento das águas e recifes de corais, além e ajudar, junto com os grupos de voluntários, a levar Equipamento de Proteção Individual (EPIs) para os grupos que estavam limpando as praias. Relembre tudo aqui no nosso blog .
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