Relatório científico atesta que a emergência climática também está afetando nossos oceanos. Mesmo assim, ainda há esperança! Temos em mãos uma oportunidade única para ajudá-los a se recuperar e prosperar Nesta quarta-feira (25), o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgou um relatório especial contendo claras evidências científicas que confirmam nossos piores temores: a crise climática é também uma crise dos oceanos.
Elaborado por mais de 100 cientistas especialistas em clima, o relatório contém dados sobre os impactos da emergência climática nos oceanos e na criosfera (partes de água congelada do planeta).
As estimativas são alarmantes: se a temperatura do planeta aumentar em mais de 3°C, até o ano de 2100, o nível do mar vai subir até um metro, forçando a retirada de milhões de pessoas de áreas costeiras.
Além disso, os cientistas concluíram que, mesmo se for possível frear a velocidade do aquecimento global e a temperatura média do planeta subir no máximo 1,5°C, vamos perder até 90% dos corais que vivem nas áreas mais quentes dos oceanos.
Foto da superfície do mar, com golfinhos cabeça-de-melão nadando em grupo, juntos na mesma direção
Golfinhos cabeça-de-melão nadam livremente na região dos Corais da Amazônia © Pierre Baelen / Greenpeace
Por que salvar os oceanos é importante?
Porque a vida marinha pode nos ajudar. Ela absorve e estoca carbono em locais remotos do oceano. Plantas de áreas costeiras, como as dos manguezais e das restingas, estocam carbono no solo sedimentado subaquático. A cadeia alimentar da fauna marinha também acumula o carbono nos corpos dos animais, e depois que eles morrem, a maior parte desse carbono vai parar nas profundezas do leito marinho. É vital que protejamos as áreas onde o carbono é estocado e as áreas de oceano aberto, ou a crise climática vai piorar.
Oil Spill in Karawang, West Java. © Jurnasyanto Sukarno / Greenpeace
Vazamento de óleo provocado pela empresa estatal de óleo e gás Pertamina em área de mangue em Karawang, na ilha de Java, Indonésia © Jurnasyanto Sukarno / Greenpeace
Além das ameaças da emergência climática divulgadas pelo relatório do IPCC, o contínuo impacto das atividades humanas destrutivas, como pesca industrial, exploração de petróleo no mar, perfurações para extração de gás e poluição por plástico estão causando mais devastação, afetando a capacidade de nossos oceanos de mitigar a emergência climática.
E a ameaça do petróleo vai além das suas contribuições para as emissões que agravam as mudanças climáticas. Enquanto um derramamento de petróleo pode causar danos irreversíveis aos ecossistemas, empresas como a britânica BP querem explorar ainda mais petróleo e em áreas extremamente sensíveis do ponto de vista socioambiental. A BP é a empresa que quer perfurar perto do sistema recifal conhecido como Corais da Amazônia – o Greenpeace vem fazendo uma campanha há quase três anos para impedir que isso aconteça.
Neste exato momento, o navio Esperanza do Greenpeace está na Guiana Francesa, que faz fronteira com o Amapá, no norte do Brasil, documentando a biodiversidade e megafauna da região, assim como mapeando novas áreas onde há recifes – em 2018, o Greenpeace descobriu que os Corais da Amazônia estão presentes também na Guiana Francesa. Agora em 2019, cientistas franceses a bordo do nosso navio puderam confirmar assuntos que vinham estudando, por exemplo, que a região é área de reprodução de baleias Jubarte e área de alimentação de outras espécies de baleias e golfinhos.
First HD Photo of Corals in the Amazon Reef. © Alexis Rosenfeld
Esta é a primeira foto em alta resolução dos Corais da Amazônia, a 100 metros de profundidade © Alexis Rosenfeld
Ainda que o relatório traga projeções preocupantes, felizmente temos uma oportunidade de proteger os oceanos. Neste momento, governos estão na ONU negociando um Tratado Global de Oceanos. Se houver a assinatura de um tratado forte e consistente, ele pode abrir os caminhos para a criação de uma rede de santuários marinhos, colocando no mínimo 30% dos nossos oceanos bem longe das mãos nefastas da indústria e outras atividades exploratórias da humanidade, até o ano de 2030.
Essa ampla proteção terá um impacto profundo na saúde dos oceanos, ajudando a vida marinha a se recuperar das pressões do ser humano e a prosperar com liberdade. Oceanos saudáveis reduzirão o impacto das mudanças climáticas e darão suporte para a vida no planeta Terra.
Cardume fotografado embaixo da água; peixes são da mesma espécie e mesma cor e nadam em diferentes sentidos
Cardume fotografado na região dos Corais da Amazônia, próxima à costa do Amapá © Pierre Baelen / Greenpeace
O relatório de hoje é um chamado para o despertar desses governos que continuam caminhando feito zumbis em meio à crise climática global. Líderes políticos e econômicos precisam focar nas raízes dos problemas dos oceanos. É preciso acelerar a transição de uma matriz energética baseada principalmente em combustíveis fósseis para uma 100% limpa e renovável.
Navio Esperanza, verde com desenho da pomba da paz e cores do arco-íris, sobre o oceano azul, céu azul ao fundo
O navio Esperanza, do Greenpeace, que levou cientistas e mergulhadores para pesquisar sobre os Corais da Amazônia, no norte do Brasil © Pierre Baelen / Greenpeace
Nunca houve uma época tão propícia para exigirmos uma ação decisiva dos maiores líderes mundiais. Junte-se a quase duas milhões de pessoas ao redor do mundo que estão pedindo por um Tratado Global dos Oceanos que seja justo para a natureza. Se nós cuidarmos dos oceanos, eles irão cuidar de nós!