por Caio Paganotti
Hoje (19) é comemorado o Dia da Fotografia. Vamos conhecer as histórias e as pessoas por trás das imagens.
Henri Cartier-Bresson (1908 – 2004) dizia que fotografar é colocar na mesma linha o olhar, a cabeça e o coração. Desde 1971, essa é uma forma que o Greenpeace usa para mostrar ao mundo o que acontece com o meio ambiente. Ser testemunha ocular da história não é tarefa fácil. O peso de presenciar crimes ambientais e sociais se instala no âmago de quem observa – e só começa a ser aliviado quando a injustiça é escancarada. A consciência e a indignação são antídotos para a indiferença e a apatia.
Os olhares que passam pelo Greenpeace compõem um álbum de fotos gigantesco, colocando a organização nos patamares mais altos de reconhecimento em relação ao ativismo e à proteção ambiental. Graças a profissionais e amantes da fotografia, temos imagens icônicas que eternizaram momentos infames de descaso ou situações inspiradoras de luta por um mundo melhor.
Alguns olhares experientes se foram, como o do fotógrafo luso-neerlandês Fernando Pereira, que estava a bordo do navio Rainbow Warrior em 10 de julho de 1985, na Nova Zelândia, quando a explosão de uma bomba plantada pelo serviço secreto francês levou ao fundo do mar seu olhar e seus sonhos. Ou do excepcional fotógrafo brasileiro Rodrigo Baleia, que registrou incontáveis atividades criminosas na Amazônia, despertando no mundo a coragem e a indignação necessárias para frear a destruição. A vida ficou mais triste e menos colorida quando fomos privados tão repentinamente e prematuramente de seu olhar em 2018.
Mesmo com perdas tão importantes, muitos olhares seguem atentos e incansáveis para que você também veja o que acontece em todos os cantos do planeta e se inspire a defendê-lo.
Na intenção de celebrar essas pessoas incríveis e seus olhares, neste Dia Mundial da Fotografia, convidamos você a conhecer um pouco mais das cabeças e dos corações que se alinharam aos olhares em nossas fotos. Vamos descobrir os bastidores de cada imagem? Com a palavra, mestras e mestres da fotografia.
“Era minha primeira viagem com o Greenpeace a uma terra indígena, e o povo Munduruku se preparava para uma grande assembleia para debater a Convenção 169 da OIT. Na nossa primeira manhã, às margens do rio Cururu, um afluente do Tapajós, no Pará, ao acordar, logo me deparei pela primeira vez com a luz maravilhosa que revi tantas vezes naquela região.Estava lá para filmar, mas resolvi ir até a margem do rio com a câmera fotográfica e, entre pessoas tomando banho e outras lavando roupa, estava essa mulher limpando peixes para a enorme refeição para os mais de 700 indígenas que se reuniam na aldeia Waro Apompu”. Fábio Nascimento – @fabio.nascimento
“Fiz essa foto durante a cobertura da tragédia de Brumadinho para o Greenpeace Brasil em janeiro de 2019. Eu estava filmando de drone a destruição provocada pelo rejeito de minério da Vale, que havia tomado o córrego do Feijão e destruído a vida de muitas famílias. No meio do córrego, encontrei esse carro, que foi arrastado depois que a barragem estourou. A minha primeira preocupação foi descobrir se havia alguém preso ao carro; era a manhã seguinte à tragédia e muitas pessoas estavam ainda desaparecidas. Cheguei com o drone bem próxima do veículo, mas não havia ninguém. Então, resolvi fazer a foto. A cena foi bem marcante para mim porque o rio estava muito forte e de uma cor barrenta muito densa por conta da quantidade enorme de rejeitos, e a lama tomava tudo, inundava tudo, preenchia o quadro todo da foto. O carro ali, tombado, demonstrava a força com que o rejeito tomou o rio e revirou de forma violenta tudo a sua frente, casas, objetos, vidas. A foto repercutiu internacionalmente e foi compartilhada por importantes ativistas ambientais, como o ator Leonardo DiCaprio. No dia seguinte em que a foto foi divulgada, fui contactada pelo filho do dono do carro, agradecendo o encontro do veículo e me perguntando se era possível ver pela imagem se ainda havia a carteira do pai ali dentro. O pai era um sobrevivente da tragédia. Ele escapou por pouco, abandonando o carro e fugindo para a mata”. Fernanda Ligabue – @ferligabue
“Esta foto foi tirada durante a minha segunda viagem às terras dos Munduruku, em uma campanha contra a construção de hidrelétricas no rio Tapajós. O Greenpeace havia erguido um acampamento temporário como base na aldeia Sawré Muybu, para fornecer assistência logística necessária para o trabalho dos Munduruku de auto-demarcação de suas terras. Para chegar à aldeia, era preciso percorrer o rio Tapajós por 40 minutos de voadeira. As chuvas tropicais são rotina na Amazônia nessa época do ano. É preciso estar sempre preparado para o tempo mudar instantaneamente. No meio da viagem, o céu fechou, e fomos atingidos por uma chuva torrencial, uma enxurrada que durou 20 minutos. Quando estávamos quase chegando à aldeia, a chuva parou repentinamente, dando lugar a um glorioso arco-íris duplo diretamente sobre a terra dos Munduruku. As cores eram vibrantes e hipnotizantes. Os segundos contam em momentos como este. Então, corri loucamente para minha câmera, lutando para livrá-la da capa protetora que a mantinha seca. Depois de algumas fotos, o arco-íris desvaneceu-se tão rapidamente quanto apareceu. Não sou uma pessoa muito espiritualizada. Mas, quando vi aquele arco-íris, naquele momento, fiquei extasiado e entendi isso como um sinal reconfortante de que aquelas terras eram realmente especiais e precisavam ser preservadas, mas também um sinal de que a campanha do Greenpeace seria um sucesso. E, no final, foi. As barragens foram paradas”. Todd Southgate – @todd_southgate
“A construção da usina de Belo Monte trouxe muita devastação, problemas sociais e ambientais. Durante a construção das obras, visitamos o Tabuleiro do Embaubal, onde, em uma praia de sedimentos, milhares de tartarugas vêm para desovar, e que poderia sofrer o impacto da construção da usina. Chegamos no fim da tarde para acompanhar a chegada das tracajás na praia. O céu estava cor de rosa, e eu perdia de vista o número de cabecinhas delas saindo da água. Não podíamos andar rápido nem falar alto. Andávamos nas pontas dos pés. Parecia um sonho. Acho que era um sonho. Chorei um pouco de emoção. Eu tentava trocar olhares com a equipe, mas estavam todos tão envolvidos com a maravilha que estava acontecendo que ninguém me olhava. Ficamos lá, parados, no silêncio de um tempo infinito. Até hoje, me emociono ao lembrar. Penso: como elas estão?” Carol Quintanilha – @carolquintanilha
“Acompanhar parte do trabalho de busca e salvamento executado pelo Corpo de Bombeiros em Brumadinho foi uma experiência marcante. Os riscos estavam por toda a parte. Além de contar com alta toxicidade, a lama por onde passávamos cobria áreas que poderiam ser um telhado ou áreas vazias, passíveis de afundamento. Carregar o equipamento e estar atento aos movimentos de salvamento tornam o trabalho intenso. Mas isso faz parte do que nos move. Naquele dia, só estava ali quem escolheu estar ali. Então, certo grau de risco faz parte do que nos propusemos a fazer. Essa imagem em especial evidencia a humanidade dos profissionais de salvamento, quando os protocolos não podem mais ser seguidos à risca e o nível de exposição se potencializa. Eles, contudo, não param as buscas”. Nilmar Lage – @nilmarlage
“Os três dias de sobrevoo fotografando as queimadas certamente foi a experiência mais triste que tive com o Greenpeace. Constatar a destruição da Amazônia pela ganância do ser humano é desalentador. Ao mesmo tempo, ter a oportunidade de denunciar essa tragédia para o mundo nos traz alguma esperança”. Rogério Assis – @rogerioassisfotografo
“Nessa ação, ativistas trouxeram a própria morte à Câmara Municipal de São Paulo, juntamente com uma lápide com o nome da cidade e 11 vítimas – o número médio de vítimas diárias devido a doenças causadas ou intensificadas pela combustão de motores a diesel em ônibus públicos. Foi difícil driblar os policiais e os curiosos que se aproximavam, assustados ou desconfortáveis com a ação. Foi a primeira vez que vi a morte de perto (: Essa foi a minha primeira campanha ao me mudar para São Paulo. Foi marcante colaborar com a cidade logo na minha chegada ao retornar ao Brasil depois de muitos anos morando fora do país”. Barbara Veiga – @barbaraveigaofficial
“Urucum sempre foi, para mim, a possibilidade de fotos gráficas. Tanto pela forma do fruto, como da cor que ele gera. Fotos assim sempre produzem grandes risadas porque as crianças se divertem se pintando e pintando aqueles que querem fotografar”. Valdemir Cunha – @valdemircunha
“Esses retratos foram feitos na 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, que
aconteceu há um ano, em Brasília. Ela foi um feito histórico, as
mulheres todas estavam muito felizes e o encontro com as Margaridas foi
belíssimo. A pandemia agravou a situação dos povos indígenas, lideranças
tradicionais faleceram, quase setecentos mortos, mais de vinte e cinco
mil casos, famílias vivem momentos de luto, dor e tristeza, mas as
mulheres indígenas continuam incansáveis na defesa dos direitos
indígenas. O recurso de usar tecido para improvisar um estúdio não é
nada inédito. O marcante da produção foi que nos juntamos Pamela Gopi,
Carol Marçal, Patrícia Bonilha e eu para convidarmos para a foto o maior
número de mulheres possível, pois sabíamos a importância daquele
momento. O maior desafio foi levar as mulheres até o nosso estúdio
improvisado, que mudava de lugar a medida em que a luz também mudava.
Eram tantos eventos importantes acontecendo ao mesmo tempo que conseguir
cinco minutos para que elas deixassem suas obrigações, se deslocassem e
posassem para a foto era uma tarefa olímpica.
A grande questão
técnica foi manter uma unidade de luz, mesmo tendo que fotografar em
diferentes horários do dia, além de lidar com o vento em alguns locais
em que montamos o estúdio. E, o que pode parecer simples mas não é, não
errar os nomes das fotografadas. Fizemos questão de identificar uma a
uma das oitenta e quatro mulheres que fotografamos, pois sempre me
incomoda quando vejo fotos de mulheres publicadas sem os seus nomes”.
Marizilda Cruppe – @maricruppe
“Em setembro de 2019, acompanhei um projeto do Greenpeace de instalação de freezers movidos a energia solar no Bailique, um arquipélago remoto formado por oito ilhas na foz do rio Amazonas, a cerca de 14 horas de barco de Macapá. Depois de um dia de trabalho, enquanto me dirigia ao rio para tomar banho, percebi de longe a grande brincadeira que por lá acontecia. Deixei a toalha de lado e fui buscar minha câmera. Quando dei por mim, já estava dentro da água, registrando um grande campeonato improvisado de saltos ornamentais. Para os povos indígenas e comunidades ribeirinhas, a importância dos rios vai além do sustento e da locomoção. A relação com a água começa cedo, através das mais simples brincadeiras”. Diego Baravelli – @diego_baravelli
“Ainda vai fazer um ano que essas imagens foram tiradas. Desde outubro de 2019, nossas praias do Nordeste nunca mais foram as mesmas. Foram semanas de muita angústia, dúvida e medo por não saber o que ainda estava por vir. Documentamos, guardamos histórias, pessoas e momentos que vão ficar pra sempre comigo”. Mariana Oliveira – @mrianaoliveira
“Estávamos entrando em uma linha de puxada de madeira, com um terreno bem ruim, à procura de um pátio de toras, ou mesmo de máquinas, quando olhei pela janela lateral do carro e vi esse macaco que parecia espantado com a destruição em seu habitat. É triste pensar que tantas vidas sucumbem por conta de uma ganância monstruosa”. Bruno Kelly – @brunokelly_photo
“Durante 15 dias, ficamos juntos com o povo Munduruku para que eles conseguissem a demarcação do seu território e impedissem a construção de barragens na região do rio Tapajós, que afetariam suas vidas para sempre na região. Foi uma experiência muito intensa e de grande relação com a comunidade”. Otávio Almeida – @otavion
“Essa foto é curiosa. A mancha de sangue seguindo o rosto do indígena que acompanhava o ato – nem eu esperava que fosse tanta tinta, achava que fosse uma linha ou uma marca em algum ponto. Quando soltaram a tinta, descendo pela Esplanada dos Ministérios, deixando um rastro de vermelho, passou na minha frente esse indígena com o rosto coberto de vermelho. Pronto para a guerra, para defender seus costumes, sua tribo e sua história. Vi o grande impacto visual que esse ato criou, mostrando o sofrimento dos povos indígenas. Esse protesto foi durante o Acampamento Terra Livre, que acontece todo ano em Brasília. Nesse ano, o ato dizia ‘chega de genocídio indígena – demarcação já’.” Adriano Machado – @adrianofoto
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