Thursday, June 27, 2019

E se a Amazônia também desaparecesse?

por Sigrid Deters

A famosa escultura “I amsterdam” se transformou em uma mensagem contra o desmatamento da Amazônia e de apoio aos povos indígenas. © Olivier Truyman / Greenpeace
A escultura “I amsterdam” tornou-se um dos lugares mais fotografados da Europa. Por 14 anos, ela ficou instalada na principal praça da capital holandesa, representando, através da mensagem “Eu sou Amsterdã”, o amor que seu habitantes têm pela cidade. No final de 2018, moradores e turistas ficaram chocados com a remoção das icônicas letras da Praça dos Museus, deixando aquele ponto turístico sem a sua principal atração.
Enquanto muitas pessoas pediam o retorno da escultura para o seu local de origem, um outro importante ícone mundial, essencial para a preservação da vida no planeta, estava desaparecendo rapidamente, bem diante dos nossos olhos: a Amazônia.
Diante da comoção causada pela sua retirada e da simbologia que aquela escultura revelou, o “I amsterdam” se transformou em um instrumento para levar a mensagem contra o desmatamento da Amazônia e o apoio aos povos indígenas a uma escala mundial. Na manhã desta quarta-feira, 26 de junho, a capital holandesa acordou com a escultura “I amazônia”, na mesma Praça dos Museus. A mensagem “Eu sou Amazônia” pretende estimular uma identificação das pessoas com a maior floresta tropical do mundo. Ao mesmo tempo, pretende evidenciar que a Amazônia está sendo drasticamente destruída e que os seus povos têm sido assassinados, ameaçados e criminalizados justamente por lutarem para manter a Amazônia viva.
Garantir aos povos indígenas o cumprimento do direito constitucional aos seus territórios tradicionais e à proteção deles significa garantir a preservação da floresta e de toda a biodiversidade destas áreas. “I amazônia” é uma expressão de solidariedade aos povos da floresta e aos enfrentamentos que fazem às grandes corporações, que desmatam, poluem e esgotam seus recursos irresponsavelmente.
O atual governo prometeu intensificar ainda mais a exploração desenfreada da Amazônia para dar lugar à agricultura industrial, pecuária, mineração e extração de madeira. A expansão destas atividades está diretamente relacionada à violência contra as comunidades locais e à invasão e apropriação ilegal de seus territórios. Com o início do governo Bolsonaro, várias denúncias de invasões em terras indígenas foram publicadas pela mídia brasileira, como reflexo direto do apoio do presidente aos grupos ruralistas e aos seus interesses.
Abrir ainda mais a Amazônia para uma ampla e irrestrita exploração pode até parecer um avanço econômico para alguns grupos, porém representa um enorme risco para o futuro da floresta e de todo o planeta. Os povos indígenas e as comunidades tradicionais são os que mais sofrem com a destruição da floresta, ao serem expulsos de suas terras e terem suas vidas ameaçadas. A Amazônia tem um papel fundamental para a manutenção do equilíbrio climático. Quanto mais desmatamos, mais sentimos as mudanças no clima e as suas consequências em todo o mundo. Todos nós pagaremos o preço dessa destruição.
Se as milhões de pessoas que fotografaram a escultura “I amsterdam” também espalharem a mensagem “Eu sou Amazônia” – que, na realidade significa “Nós todos somos Amazônia” – teríamos uma gigantesca expressão mundial de solidariedade aos Guardiões da Floresta e à necessidade de protegê-la e, consequentemente, de mantermos o equilíbrio do clima no planeta. Não queremos lembrar da Amazônia como algo do passado. A hora é agora! Vamos juntos reforçar que “todos somos Amazônia”. #Iamazonia
Sigrid Deters é especialista em floresta e biodiversidade e integra a equipe do Greenpeace da Holanda no projeto Todos os Olhos na Amazônia.

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