Leo Lanna
O Brasil possui mais de 250 espécies diferentes de louva-deus, a maior diversidade desses insetos no mundo! O pesquisador contemplado pelo programa de incentivo à pesquisa do Greenpeace Brasil vai compartilhar as suas experiências em busca desses pequenos seres nas profundezas das florestas brasileiras. Acompanhe!
À noite, longe de nossos olhares, a floresta desperta. Já andou pelas matas sob a Lua e as estrelas? As florestas tropicais abrigam a mais rica biodiversidade do planeta. São milhares de seres deslumbrantes coexistindo em redes ecológicas intrincadas e misteriosas. E no Brasil temos duas das florestas mais fantásticas e ameaçadas do mundo: Amazônia e Mata Atlântica.
Seus diversos ecossistemas, de praias arenosas a montanhas magníficas, estão repletos de espécies ainda pouco conhecidas, principalmente quando falamos dos insetos. Esses pequenos animais representam a maior diversidade do planeta e, ainda assim, há muito a se descobrir. Entre eles está um inseto pequeno e poderoso, que observa a todos com seus grandes olhos de caçador: o louva-a-deus. Ele adota muitas formas camufladas e complexas, entre galhos, folhas, líquens e flores.
Foi com o intuito de desvendar os segredos das espécies de louva-a-deus em florestas tropicais que fundei, em 2015, o Projeto Mantis
, uma organização independente que promove ciência contemporânea, conservação e conhecimento compartilhado. Mantis vem do grego “profeta” e era como os antigos gregos chamavam o louva-a-deus, por considerá-lo um animal capaz de mostrar o caminho a algo (ou alguém) que foi perdido. Desse nome deriva o termo científico que nomeia o grupo, Mantodea. Para nós o louva-a-deus se tornou um guia, nossa bandeira, símbolo da beleza e diversidade encontradas na natureza.
Os louva-a-deus são insetos inofensivos e carismáticos. Sabiam que o Brasil possui a maior diversidade deles no mundo? São mais de 250 espécies diferentes, e muito mais a se descobrir! Há louva-a-deus pequeninos como uma formiga, outros gigantes como a palma da mão, entre verdes vívidos, marrons, laranjas e infinitos tons de camuflagem. Assim, realizamos expedições em busca do extraordinário das florestas, imergindo nas noites tropicais apenas com lanternas e câmeras, buscando esses seres incríveis. É à noite que a mata se torna ainda mais vibrante. Sons, cores e formas surpreendem qualquer um.
Com nossas luzes, revelamos a beleza em fotografias e palavras por meio de um olhar científico e artístico sobre a floresta. Cada noite é única, mágica, nos lembrando sempre que as florestas vivas são nosso maior tesouro. Vemos de perto tamanha riqueza ameaçada por políticas de uso indiscriminado de agrotóxicos e queimada das florestas, opressão às comunidades locais e sucateamento da ciência e órgãos ambientais. Desafios que buscamos superar mostrando de perto o valor de nossa incrível biodiversidade.
Em cinco anos de trabalho, já viajamos a locais lendários como o Rio Fervente da Amazônia, no Peru, dormimos sob as estrelas nas montanhas do Desengano e atravessamos costões à beira-mar na Ilha Grande, sempre em busca dos louva-a-deus. Cada espécime que coletamos para realizar a pesquisa é criado com carinho até sua morte natural, alguns inclusive se tornando mascotes, vivendo conosco por quase dois anos. Assim, temos compartilhado o fantástico micro-mundo dos insetos e levantado debates sobre sua importância e a urgência de mantermos as florestas em pé.
Também descobrimos espécies novas e muitos comportamentos – esse ano mesmo publicamos a descoberta
de um louva-a-deus se alimentando de uma substância vegetal, algo nunca antes registrado no mundo. Até então, acreditava-se que os louva-a-deus eram estritamente carnívoros, se alimentando de outros animais menores, como pequenos insetos. Certamente é a dieta preferida deles, mas talvez algumas espécies precisam buscar fontes complementares, mostrando que estamos longe de compreender esses insetos por completo, principalmente suas inter-relações com o ambiente.
Nossa equipe atual é formada por dois biólogos, eu e João Herculano, e um designer, Lvcas Fiat. Cada um de nós traz vivências e experiências diferentes, que convergem em um trabalho riquíssimo imerso em ciência, arte e comunicação. Entre expedições, escritório e laboratório, buscamos produzir conteúdo acessível a todos e é com grande felicidade que agora estabelecemos uma parceria com o Greenpeace Brasil para compartilhar as descobertas e vivências das nossas expedições passadas e futuras às florestas brasileiras.
O trabalho faz parte de meu mestrado em Zoologia pela Universidade Federal do Pará e Museu Paraense Emílio Goeldi, sob orientação do grande herpetólogo Pedro Peloso, e só é possível graças à bolsa concedida pelo Greenpeace Brasil por meio do programa “Tatiana de Carvalho de Incentivo à Pesquisa e Conservação da Biodiversidade na Amazônia”.
Compartilharemos imagens e vídeos do dia-a-dia da pesquisa em campo ao deslumbre da Amazônia noturna. Um tempo de descobertas, dando voz aos seres da floresta, contribuindo com a ciência brasileira e lembrando sempre da urgência em proteger a Amazônia.
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