Organização entrega carta-denúncia a autoridades indicando 14 pontos de
garimpos e oito pistas de pouso clandestinos - todos dentro de unidade
de conservação no Pará
Vista aérea de atividade de mineração na Renca
Ao sobrevoar a Reserva Nacional de Cobre e seus
Associados (Renca), na divisa do Pará com o Amapá, na primeira semana de
setembro, uma equipe de investigação do Greenpeace identificou 14
garimpos e oito pistas de pouso ilegais. Uma carta-denúncia,
incluindo mapas, imagens e dados das áreas, foi entregue pela
organização aos órgãos competentes: Ministério Público Federal do Pará,
Ministério Público Estadual do Pará, Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Sustentabilidade Pará (Semas), Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM) e Polícia Federal.
Todos os garimpos clandestinos identificados estão
ativos dentro da Floresta Estadual do Paru, uma unidade de conservação,
no município de Almeirim, no Pará - local cujo plano de manejo não
permite qualquer tipo de exploração mineral. Na área de 4,7 milhões de
hectares da Renca existem hoje nove áreas protegidas: sete unidades de
conservação e duas terras indígenas.
“Sobrevoamos uma pequena parte da Renca e localizamos
todos esses pontos em uma única unidade de conservação. Quantos mais
podem existir em toda a região?”, argumenta Marcio Astrini, coordenador
de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil. “Se o governo brasileiro não
tem condições de controlar a ilegalidade atualmente, enquanto a área
está sob sua custódia, o que vai acontecer se abrir a Renca para a
exploração comercial?”, pondera.
Grandes áreas de mineração ilegal estão presentes na Renca
No documento encaminhado às autoridades, o Greenpeace
alerta também para o grande risco que o garimpo representa para a
biodiversidade e para as populações tradicionais na região. A prática
destrói, de forma rápida e desordenada, a floresta, a margem de rios e
contamina a água, o solo, animais e seres humanos com mercúrio, gerando
sequelas de longo prazo para todo o ecossistema. “Se, além de não
combater a ilegalidade, o governo abrir a área para a exploração mineral
privada, causará um efeito devastador, deixando toda a região à mercê
do desmatamento e da grilagem de terras”, analisa Marcio.
Em 23 de agosto, o governo publicou um decreto
extinguindo a Renca. Após intensa manifestação contrária da sociedade,
na semana seguinte anunciou a edição de um novo decreto, revogando a
medida anterior. Por fim, no dia 31 de agosto, o Ministério das Minas e
Energia (MME) suspendeu os efeitos do polêmico decreto por 120 dias e
prometeu realizar "um amplo debate" com a sociedade sobre o tema.
Em uma audiência pública sobre a Renca, promovida por
parlamentares na Câmara dos Deputados na semana passada, Marcio cobrou
do MME um posicionamento sobre o “amplo debate”: “Qual será o cronograma
de conversas com a população? Há audiência públicas convocadas pelo MME
no Amapá e no Pará? Quando os indígenas, principais afetados pela
decisão, serão ouvidos?”. Por enquanto, seguimos sem as respostas.
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