Lideranças do povo Munduruku estão dando continuidade ao mapeamento de
seu território no Rio Tapajós, registrando os locais importantes para
sua sobrevivência física e cultural
Lideranças do povo Munduruku realizam mapeamento da Terra Indígena Sawré Muybu (© Greenpeace)
Qual a história que conta um mapa? O que ele revela? O que
existe em um território para além do que o olhar comum pode ver? Entre
os dias 10 e 24 de agosto, lideranças do povo Munduruku do Alto e do
Médio Tapajós percorreram o território Daje Kapap Eypi, conhecido como
Terra Indígena Sawré Muybu, para mapear e registrar os lugares
importantes para a vida do povo, destacando especialmente os locais que
estão ameaçados pela construção de hidrelétricas.
A iniciativa pretende demonstrar os impactos negativos que podem ser
causados pelas barragens previstas na região, além de fortalecer a
demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu - que está parada no Ministério
da Justiça - garantindo assim a terra e o futuro do povo Munduruku.
“A gente conhece a nossa terra, mas faltava fazer o
mapeamento com todo o conhecimento que nós temos dela, então para nós é
muito importante estar mostrando os castanhais, os animais, o rio, os
lugares importantes para nossa vida”, explica Juarez Saw Munduruku,
cacique da aldeia Sawré Muybu. “Fazer o nosso mapa vai mostrar para o
governo que nós conhecemos a nossa terra e mostrar por que não podemos
abrir mão dela”, conclui.
O mapeamento revelou a realidade do rio Tapajós e seu
entorno através do olhar dos Munduruku, registrando as histórias do
povo e mostrando os lugares onde eles pescam, caçam, fazem suas roças,
extraem produtos da floresta e onde os animais se reproduzem, garantindo
a continuidade da vida no local. Assim, eles contestam a visão do
governo, que trata a região como um enorme deserto verde a ser explorado
a qualquer custo, passando por cima dos direitos dos povos que habitam o
local.
Lideranças do povo Munduruku realizam mapeamento da Terra Indígena Sawré Muybu (© Greenpeace)
“Na maioria das vezes os mapas elaborados pelo Estado
não consideram os conhecimentos da população local e tratam a região
como se fosse um grande vazio. Assim, eles planejam projetos dentro do
território sem considerar a importância desses lugares para o povo
indígena”, explica Thiago Cardoso, antropólogo que assessorou o
mapeamento.
No entanto, para Cardoso, o Tapajós não é um vazio e a
sua destruição afetaria todos as vidas que habitam seus ecossistemas.
“Por isso, o mapa elaborado pelos Munduruku é uma forma de se contrapor à
visão do governo e dos empreendimentos hidrelétricos, minerários e de
infra-estrutura, trazendo a realidade do conhecimento indígena sobre a
diversidade ambiental e sobre seus lugares sagrados e assim valorizando e
fortalecendo a luta deste povo para proteger seu território”, conclui.
O mapeamento da Terra Indígena Sawré Muybu teve início em julho de 2016
e foi retomado agora. “Mais do que um mapa, esperamos gerar um grande
processo de debate capaz de expressar para a sociedade nacional o valor
desse território para a vida do povo Munduruku e contribuir para
aprofundar a relação deles com a terra”, afirma Danicley de Aguiar, da
Campanha da Amazônia do Greenpeace.
Lideranças do povo Munduruku realizam mapeamento da Terra Indígena Sawré Muybu (© Greenpeace)
O processo de reconhecimento da Terra Indígena Sawré
Muybu continua paralisado no Ministério da Justiça, embora todos os
prazos legais previstos para a manifestação da pasta tenham vencido em
29 de novembro de 2016. Como se vê, os planos de construção de
hidrelétricas na bacia do Tapajós e de outros projetos de infraestrutura
que ameaçam a floresta e os povos da região continuam bloqueando a
demarcação do território que deveria estar garantido aos Munduruku,
conforme prevê a Constituição Federal de 1988.
Lideranças do povo Munduruku realizam mapeamento da Terra Indígena Sawré Muybu (© Greenpeace)
O licenciamento ambiental da hidrelétrica São Luiz do
Tapajós está arquivado no momento, mas pode ressurgir caso o governo
federal consiga acelerar o licenciamento de grandes obras. Ao todo,
existem mais de 40 grandes hidrelétricas previstas ou em construção na
bacia do Tapajós.
É neste cenário que os Munduruku continuam a reforçar
suas estratégias de resistência. Como afirma Ademir Kabá Munduruku, o
mapeamento é importante porque une os Munduruku e “junta essa força para
lutar a favor da demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu. Também
fortalece a luta para impedir que empreendimentos como hidrelétricas
possam vir a acontecer”.
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