Após denúncia do Greenpeace, a britânica Jewson congelou vendas de
madeira amazônica e prometeu investigar origem de seus produtos
Extração madeireira no estado do Pará (©Greenpeace/Marizilda Cruppe)
A megaempresa britânica Jewson, especializada em vendas de madeira e
materiais de construção, anunciou que vai retirar temporariamente toda a
madeira de origem amazônica de suas mais de 600 lojas na Inglaterra,
sobretudo os deques feitos à base de Ipê. O anúncio se deu após denúncia
do Greenpeace sobre a contaminação do mercado de madeira da Amazônia,
região que sofre com altos índices de ilegalidade nas áreas de extração
madeireira.
Segundo nota da própria Jewson,
emitida em conjunto com sua fornecedora, International Timber, são
exigidos das empresas brasileiras somente os documentos oficiais de
movimentação de madeira (DOF-GF3), apontados pelo Greenpeace como
insuficientes para garantir origem legal da madeira. Após as denúncias, a
empresa britânica prometeu auditar sua cadeia para conhecer a origem de
seus produtos independentemente da documentação oficial, e contratou
especialistas no Brasil.
A Jewson compra madeira da International Timber (ambas pertencentes
ao grupo Saint Gobain) que, segundo a própria Jewson, tem como
fornecedores no Brasil as empresas Solimad Madeiras e Condor Florestas.
Estas últimas são exportadoras de madeira baseadas no Estado de
Rondônia, e já receberam multas do IBAMA de mais de R$ 5 milhões por
desmatamento, extração ilegal de madeira, lavagem de dinheiro e
falsificação de documentação oficial.
“O mercado internacional está preocupado, e começa a tomar medidas
contra a madeira ilegal. Enquanto isso, no Brasil, mesmo após as
denúncias do Greenpeace sobre o descontrole do setor madeireiro, nada
foi feito. Não dá para os governos estaduais e federal fingirem que está
tudo bem. Já passou da hora de agir, começando pela revisão dos planos
de manejo na Amazônia”, defendeu Marina Lacôrte, da campanha da Amazônia
do Greenpeace.
Em maio, o Greenpeace lançou um relatório sobre a atual situação da
ilegalidade no mercado madeireiro na Amazônia, usando como exemplo casos
de planos de manejo com indícios de fraude no Estado do Pará. A
denúncia foi feita no Brasil e em oito países que compram madeira
amazônica.
Mais de 80 mil apoiadores da campanha na Inglaterra pediram que a
Jewson suspendesse o comércio de madeira amazônica até que pudesse
garantir a origem legal dos produtos. A empresa negou ilegalidades com
nota divulgada no dia 16 de maio, mas assumiu que deve buscar saber a
origem de seus produtos.
O governo britânico também iniciou uma investigação sobre a Jewson, segundo informou o National Masurament Office
– NMO, responsável por implementar a EUTR, a lei que regulamenta o
mercado madeireiro na União Europeia (European Union Timber Regulation).
Editada em março de 2013, a EUTR afirma que os importadores devem ser
prudentes e tomar medidas necessárias para evitar a contaminação do
mercado da União Europeia com madeira ilegal. Porém, cada país deve
implementá-la individualmente.
A campanha pelo mundo
Na França, um carregamento de maçaranduba com madeira suspeita de ser
ilegal chegou ao porto de Le Havre, na França, no último dia 10 de
junho. Adquirido da empresa Rancho da Cabocla pelo grupo Belga Saelens,
ele é proveniente do porto de Belém, no Pará, estado em que 78% das
áreas de exploração madeireira são consideradas ilegais.
A madeireira Rancho da Cabocla apresenta um histórico de ilegalidades
no setor madeireiro e acumulou uma série de multas por extração ilegal
de madeira e seu comércio, e também por falsificação de informações. A
Saelens deveria saber que a compra de madeira nessas condições merece
mais atenção do que somente a apresentação de papéis oficiais.
O Greenpeace pediu às autoridades belgas para efetuar os controles
previstos na EUTR e, se necessário, aplicar as devidas sanções. Já na
França, a EUTR ainda não foi votada, o que significa que, até que a
França aprove e publique seu regulamento, muita floresta ainda poderá
ser destruída.
Autoridades competentes e empresas importadoras de outros países
europeus também estão demonstrando preocupação com a situação da madeira
amazônica brasileira. A Espanha classificou a madeira da Amazônia como
de alto risco, enquanto na Itália o ministro italiano de Agricultura e
Florestas, Maurizio Martina, anunciou a aprovação de decreto que
regulamenta a aplicação da legislação europeia de combate à madeira
ilegal.
O único que parece não se preocupar de fato é o governo brasileiro,
cúmplice dessa situação, e que até agora não se pronunciou sobre as
denúncias do Greenpeace. Enquanto o governo segue calado, a floresta
amazônica continua sendo predatória e ilegalmente destruída e vendida
aos pedaços, com papel oficial e tudo.
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