Além dos 239 agrotóxicos já liberados, há 538 novos pedidos de registro acatados pelo novo governo. Se o ritmo de liberação seguir assim, podemos encerrar 2019 com novo recorde de aprovação de agrotóxicos, superando 2018 (maior registro de aprovações até então).
A posição do governo em relação aos agrotóxicos tem sido uma afronta ao meio ambiente e uma ameaça não somente à saúde da população, como também à própria produção agrícola. É veneno que não acaba mais e um desrespeito sem tamanho à sociedade, que pede mais saúde e alimentos de verdade.
“O governo vem passando por cima da opinião pública e de órgãos de saúde, colocando em prática o Pacote do Veneno com simples canetadas. Já passamos de 200 aprovações de agrotóxicos neste ano. O país está inundado de veneno”, alerta Marina Lacôrte, da campanha de Alimentação e Agricultura do Greenpeace. “Dos novos produtos liberados nesta leva, há apenas um ativo inédito que é muito tóxico a organismos aquáticos. Já os outros produtos são variações de substâncias já aprovadas, que em nada agregam nem vão em direção a um cultivo mais sustentável. Pelo contrário, eles mantêm o sistema industrial vigente e consomem recursos que poderiam estar sendo direcionados para iniciativas melhores para nossa saúde e agricultura”.
A Ministra da Agricultura Tereza Cristina é a maior defensora do Pacote do Veneno na Câmara junto a seus aliados ruralistas. Seu argumento de que a flexibilização na liberação de novos produtos permitiria agilidade no registro de moléculas menos tóxicas tem se mostrado uma grande conversa para boi dormir, já que, dos 239 agrotóxicos liberados em 2019, 43% são altamente ou extremamente tóxicos e a maior parte deles não tem nada de novo ou mais ‘moderno’, como costuma dizer. Além disso, de todos os produtos liberados até agora, 31% não são permitidos na União Europeia.
Para Marina Lacôrte, isso é escandaloso. “É a atitude mais atrasada que um governo pode tomar. É possível produzir sem agrotóxicos, em equilíbrio com o meio ambiente e respeitando a saúde das pessoas. Porém, cada vez mais venenos são impostos ao povo brasileiro e nossa agricultura fica cada vez mais insustentável, tornando-a inviável no longo prazo”.
Se de um lado a população tem sua saúde desrespeitada, de outro tem quem se beneficie desse casamento entre o governo e o veneno. O projeto de jornalismo investigativo Unearthed revelou que várias empresas estrangeiras fizeram do Brasil um destino de substâncias químicas proibidas em seus países de origem. Entre essas empresas estão as alemãs Helm e BASF e as recentemente compradas pela chinesa ChemChina Adama e Syngenta.
Segundo a Unearthed, desde 2016, a Helm registrou nove produtos no Brasil que não são permitidos na Alemanha. Em 2019, a Helm teve aprovado um agrotóxico com diquat no país, um produto químico perigoso que foi proibido na União Europeia no ano passado depois que a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) descobriu que ela pode prejudicar o sistema hormonal humano e é ameaça para aves e mamíferos.
A Syngenta é outra que se aproveita das regras mais frouxas no Brasil, de acordo com a Unearthead. A empresa vende, por exemplo, diversos produtos contendo atrazina, um herbicida que é proibido na União Europeia desde 2003, pode causar problemas cardíacos em humanos e estragos na vida sexual de sapos machos.
Agrotóxicos proibidos também na China foram aprovados recentemente no Brasil, como o acefato. A substância, banida na Europa há quase duas décadas, sofreu restrições de uso no país asiático em 2017.
Alguns dos venenos liberados pelo governo em 2019:
2-4D – classificado como extremamente tóxico e provável carcinogênico, é um herbicida normalmente lembrado como um dos ingredientes do Agente Laranja, utilizado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Em abril, produtores do Rio Grande do Sul tiveram perdas estimadas em R$ 100 milhões por conta do uso da substância.Acefato e Atrazina – banidos na Europa, o primeiro foi associado a danos na fertilidade masculina e o segundo é conhecido por possíveis problemas cardíacos em humanos, além de prejudicar a vida sexual de sapos machos.
Dibrometo de diquate – considerado extremamente tóxico pela Anvisa, essa substância é letal se inalada.
Fipronil – banido na Europa desde 2013, tem alta toxicidade e letalidade para as abelhas, provocando danos à sua aprendizagem e memorização.
Glifosato – agrotóxico mais usado no mundo, é classificado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) como potencialmente cancerígeno para humanos. Também é muito prejudicial às abelhas, pois altera a sua sensibilidade por açúcar e a habilidade de navegação, atrapalhando-as na busca por alimentos e no retorno à colônia.
Glufosinato de amônio – já foi associado a problemas reprodutivos em humanos.
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